A indústria petrolífera e o setor elétrico brasileiro entraram em pauta na programação do X Congresso Nacional dos Engenheiros (Conse), que aconteceu em 13 e 14 de setembro, em São Paulo. O assunto foi tratado no primeiro dia do evento, dedicado ao debate sobre como retomar o desenvolvimento nacional.
Os especialistas convidados a tratar da questão, Roberto Pereira D’Araújo, diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina); Carlos Monte, coordenador técnico do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, da FNE; e Ricardo Maranhão, diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), foram unânimes em apontar a necessidade de um modelo que atenda à sociedade brasileira, e não apenas aos interesses econômicos empresariais, especialmente estrangeiros. Como salientou o coordenador da mesa e do projeto “Cresce Brasil”, diretor do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp), Fernando Palmezan, a energia é um dos insumos mais importantes à garantia do crescimento econômico.
O representante do Ilumina criticou a confusão atual do sistema elétrico brasileiro: “Ninguém consegue entender.” A situação advém, segundo ele, do setor já se encontrar totalmente privatizado e mercantilizado. “Há uma falta de transparência nas informações. E a agência reguladora, a Aneel, é totalmente falha.” Tal cenário, afirmou, gera duas vítimas, a Eletrobras e os consumidores. A primeira, discorreu, é acusada de ineficiente, e não é. “Se alguém quiser culpar alguma coisa deve se dirigir ao setor privado”, esclareceu.
Já os consumidores, prosseguiu, são impedidos de entender como funciona o sistema e como se dá a definição das tarifas. Por isso, as distorções acontecem, citando: “Em 2011, o setor residencial chegou a pagar 30 vezes mais caro do que o mercado livre (que não compra a energia das distribuidoras e tem demanda contratada maior ou igual a 500 kW).” O Brasil, explicou ele, adotou um modelo que não leva em conta que a garantia do fornecimento não vem de uma usina, mas de um sistema como um todo, criando os mercados livre e cativo (neste a energia é suprida pela distribuidora na qual a unidade consumidora está conectada). Desconsidera-se, advertiu, a integralidade que permite “levarmos energia do Sul ao Nordeste”. “Somos clientes de todas as usinas térmicas e hidráulicas. Aí inventamos um sistema que individualiza.”
D´Araújo salientou o papel fundamental da Eletrobras, que garante investimentos e oferta do insumo. O setor privado, ao contrário, “é um ‘adolescente’ que quer saber só de lucro e empréstimo subsidiado”. Por isso, questionou: “Quantas usinas o mercado livre construiu e consome? Trinta por cento da nossa energia e não contribui com nenhuma expansão. Somente o Estado pode assegurar oferta adequada e reduzir as graves desigualdades sociais entre as regiões brasileiras.”
Carlos Monte endossou a preocupação, dizendo que “a adoção desse modelo no Brasil, de consultores estrangeiros aproveitando uma vontade de inventar alguma coisa, resultou em descalabros” e que as equipes técnicas das empresas do grupo Eletrobras foram gradualmente sendo destruídas. “Criou-se um clima contra a empresa, de que é má gestora e operadora do sistema. Isso fez com que suas ações se desvalorizassem e a proposta de vendê-la por qualquer preço prosperasse.”
Monte defendeu alternativas à geração do insumo, como desenvolver usinas em colaboração com os outros países da América do Sul, principalmente Argentina, Peru e Colômbia. O consultor do “Cresce Brasil” apoia o aumento da capacidade de produção brasileira de energia eólica, que já é maior do que muitos países europeus. “Estamos hoje com cerca de 7% da nossa energia total sendo gerada a partir da usina eólica e podemos chegar a 25% com a finalização de novos parques.”
Outras frentes importantes, conforme Monte, são a energia solar, ainda iniciante e sem valores expressivos; a usina nuclear e a térmica. “Há obstáculos técnicos criados que dificultam transferir pela rede a energia solar para o centro de consumo. Por isso, ela funciona razoavelmente na produção para uso doméstico com a utilização de painéis colocados nos telhados das casas. Já a usina nuclear (Angra III) precisa ser terminada e merece ser considerada para aproveitamentos futuros. Na questão das térmicas, a única saída possível é a utilização do gás da bacia marítima de Santos.”
Petróleo e gás
Ricardo Maranhão afirmou que a retomada do desenvolvimento do País passa pela preservação e valorização do setor de petróleo e gás e da Petrobras. A petrolífera, como afirmou ele, é responsável por cerca de 60 mil empregos diretos e por mais de 1 milhão de postos indiretos nas diversas frentes de produção ligadas à área de hidrocarbonetos.
A defesa da Petrobras, conforme Maranhão, significa garantir um patrimônio imensurável nacional, que é o pré-sal, “a maior descoberta de petróleo no mundo, nos últimos 20 anos”. “Significa uma nova fronteira geológica”, completou. Os desafios para explorar esse petróleo, que está a 300km mar adentro, como descreveu ele, são enormes, mas foram superados pela capacidade tecnológica da Petrobras, que firmou parcerias com mais de 100 universidades e centros de pesquisa do País.
Em 2013, informou Maranhão, todos os poços perfurados do pré-sal tiveram 100% de acerto, um alcance quase inédito em relação a outros tipos de perfurações no mundo. “Em vez de defendermos essa grandeza, temos entreguistas na direção da empresa que passam informações falsas para a sociedade, uma delas de que a companhia estaria quebrada. Isso é mentira. Há oito anos a Petrobras mantém US$ 16 bilhões em caixa.”
A mesa do debate contou, ainda, com a presença dos presidentes dos sindicatos dos engenheiros do Pará (Senge-PA), Eugênia Von Paumgartten, e de Goiás (Senge-GO), Gerson Tertuliano; e da Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas (Abee-Nacional), José Latrônico Filho; além do diretor do Seesp, Carlos Kirchner.
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