Na etapa atual de debater os desafios ao enfrentamento da crise nacional, em seu projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, a FNE realizou atividade, em Cuiabá (MT), no dia 27 de novembro último. A iniciativa, promovida em conjunto com o Senge-MT e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia local (Crea-MT), abordou o tema “Desafios do desenvolvimento sustentável em Mato Grosso”. Entre as conclusões, a necessidade em especial de agroindustrialização para o estado sair de sua atual posição de exportador de commodities.
Apresentação cultural do grupo Incluart, que reúne jovens com e sem síndrome de Down, inaugurou o evento. O presidente da federação, Murilo Pinheiro, destacou à abertura: “Lançamos em 2006 o ‘Cresce Brasil’ e hoje realizamos, como fazemos todos os anos em quase todas as capitais, mais um seminário para discutir as questões da sociedade brasileira e debater propostas factíveis ao desenvolvimento sustentável nacional.” Ele salientou ainda a importância da “Engenharia Unida” para que haja avanços. Segundo observou, discutir essa dinâmica em relação a Mato Grosso, estado cujo “crescimento do agronegócio é ímpar”, é crucial para se alcançar tal objetivo. À frente do Senge-MT, Luiz Benedito de Lima Neto acrescentou: “Não podemos ficar com nossa economia parada. Temos um país com grande necessidade de engenheiros, que estão representados em várias áreas em nosso estado, e temos grande preocupação no sentido do crescimento. Sem isso, não temos trabalho.” Também compuseram a mesa de abertura os presidentes do Crea-MT, Juarez Samaniego, e da Nova Central Sindical-MT, Divino Braga; o deputado estadual Wilson Santos (PSDB), representando o governador de Mato Grosso, Pedro Taques; o secretário adjunto de Meio Ambiente do estado, André Luis Torres Baby; e Ubirajara Orrigo, representando o deputado estadual Emanuel Pinheiro (PR).
Trajetória
A palestra magna que seria apresentada pelo governador coube ao seu representante, Wilson Santos. Professor de História e ex-prefeito de Cuiabá, o parlamentar apresentou histórico sobre a formação de Mato Grosso e os ciclos econômicos desde o tempo do Brasil-Colônia até os dias atuais. Da caça aos índios à extração de ouro nas minas e política da Coroa portuguesa de ampliação de fronteiras, o então futuro estado se destacou ainda durante os ciclos da borracha e do açúcar e no extrativismo para erva-mate. “A partir dos anos 1960, com os trabalhos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), descobre-se uma semente de soja que, adaptada ao clima do Centro-Oeste, vai revolucionar a região. Programas de incentivo e a crise latifundiária sobretudo no Rio Grande do Sul vão atrair milhares de famílias que vêm ajudar na construção do estado.”
Dividido em 1979, como demonstrou Santos, teve em quatro décadas crescimento exponencial contínuo, na casa dos 9% a 12%, portanto, consideravelmente superior aos índices nacionais. “Aqui, tem-se data para plantar e colher, sabe-se quando começa e para de chover. Isso faz muita diferença, além da política de incentivos fiscais por parte das três esferas de governo.”
Transformar economia
Não obstante seja campeão na produção de insumos como soja, algodão, milho e girassol, como ressaltou o professor, o estado, que hoje reúne 3,3 milhões de habitantes e 141 municípios, tem participação ínfima no PIB nacional: apenas 1,7%. Ademais, tem baixos índices de desenvolvimento. “Santa Catarina corresponde a 6% do PIB. Lá estão a Perdigão, a Aurora, a Sadia, a Tigre. Eles transformam sua produção primária, industrializam. Aí está o pulo do gato, e temos que nos preparar para dar esse salto.” Santos apontou as potencialidades de Mato Grosso para tanto, representadas em cinco áreas definidas como prioritárias pelo Governo do Estado: agronegócio, energia (hídrica e solar), turismo, indústria e mineração. Quanto à primeira, salientou: “Temos condições de ampliar a produção de grãos, incorporando aos atuais 50 milhões de hectares mais 70 milhões somente recuperando áreas degradadas por pastagens, sem derrubar nenhuma árvore a mais.”
Secretário de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, Leopoldo Mendonça agregou elemento fundamental: o investimento em pesquisa, ciência, tecnologia e inovação. “Isso nos garantiu uma das melhores fibras de algodão do mundo.” O desafio agora, afirmou, é partir da posição de economia baseada em bens primários e agregar valor. “Temos que atrair indústrias e gerar tecnologia. Queremos desenvolvimento sustentável e para isso, precisamos de C&T, assim como de educação de qualidade.” Ele apresentou projetos e programas governamentais que visam assegurar esse resultado, criando ambiente de inovação, entre eles a construção de Parque Tecnológico no município de Várzea Grande. Para Paulo Kliass, assessor da Presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é preciso não perder de vista essas questões, que são estratégicas ao desenvolvimento nacional.
Concordando com essa visão, o professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Benedito Pereira apontou a estrutura fundiária extremamente concentrada do estado. “Todo o dinamismo do agronegócio se centra em latifúndios, altamente modernos, organizados e competitivos, que se inserem no cenário global de forma pró-ativa, mas deslocados da base, a agricultura familiar, deixando a maioria das pessoas à margem do processo e provocando desigualdades regionais. Isso se linca diretamente com a Lei Kandir (que prevê isenção de ICMS à exportação), que traz como consequência o retardamento da industrialização de Mato Grosso.” Também discorreram sobre a legislação o conselheiro do Tribunal de Contas local, Luiz Henrique de Lima, e o assessor de economia da Casa Civil do estado, Edisantos Amorim.