Em oficina realizada no município de Quixadá (CE), abordei algumas tendencias e desafios das eleições municipais que desempenham papel crucial na definição das políticas locais e, por extensão, nacional, vez que prefeitos e vereadores eleitos poderão influenciar, significativamente, as prioridades e o andamento das políticas públicas em curso no País.
A primeira tendência vem do ambiente polarizado na disputa das eleições, que definirá o futuro do estado e a correlação de forças nas próximas eleições gerais.
Os atuais prefeitos governaram com projetos nacionais antagônicos. Os 2 anos finais do mandato do governo de orientação política de extrema-direita e neoliberal, priorizou a desregulamentação da economia e a falta de interlocução entre os entes federados.
E, agora, com 2 anos do novo governo de orientação social, com o objetivo de reconstrução do Estado e do seu fortalecimento, maior interlocução entre os entes federados, e incentivo às políticas públicas para o cidadão mais vulnerável.
A escolha do eleitor tem 2 caminhos: fortalecer a democracia, o Estado e as iniciativas em curso à proteção social, direitos trabalhistas e melhoria dos serviços públicos. Ou enfraquecê-los e voltar o risco da agenda de desmonte do Estado e de fragilização antidemocrática.
Candidaturas
A segunda tendência, debatida com as lideranças locais, foi sobre as candidaturas. Estas eleições possuem mobilização maior de deputados e senadores.
De um lado, que beneficiou com recursos de emendas parlamentares os aliados locais. De outro lado, somado à vantagem dos candidatos com mandato — vereador e prefeito —, e/ou com experiência anterior para se reeleger aos cargos, algo que prejudicará a renovação política e alternância no poder municipal.
Novas regras
A terceira tendência será entender as novas regras eleitorais e seus efeitos nessas eleições. Dentre essas, a diminuição do número de partidos representados nas câmaras de vereadores devido aos efeitos da cláusula de barreira, fim das coligações e do novo cálculo da distribuição das cadeiras no Poder Legislativo municipal.
Isso pode levar à simplificação do cenário partidário, que certamente vai impactar a governabilidade e a formação de coalizões.
A quarta tendência esperada nestas eleições municipais será o confronto de agendas e ideias entre candidatos. Haverá, fortemente, o uso de questões controversas e polarizadoras e desinformação nas redes com uso de IA (Inteligência Artificial) para disseminar fake news, deepfake, dentre outros, para desviar o debate sobre propostas concretas para resolver os problemas reais e concretos da população.
Condições indispensáveis aos postulantes e eleitores
E quinta, foram orientações gerais para candidatos e eleitores. No primeiro caso, sobre as condições indispensáveis para os candidatos: dedicação total do pleiteante/concorrente.
Para isso, ter o apoio da família e amigos; estruturar a campanha: pessoal, financiamento, gestão, comunicação e propostas; criar redes e preparar multiplicadores da campanha; dominar as regras do jogo eleitoral e político; e conhecer os concorrentes e eleitores.
E no segundo, condições indispensáveis para os eleitores: informação sobre o histórico dos candidatos e partidos; compreender as funções do vereador e prefeito eleito; análise crítica da mídia e propaganda por meio de anúncios, notícias e debates; denunciar abusos dos partidos e candidatos sobre disseminação de desinformação, compra de votos, e seus diversos crimes eleitorais; participar ou assistir aos debates, fóruns e outras discussões sobre os candidatos; consulta a fontes diversas para decidir o voto.
Principais tendências e desafios neste pleito municipal:
1. Definirá o futuro do estado e a correlação de forças nas próximas eleições gerais;
2. O voto vai: 2.1) fortalecer o Estado e a democracia, ou 2.2) enfraquecer e voltar o risco de desmonte do Estado e ataques antidemocráticos;
3. Polarização de 2022 continua pavimentada por pautas conservadoras. A agenda positiva do governo atual x desviar o foco para questões controversas e polarizadoras;
4. Eleitor quer voto de segurança: candidatos em mandato e/ou histórico conhecido como revelou o último pleito;
5. Domínio de partidos de centro e à direita diante do cenário político atual;
6. Partidos com maiores bancadas federais que possuem mais recursos dos fundos partidário e eleitoral e com mais tempo de TV e Rádio atraem candidatos competitivos;
7. Candidatos no mandato tem vantagens em relação aos novatos e inexperientes;
8. Disputa acirrada no Nordeste entre grupos de apoio a Lula e Bolsonaro, ambos os partidos, destacaram quadros para centralizar as articulações de candidaturas e palanques;
9. Além do PT e PL se rivalizando, o PP, Republicanos e União Brasil, PSD e MDB vão travar as disputas majoritárias e proporcionais;
10. Novas lentes: apoio do Executivo versus apoio de deputados e senadores (emendas individuais, de comissão e de relator) — descolamento;
11. Parlamentares dedicados na eleição: candidaturas e licenças de mandato na Câmara e Senado;
12. Redes sociais cada vez mais fortes nas campanhas. Mas muito poluídas, o que exigirá enfrentar a desinformação e o uso de IA;
13. Candidatos devem investir em formação, análise de dados, conhecimento sobre a realidade local e relacionar com a nacional para apresentar propostas firmes ao eleitorado;
14. Definir plataforma de candidatos e apoiar nomes comprometidos com os trabalhadores; e
15. Aplicação de novas regras eleitorais nas eleições municipais.
(*) Jornalista, analista político e diretor de Documentação licenciado do Diap. É sócio-diretor da Contatos Assessoria Política.