Chega a ser prosaico (ordinário), para não dizer ridícula, a posição (revelada, ou antes até pretendida) de se festejar o manter o Brasil em “posição estável” na classificação Pisa 2022 muito embora as médias brasileiras naquela avaliação internacional sobre Educação permaneçam muito abaixo dos demais países avaliados colocando o Brasil na parte inferior do ranking (como desde sempre o foi, aliás).
Então, ficar “estável” no Pisa 2022 para o Brasil não é motivo algum para se comemorar haja vista ser muito grave que ainda (em uma das dez maiores economias do mundo) os jovens entre 15 e 16 anos tenham um aprendizado inadequado (ruim mesmo) para a correspondente idade.
O Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) é um estudo comparativo internacional (o maior que existe) realizado a cada três anos e administrado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, em francês “Organisation de Coopération et de Développement Économiques”) que avalia conhecimentos e habilidades de estudantes em três eixos básicos (Matemática, Leitura e Ciências) para produzir indicadores que permitam ajuizar discussões sobre a qualidade da Educação de forma a possibilitar (e obrigar) a instauração de políticas de melhoria constante do Ensino Básico necessário para a formação adequada dos jovens cidadãos do mundo contemporâneo.
O PISA já foi aplicado em oito edições nos anos de 2000, 2003, 2006, 2009, 2012, 2015, 2018, 2022. A cada edição o PISA focaliza (dá prioridade) a uma das três dimensões: Leitura, Matemática, Ciências. Em 2000, o foco foi em Leitura; em 2003, Matemática; em 2006, Ciências. Já em 2009 se iniciou um novo ciclo do programa e, novamente, o domínio de Leitura foi tomado como foco principal. Na edição de 2012, Matemática passou a ser o foco. O PISA 2015 considerou Ciências como dimensão principal; sendo Leitura e Matemática os domínios priorizados nas edições de 2018 e 2022 do Pisa, respectivamente.
O Pisa vinha sendo executado normalmente até 2018, mas em função da pandemia de covid-19 foi decido adiar o Pisa 2021 para 2022 e o Pisa 2024 para 2025. No Brasil, infelizmente, poucas alterações foram registradas no Pissa 2022 em relação ao Pisa de 2018. Na verdade, as médias brasileiras do Pisa 2022 foram praticamente as mesmas do Pisa 2018; sendo, necessariamente, este mesmo o grande problema: sem grandes alterações significativas, mantendo praticamente os baixos rendimentos da edição anterior.
O Brasil segue com média no Pisa 2022 inferior à média geral dos países da OCDE mesmo sendo a média de 2022 da OCDE a menor de toda série histórica iniciada em 2000 quando naquela primeira edição o Brasil ficou na última posição entre 32 países classificados.
Há muitos anos, décadas na verdade, o Brasil parece estar “brigando” para ocupar as últimas posições no Pisa da OCDE ficando evidenciado (pelos resultados obtidos) que todo esforço realizado para melhorar a Educação Básica não consegue resolver a situação deficitária instalada. Saliente-se que a avaliação no Pisa é realizada de forma comparativa envolvendo diferentes Nações pelo mundo com distintas realidades.
Frequentemente, nas distintas edições do Pisa, é mostrado que “em Leitura, os jovens brasileiros não são capazes de deduzir informações do texto na sua própria língua, não conseguem estabelecer relações entre as partes do texto e não conseguem compreender nuances da linguagem. Estudantes brasileiros não conseguem interpretar adequadamente textos (em sua língua materna) que contenham mais de dois parágrafos”.
As seguidas edições do Pisa mostram, também, que em Ciências, os estudantes do Brasil “são capazes de aplicar o pouco que sabem apenas a limitadas situações de seu cotidiano e não conseguem apresentar explicações científicas mesmo que as mesmas estejam explícitas nas evidências”.
Já em Matemática é normal constatar que os estudantes do Brasil “estão abaixo da linha básica de proficiência” sendo “capazes apenas de extrair informações relevantes de uma única fonte, não conseguem resolver problemas nos quais as quatro operações algébricas se apresentam ao mesmo tempo, não são capazes de interpretar problemas que exigem apenas deduções diretas da informação dada e não entendem percentuais, frações ou gráficos”.
Para se ter uma exemplificação da gravidade da situação há de se salientar que na edição de 2018 do Pisa, em Ciências nenhum aluno brasileiro conseguiu chegar ao topo da proficiência na área e 55% dos avaliados sequer atingiram o nível básico. O Pisa de 2018 é categórico ao afirmar que “os estudantes do Brasil estão três anos atrás dos alunos da OCDE em termos de escolarização”.
No mesmo Pisa de 2018 se evidenciou que cerca de 50% dos alunos brasileiros não atingiram o mínimo de proficiência se revelando que “estão dois anos e meio abaixo dos alunos dos países da OCDE em relação ao nível de escolarização de proficiência em Leitura”. Fato este gravíssimo dado ser um agente impeditivo para que os estudantes possam avançar nos estudos e/ou obtenham melhores oportunidades no mercado de trabalho.
Também, como conclusões do Pisa 2018, ficou evidenciado que em Matemática se tem que 68,1 % dos estudantes brasileiros ocuparam o pior nível de proficiência não possuindo sequer o nível básico. Os resultados do Pisa 2018 mostram que mais de 40% dos jovens estudantes brasileiros se encontram no nível básico de conhecimento e são incapazes de resolver questões simples e rotineiras.
A próxima edição do Pisa depois de 2018 ocorreria em 2021 quando o mundo sofria ainda as consequências da pandemia de Covid 19 e tentava mitigar os correspondentes desastrosos efeitos. Assim, apenas em 2022 foi possível a nova edição do Pisa. E o que aconteceu? O mesmo de sempre. O Brasil se manteve em “posição estável” na classificação do Pisa 2022. Praticamente, estacionário lá nas últimas posições ficou novamente o Brasil.
Ou seja, dentre 81 países participantes no Pisa 2022, com foco em Matemática, a média geral de pontos dos estudantes do Brasil foi de 397 enquanto a média dos alunos da OCDE foi de 478 pontos e a média geral dos estudantes primeiros colocados foi de 560 pontos; levando o Brasil ao 59º lugar no correspondente ranking. Sim, é claro, o Brasil vem evoluindo, mas muito lentamente e muito aquém de suas capacidades.
Em Ciências os alunos do Brasil obtiveram 403 pontos contra a média de 485 pontos dos alunos da OCDE. Em Leitura os alunos do Brasil obtiveram 410 pontos contra a média de 476 pontos dos alunos da OCDE. Em Matemática os alunos do Brasil obtiveram apenas 379 pontos, sendo a média dos alunos da OCDE igual a 472 pontos (uma gritante diferença de quase 100 pontos).
Assim sendo, na avaliação do Pisa 2022, 73% dos estudantes brasileiros não alcançaram o nível básico em Matemática o qual se considera ser o mínimo necessário para que um jovem educando possa exercer plenamente sua cidadania. Ou seja, a avaliação de 2022 do Pisa mostra que 7 em cada 10 alunos brasileiros de 15 anos não sabem resolver problemas matemáticos simples, tais como converter moedas como calcular, por exemplo, quantos reais equivalem a 2 dólares, se 1 dólar vale R$ 5,59.
Em Leitura, no Pisa 2022, ficou registrado que 50% dos alunos do Brasil tiveram baixo desempenho de forma que apenas 2% conseguiram atingiram o alto desempenho. Em síntese, gravemente, metade dos estudantes brasileiros não têm o nível básico em Leitura sendo considerados sem o mínimo para exercer a plena cidadania.
Já em Ciências, a situação revelada no Pisa 2022 é, também, preocupante, pois 55% dos estudantes brasileiros mostraram baixo desempenho tendo apenas 1% que conseguiu atingir o alto desempenho (nível 5 ou superior).
Realmente, então, é lamentável que o Brasil se mantenha em “posição estável” no Pisa 2022 e não apresente evolução significativa alguma. Absurdamente, pode-se dizer que os alunos de 15 anos do Brasil estão abaixo dos níveis ideais (ou antes aceitáveis) de proficiência em Ciências, Leitura e Matemática necessários para poderem exercer a cidadania, terem melhores condições de trabalho e viverem mais adequadamente em uma Sociedade que se desenvolve rapidamente e de forma muito complexa. Existirem alunos no Brasil que “acreditam” (realmente) que “um quilo de ferro é mais pesado que um quilo de pena”. Apenas ridículo. Mas, no Brasil, conforme provas internacionais, existem estudantes, em quantidades assustadoras, que pensam de forma descontextualizada ou mesmo errônea.
Observe-se que a OCDE é uma organização internacional que aceita os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado sendo constituída por economias mundiais de alta renda e cujo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é alto e sólido cujos membros efetivos são tomados como países desenvolvidos e ricos que têm elevado PIB (Produto Interno Bruto) per capita responsáveis por cerca de 80% do comércio mundial e dos investimentos.
A origem da OCDE se deu em 1948 quando foi instituída a OECE (Organização para a Cooperação Econômica) a qual foi criada para ajudar a administrar o “Plano Marshall” que objetivava a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial. A partir de 1961 a OECE se transformou em OCDE e hoje conta, também, com Estados não-Europeus como filiados.
A OCDE objetiva manter diálogo político efetivo para compartilhar opiniões sobre as melhores práticas a seguir. Por intermédio de programas de “enhanced engagement” (engajamento ampliado) com vistas a uma possível adesão à OCDE, em maio de 2007, o Conselho Ministerial da OCDE resolveu adotar procedimentos para fortalecer a cooperação da OCDE com o Brasil, China, Índia, Indonésia e África do Sul.
É claro, então, que os péssimos resultados atingidos pelo Brasil na sequência histórica de edições do Pisa além de contribuir, seriamente, para comprometer o futuro dos jovens do Brasil pode constituir um dos elementos impeditivos para que o Brasil se transforme em membro efetivo da OCDE, embora o Brasil siga participando ativamente das atividades da OCDE como no caso de participação no Pisa e/ou colaborando em comitês, participando de reuniões de grupos de trabalho e seminários enviando especialistas para contribuir com discussões e troca de experiências.
Todavia, a despeito dos péssimos resultados do Brasil em seguidas edições do Pisa da OCDE, não se deve deixar de observar que o mesmo Brasil faz bonito em diversos outros campos de avaliação sobre Educação mundo afora.
O Brasil, já há anos, demonstra excelência em Educação quando, seguidamente, os estudantes brasileiros arrasaram mostrando supremacia ao conquistarem medalhas, certificados de excelência e primeiros lugares em Competições Internacionais tais como: IBO (International Biology Olympiad), IChO (International Chemistry Olympiad), IJSO (International Junior Science Olympiad), IMO (International Mathematical Olympiad),IMOF (International Mathematical Olympiad Foundation), IOAA (International Olympiad on Astronomy and Astrophysics), IOI ((International Olympiad in Informatics), IPhO (International Physics Olympiad), IYPT (International Young Physicists' Tournament), OIAB (Olimpíada IberoAmericana de Biologia), OIAQ (Olimpíada IberoAmericana de Química), dentre outras.
Saliente-se, a propósito, que em algumas destas Competições Internacionais os jovens estudantes brasileiros formam equipes a serem batidas como é o caso das edições do WordlSkills (Torneio Internacional de Educação Profissional) aquela que é considerada a maior e mais importante competição de Educação Profissional do mundo (tomada, também, como a Olimpíada Internacional de Educação Técnica).
“TOP FIVE” da MELHOR EDUCAÇÃO PROFISSIONAL do planeta desde 2007 (quando foi o segundo lugar) e já o grande campeão do WordlSkills em 2015, o Brasil não apenas se distingue como o país a ser vencido no campeonato como, também, ensina para o mundo como alcançar resultados de excelência nas diferentes áreas cobertas pelo campeonato. Nas últimas edições do WordlSkills o Brasil foi 3º lugar em 2019, 2º lugar em 2017, 1° lugar em 2015, 5° lugar em 2013, 2° lugar em 2011, 3° lugar em 2009, 2° lugar em 2007. Devido à pandemia de Covid 19 a edição oficial de 2022 foi cancelada.
A 47ª edição da “WorldSkills Competition” acontecerá de 10 a 15 de setembro de 2024 em Lyon, na França. Os jovens brasileiros (sempre habilidosos) se preparam para mostrar suas competências em várias áreas técnicas e profissionais. Como há muito demonstrado, a delegação brasileira tem tudo para brilhar novamente.
Na WorldSkills 2019, realizada em Kazan (na Rússia, entre os dias 22 e 27 de agosto de 2019), o Brasil conquistou duas medalhas de ouro, cinco de prata e seis de bronze, e, também, vinte e oito certificados de excelência.
Executada a cada dois anos, em países diferentes, cada edição da WorldSkills é realizada com jovens de até 22 anos que disputam prêmios para demonstrar habilidades individuais e/ou coletivas em ocupações técnicas diversas quando se submetem a duríssimas provas com padrões internacionais de qualidade.
O Brasil demonstrou na edição de 2019 da competição que em 73% das ocupações que defendeu tem padrão de excelência de forma que de cada quatro competidores brasileiros três possuíam a referência da WorldSkills.
Na edição de 2015 do torneio, realizada em São Paulo (BR), o Brasil foi o grande campeão e em 2017, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, os jovens brasileiros conquistaram o segundo lugar. O Brasil para a edição 2024 do WorldSkills segue como o país a ser vencido.
Diante da excelência do Brasil em Educação Profissional é, então, inadmissível considerar que os jovens estudantes brasileiros de 15 anos continuem a apresentar resultados tão ruins nas avaliações do Pisa. Portanto, disseminar e “copiar” as formas eficientes que o próprio Brasil possui em Educação para todas as fases do processo Ensino-Aprendizagem do Brasil é mais que urgente.
Replique-se para todos os jovens estudantes do Brasil a expertise em Educação Profissional que o Brasil possui e que faz do Brasil uma Nação vitoriosa internacionalmente em vários Campos do Saber.
É no mínimo paradoxal que o Brasil seja Campeão em Olimpíadas Internacionais de Conhecimento sobre Matemática, Física, Química, Biologia, Informática, e/ou em outras áreas e nas edições do WordlSkills e continue disputando (“insanamente”) os últimos lugares nas edições do Pisa.
É necessário que Escolas, Colégios, Institutos, Universidades, toda Rede de Ensino do Brasil, seja no nível público ou privado, conheçam e repliquem o Modelo de Educação Brasileira que há anos está dando certo e torna seguidamente o Brasil Campeão em Educação.
* Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro consultivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) do CNPq, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC) do CNPq, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep).