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Setores sindicais discutem eventual terceira Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, para abril. A primeira aconteceu em 1981. A segunda, em 2010. A Conclat, ainda na ditadura, foi um divisor de águas do sindicalismo e posicionou o movimento na linha de frente das lutas democráticas. A nova Conclat, segundo o consultor João Guilherme Vargas Netto, pode apontar para um 1º de Maio com uma plataforma da classe trabalhadora - a ser entregue ou debatida com os candidatos à Presidência da República.


Água do sindicalismoToda história tem personagens e um dos mais importantes da Conclat é o eletricitário Hugo Perez, hoje aos 80 anos. A Agência Sindical entrevistou Hugo, que vive na Bahia.


Origem - “A partir de 1977, começamos a debater negociação coletiva. Os dirigentes não queriam mais resolver no Tribunal as campanhas salariais. Até porque nada conseguíamos além da lei, quando muito”.


Local - “Essa discussão, da qual participávamos Lula, eu, Jacó Bittar e outros dirigentes, acontecia na Federação dos Urbanitários, em São Paulo. A casa enchia cada vez mais.”


Proibido - “O regime proibia ações intersindicais, e ficou de olho. O então Delegado Regional do Trabalho, Vinícius Ferraz Torres, que era moderado, fez contato comigo e me convidou pra um curso no Ministério do Trabalho, em Brasília”.
 

Governo - “O curso, com mais 200 dirigentes, sempre terminava com uma visita ao Presidente, que, na época, era o general Geisel. Eu acabei escolhido pelos colegas pra ser o orador. Participavam da cerimônia o presidente Geisel, o general Hugo Abreu (chefe do Gabinete Militar), o ministro do Trabalho, Arnaldo Prieto e outros membros do governo”.
 

Fala - “Nos meus 10 minutos, me dirigi ao Geisel dizendo da importância das negociações coletivas, falei do custo de vida, da perda de poder aquisitivo até chegar ao que queria: que os trabalhadores tinham também o direito de fazer a nossa Conferência, pois os empresários haviam feito a deles. Geisel não mexeu um músculo do rosto. A data eu não esqueço: 7 de novembro de 1977”.
 

Força - “A partir daí, a ideia da Conclat foi ganhando força, até sua realização na Colônia de Férias dos Têxteis, na Praia Grande, com 5.036 delegados, em agosto de 1981. Era gente de todo o Brasil. Não havia acomodações e muitos dormiram na areia da praia”.
 

Imprensa - “A ideia da Conclat chegou à imprensa, Folha, Estadão e outros. O Estadão escreveu editorial em que dizia ‘o senhor Martinez Perez’... enfim, meu apelo ao Geisel obteve grande repercussão nos jornais”.
 

Agregar - “A ideia da Conferência mostrou imensa força agregadora. A Federação vivia lotada. Mas a ditadura estava de olho. Um dia, o dr. Vinícius, muito aflito, me convocou à DRT. Lá estava o linha-dura Aloísio Simões de Campos, Secretário do Trabalho do Ministério”.
 

Enquadro - “Dr. Aloísio me chamou pra Brasília, deu um tremendo chá de cadeira, mal olhou na minha cara e falou: Senhor Hugo, é bom parar com essas reuniões ilegais. Se o senhor não parar eu vou intervir na Federação. Voltei pra São Paulo e seguimos com as reuniões”.
 

Lula - “Os dirigentes linha de frente eram chamados autênticos, Um deles era o Lula, que, no comecinho de 1981, me chamou pra encontro na Prefeitura de São Bernardo, a fim de debater a Conclat. Eu era também secretário-geral do Dieese”.
 

Unidade - “A Conclat virou fator de unidade e mobilização. Até dirigentes mais acomodados se entusiasmaram. A ideia da negociação coletiva também crescia. Mas, devido à situação, a gente evitava falar em greve, embora logo mais começassem a pipocar paralisações”.
 

Conjuntura - “A força da Conclat se apoiava na necessidade de reorganização sindical, no enfrentamento do custo de vida e no combate à ditadura. Queríamos democracia e eleições. Havia um inimigo em comum”.
 

Químicos - “A reunião preparatória à Conclat aconteceu nos Químicos, na Tamandaré. Ficou muita gente do lado de fora, um comparecimento enorme. Lá se elegeram as comissões de propaganda, organização e outras. Muitos dirigentes se engajaram nas tarefas até a realização dias 21, 22 e 23 de agosto. Faltaram lugares. Teve entidade que negou alojamento”.
 

Balanço - “A Conclat agregou o movimento, estimulou as lutas das categorias, fortaleceu as ações intersindicais e reposicionou o sindicalismo na linha de frente das lutas democráticas”.
 

Expectativa - “Hoje, também, temos no governo o inimigo comum, o desemprego é alarmante, o custo de vida sobe. Mas vejo amadurecimento das direções sindicais. Podemos nos reaglutinar e extrair uma pauta unificada, com pontos básicos”.
 

Entrevista realizada pela Agência Sindical

Anexo: 2010 - João Franzin, da Agência Sindical entrevista Hugo, na 2ª Conclat

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