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Mesa-redonda debate crises atuais, desafios para a soberania, e recursos para solucioná-los durante Virada da Independência

09 10 fneRumo ao bicentenário da independência, o Brasil acumula crises: econômica, política, sanitária, ambiental e social. Mas também acumula soluções. Isso foi o que discutiu a mesa-redonda “Bicentenário da independência: crises e recursos de enfrentamento”, que abriu a Virada da Independência da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

A atividade deu início à série de atividades online planejadas para celebrar os 200 anos da Independência do Brasil. Moderada por Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação e presidente da SBPC, a mesa-redonda discutiu os problemas atuais, os desafios para nos tornarmos totalmente soberanos – e os recursos para chegarmos lá. 

Série de crises

O Brasil enfrenta hoje uma crise social, com mais de 5,5 milhões de crianças e adolescentes sem acesso a atividades educacionais, de acordo com estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). “Não há possibilidade de uma independência verdadeira sem uma população educada, que aprenda não só a ler e escrever, a ter um raciocínio matemático, mas também o que é democracia”, afirmou Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Segundo Helena Nader, vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e presidente de honra da SBPC, essa evasão também é observada no ensino superior. O número de estudantes fora da universidade subiu de 30% para 35,9% no ensino presencial e de 35% para 40% no ensino à distância entre 2019 e 2020. Os dados são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). “O ensino superior é reconhecido como um dos principais motores para o crescimento, a prosperidade e a competitividade econômica, tanto no próprio país como globalmente”, apontou.

O país também enfrenta uma séria crise ambiental, registrando recordes de desmatamento (já são contabilizados 36.226,09 km² em avisos de desmatamento somente na área da Amazônia Legal, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe). Isso leva à uma consequente crise hídrica (a maior dos últimos 91 anos) e energética. “Nós estamos esgotando os recursos naturais do nosso planeta, estamos esgotando sua capacidade de fornecer serviços ecossistêmicos para nós próprios — e isso é uma questão que a sociedade como um todo tem que discutir”, enfatizou Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente da SBPC.

A crise sanitária causada pela pandemia de covid-19 agravou esse cenário, ampliando as desigualdades sociais. Hoje, são 19 milhões de brasileiros em situação de fome (dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional – Penssan) e 14,5 milhões de famílias em situação de extrema pobreza (dados do Ministério da Cidadania). “Durante a pandemia, nós tivemos uma intensa e permanente curva de aprendizado. Nós (a ciência brasileira) produzimos testes diagnósticos, equipamentos de ventilação mecânica, oxímetros, tudo a baixo custo, e tudo a despeito dessa dureza que tem sido os cortes de verba e de bolsas. Mas essa curva de aprendizado infelizmente não resultou até esse momento numa democratização justa de todas essas descobertas”, disse Margareth Dalcolmo, professora e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 

Recursos para o enfrentamento

Apesar de todas essas crises se somarem, criando um quadro negativo do país, os pesquisadores foram unânimes ao afirmar que o Brasil tem recursos de sobra para enfrentar as adversidades — e que a ciência tem um papel fundamental para mostrar o caminho. “Um dos nossos principais papéis é deixar muito claro não só para o Estado, mas para a toda a sociedade brasileira o papel decisivo da ciência para a melhoria das condições de vida”, enfatizou Ribeiro.

Segundo Dalcolmo, a pandemia da covid-19 impôs inúmeros desafios, mas também proporcionou oportunidades para um aprendizado valioso. “Se por um lado nós sofremos muito, por outro também melhoramos nossa autoestima. Conseguimos produzir algumas coisas que fizeram a sociedade brasileira hoje reconhecer que a ciência brasileira existe”.

Os pesquisadores ainda afirmam que as adversidades só não foram ainda mais dramáticas devido à ciência — e da resistência dos cientistas e da sociedade. “Essa crise vai ser vencida. Mas ela não vai ser vencida por simples obra do acaso. Ela vai ser vencida porque é preciso que nós resistamos. E nós vamos continuar trabalhando, e não vamos perder a esperança. Também vamos nos mobilizar para fazer uma virada política, porque não podemos continuar vivendo um retrocesso tão grande”, afirmou Sergio Machado Rezende, professor titular no Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Ainda há muito trabalho pela frente, mas também há esperança. “O Brasil vai voltar a ser uma nação respeitada, soberana, como éramos, em todas as áreas”, declarou Artaxo. “E para isso nós precisamos ser independentes, precisamos de ciência, de ciência interdisciplinar, acoplada com as necessidades da população. Com isso vamos poder construir uma nação que seja minimamente sustentável, socialmente mais justa e economicamente mais equitativa entre todos nós”.

Assista à mesa-redonda completa aqui

Jornal da Ciência, por Chris Bueno

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