O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou aos líderes para que não fossem à Cúpula de Ação Climática deste ano somente discursar, mas que apresentassem tanto planos concretos para cortar emissões de gases de efeito estufa quanto estratégias para neutralizar as emissões de carbono até 2050.
Mas o que exatamente foi prometido durante a histórica Cúpula de Ação Climática 2019 que ocorreu na sede da ONU, em Nova Iorque, em 23 de setembro?
Lucrando de maneira sustentável
O setor privado teve a chance de demonstrar como pode realmente implementar uma mudança positiva, quando 87 das maiores empresas do mundo — detentoras juntas de 2,3 trilhões de dólares em valor de mercado; mais de 4,2 milhões de funcionários; e emissões anuais equivalentes a 73 usinas de carvão — se comprometeram a cumprir metas climáticas em suas operações.
A lista dessas empresas inclui marcas globalmente conhecidas, como Burberry, Danone, Ericsson, Electrolux, IKEA e Nestlé (veja a lista completa aqui). Algumas delas deram um passo além, ao se comprometer com “metas baseadas na ciência”, o que significa que os cortes de suas emissões corporativas podem ser avaliados de maneira independente.
Em seu discurso no Fórum do Setor Privado do Pacto Global da ONU, Anand Mahindra, presidente do Grupo Mahindra, um conglomerado indiano com mais de 200 mil funcionários, disse que cada vez mais líderes de negócios estão se conscientizando para o fato de que lucro e sustentabilidade caminham juntos, e de que ações contra a mudança global do clima representam também a maior oportunidade de negócios nas próximas décadas.
No setor financeiro, alguns dos maiores fundos de pensão e seguradoras, responsáveis por administrar mais de 2 trilhões de dólares em investimentos, se juntaram para formar a Aliança de Proprietários de Bens, órgão que se comprometeu a realocar seus investimentos em investimentos que sejam neutros em carbono até 2050. Os membros da Aliança já estão se engajando com as empresas em que possuem investimentos para garantir que elas “descarbonizem” seus modelos de negócios, isto é, cheguem à emissão zero de carbono.
Usufruindo da potência da natureza
Acredita-se que usar a potência da natureza seja uma das maneiras mais efetivas e imediatas de se conter a crise climática. Fortalecer ecossistemas naturais como florestas e manguezais, por exemplo, é uma das soluções: mais florestas significa maior capacidade de captura de carbono, e conservar os manguezais é uma maneira efetiva e barata de combater a erosão e as inundações costeiras, por atuarem como uma barreira natural.
A Cúpula de Ação Climática sediou o lançamento de várias iniciativas que têm como objetivo impulsionar soluções naturais, baseadas na conservação da natureza, no combate às mudanças globais do clima. Algumas dessas iniciativas foram a Campanha Global pela Natureza, que planeja conservar cerca de 30% dos territórios terrestres e oceânicos da Terra até 2030, e o Painel de Alto Nível para uma Economia do Mar Sustentável.
Limpando as Cidades
Atualmente, já é possível construir edifícios que sejam 100% neutros em emissões de carbono. A iniciativa Construções Zero Carbono para Todos promete fazer com que todas as construções — as novas e as já existentes — alcancem a marca de zero carbono até 2050, um cenário que poderia potencialmente levar 1 trilhão de dólares de investimentos a nações em desenvolvimento até 2030.
Um total de 2 mil cidades se comprometeram a considerar riscos climáticos como prioridade em suas decisões, planejamentos e investimentos. Isso inclui lançar projetos urbanos rentáveis e inteligentes para o clima, e criar mecanismos financeiros inovadores.
Combater a poluição e o congestionamento no trânsito urbano é o objetivo da Iniciativa de Ações em favor do Transporte Amigo do Clima, que pensa ações para planejar o desenvolvimento das cidades de maneira que diminua o tempo de deslocamento, substitua veículos de transporte urbano à base de combustíveis fósseis para veículos elétricos, e aumente o uso de tecnologias que sejam zero carbono.
Veja aqui a lista das muitas iniciativas anunciadas durante a Conferência do Clima 2019.
Sobre a Conferência
A Conferência do Clima focou em nove pontos de rastreamento independentes, com o objetivo de impulsionar ações mais ambiciosas contra as mudanças climáticas e acelerar ações de implementação do Acordo de Paris, firmado em 2015. São eles:
- Aprimoramento das mitigações climáticas dentre as maiores nações emissoras de carbono;
- Impulsionadores sociais e políticos, como saúde, gênero e segurança;
- Mobilização pública da juventude, que facilite a participação dos jovens nas discussões relacionadas;
- Transição energética, que inclui aumentar as fontes renováveis, a eficiência energética e o estoque;
- Transição no setor industrial, criando comprometimentos maiores dentre os setores com maiores emissores, como do aço e do cimento;
- Infraestrutura, cidades e ações locais que intensificam um comprometimento mais ambicioso com baixas emissões de carbono e infraestruturas resilientes para o clima;
- Soluções baseadas na natureza, com foco em áreas como floresta, agricultura inteligente e oceanos;
- Resiliência e adaptação, com foco em integrar riscos climáticos no âmbito das decisões e negociações públicas e privadas;
- Financiamento climático e precificação de carbono, direcionando o setor financeiro para o desenvolvimento resiliente, com baixas emissões de gases de efeito estufa.