A luta das mulheres, a voz das novas gerações nas redes sociais e o papel das profissionais universitárias é o assunto da entrevista de Gilda Almeida neste 8 de março. Contra o conservadorismo, mais consciência!
Este 8 de março é marcado por um duplo movimento na sociedade: o pensamento conservador que predomina no Congresso Nacional, impondo retrocesso aos direitos das mulheres, e a emergência de uma juventude mais combativa e consciente sobre a importância das lutas feministas. É sobre isto que a vice-presidente da CNTU, Gilda Almeida, fala em entrevista à CNTU. Por um lado, a crise repete uma característica histórica: o peso implacável sobre as condições e direitos das mulheres, por outro, há sinais da ousadia nas redes e nas ruas: a juventude aparece trazendo esperança. Nesse contexto, as profissionais universitárias têm um papel a cumprir.
A onda de conservadorismo que está marcando a vida nacional avançou, no ano passado , sobre os direitos das mulheres. Neste 8 de março, como você vê a defesa desses direitos no atual panorama político?
As mulheres estão se sentindo emparedadas e essa é uma característica de um processo de crise. Toda vez que tem crise, as mais prejudicadas são as mulheres. Com o atual conservadorismo, eu acho que a mulher é a mais atacada. Os direitos democráticos são atacados como um todo, mas, dentro destes, as mulheres são as mais prejudicadas. A gente vê o Congresso com medidas e projetos que efetivamente colocam a mulher nessa situação. Na questão da previdência, por exemplo, de se aumentar a idade para a mulher aposentar, não se coloca em nenhum momento que a mulher tem dupla e tripla jornada de trabalho. Esse é um problema sério, que não é debatido, é uma bandeira que precisamos levantar. Então, o 8 de março desse ano deve levantar bem alto a bandeira do feminismo e dos direitos das mulheres, que são as mais prejudicadas nessa crise.
Enquanto vemos esse avanço conservador, com coisas terríveis aprovadas no Congresso, parece haver, no âmbito das redes sociais e também nas ruas, um certo renascimento do feminismo pela juventude, mesmo que num caminho meio desorganizado, sem muitas ligações com instituições. Você vê um duplo movimento?
Isso é verdade. Outro dia eu li uma mensagem de uma jovem de 18 anos, ela publicou no Facebook, dizendo assim: “8 de março, Dia Internacional da Mulher, eu sou favorável ao aborto!”. Quer dizer, as jovens, hoje, são muito mais ousadas. Eu fiquei muito gratificada. Eu estive em Cuba no ano passado e ouvi o discurso de uma jovem brasileira que estava lá falando da Alca e também se colocando efetivamente em defesa da questão da mulher, do feminismo, com muita propriedade. Talvez hoje as jovens estejam se dando conta das dificuldades que elas atravessam, até porque desde 2007 estão entrando nesse processo de crise econômica mundial e percebendo que as mulheres estão sendo mais prejudicadas. Elas têm tido posicionamentos talvez mais avançados do que a gente tinha na juventude. Eu, por exemplo, na juventude, não tinha tanta clareza quanto as jovens de hoje têm em relação a essa questão dos seus direitos, do seu papel na sociedade, do seu papel enquanto ser produtivo. E que não se contrapõe ao ser social enquanto mãe, enquanto uma mulher de família, que cuida da casa também como um trabalho, o que não é demérito para ninguém. Eu tenho percebido que a juventude tem efetivamente se colocado na linha de defesa da mulher e do trabalho, como um ser social, como um ser produtivo, e isso tem sido muito interessante também.
Nessa discussão da mulher como ser produtivo do trabalho, como entra a luta da CNTU especificamente em defesa das profissionais de formação universitária das categorias que a confederação representa?
Esse é um debate que a gente deve enfrentar dentro das nossas categorias porque, aparentemente, muitas profissionais dizem mulheres que não têm problemas, mas elas têm, efetivamente. Têm problema de menor salário do que o dos homens nas suas profissões, têm problema de assédio, tanto moral quanto sexual, têm problema de dupla e tripla jornada de trabalho, só que elas não se identificam com isso. Esse é um trabalho que as mulheres da CNTU têm de fazer, de atuar para despertar nas nossas categorias essa consciência, para que essas mulheres sejam protagonistas na luta pelos direitos das mulheres. A CNTU tem cumprido esse papel, e precisa avançar cada vez mais pela organização de nossas mulheres, debatendo com elas e politizando essa questão do papel da mulher enquanto esse ser produtivo.
Rita Casaro e Rita Freire