Após o governo federal ter sido emparedado em suas próprias contradições pelas manifestações de junho, ele escolheu algumas categorias profissionais como bodes expiatórios da sua incompetência em resolver os gargalos da infraestrutura do país.
Primeiro foram os médicos. Quer o governo nos fazer crer que o problema da assistência à saúde se deve a falta de médicos e não a escassez de hospitais, equipamentos, recursos financeiros, enfim, da infraestrutura necessária para um satisfatório atendimento às demandas originadas da sociedade. É como se o problema da fome pudesse ser resolvido com a contratação de cozinheiros.
Agora, o governo centra suas baterias nos engenheiros. A imprensa tem anunciado que, por pressão dos prefeitos, o governo pensa na possibilidade de “importar” engenheiros da mesma forma que está fazendo com os médicos.
Inicialmente, é conveniente, a bem da verdade, informar que, em face da importação de médicos, diversas ações judiciais e representações estão sendo protocoladas. No caso dos engenheiros não será diferente. O governo pretende “facilitar” a entrada desses profissionais estrangeiros sem as respectivas revalidações de seus títulos acadêmicos, ou seja, quer dar a esses profissionais vantagens que os brasileiros não possuem.
Se um brasileiro tem de cursar, por exemplo, uma carga horária de 3.600 horas para se graduar em engenharia, mas um estrangeiro não, estará sendo criada um privilégio que fere frontalmente o princípio da isonomia, estabelecido no artigo 5º da Constituição Federal. E não é só. Quem exercerá a fiscalização e o controle ético desses engenheiros estrangeiros, já que não poderão se registrar no sistema Confea/Creas?
Sob o ponto de vista da responsabilidade profissional, como saber se esses profissionais estrangeiros estarão tecnicamente preparados para garantir que seus serviços sejam prestados adequadamente, uma vez inexistentes o processo regular de revalidação de seus diplomas?
Assim como no caso dos médicos, o quadro infraestrutural caótico brasileiro se deve à falta de planejamento de longo prazo, de priorização dos recursos disponíveis e, principalmente, das mazelas gerenciais que assolam os governos.
Quem sofrerá com a alquimia governamental de importação de profissionais será a população, que estará à mercê sabe-se lá de que tipo de profissional, ainda mais numa área tão sensível como a engenharia.
Ontem foram os médicos, hoje os engenheiros. Amanhã, qual categoria profissional será escolhida para justificar a incompetência governamental?
Carlos Bastos Abraham é vice-presidente da FNE
Autor: O Regional