É urgente construir uma sociedade plenamente justa e democrática, o que exige eliminar toda forma de discriminação, sobretudo a racial, triste mazela histórica nacional. Também há que se alcançar maior diversidade na engenharia, profissão ainda majoritariamente branca, embora mais da metade de população brasileira seja negra.
Passados 329 anos da morte de Zumbi dos Palmares, herói celebrado nesta quarta-feira (20/11), Dia da Consciência Negra, e 136 da abolição oficial da escravidão no Brasil, é doloroso ver o quanto ainda estão presentes as sequelas desta marca tenebrosa da história nacional.
Embora, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maioria da população brasileira seja negra, com pretos e pardos somando 55%, é gritante a desigualdade em desfavor desse contingente. Observando-se o mercado de trabalho, por exemplo, segundo boletim especial do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os negros ocupam apenas 33,7% dos cargos de direção e gerência, o que representa um em cada 48 trabalhadores. A proporção entre brancos é de 1 para 18.
Estudo do Núcleo de Estudos Raciais do Insper, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgado em agosto último, confirma a discriminação, demonstrando a disparidade de renda, com os trabalhadores negros auferindo 42% menos que os brancos, na comparação entre pessoas com a mesma faixa etária, tipo de ocupação e grau de instrução. Tal diferença tira de pretos e pardos R$ 14 bilhões.
O trabalho revela desvantagem ainda pior para as mulheres negras, que no segundo trimestre de 2024 tinham o mais baixo salário habitual real, com R$ 2.278,00 e a maior taxa de desemprego, de 7,95%. Em comparação, os homens brancos registraram R$ 4.956,00 e 3,5%, respectivamente.
Há, portanto, muito a se avançar rumo a uma sociedade justa e livre das mazelas geradas pela construção econômica do País baseada no trabalho de seres humanos escravizados. E esse caminho a percorrer se faz presente também e de forma óbvia na engenharia, profissão até hoje excessivamente branca.
Como informa reportagem do Jornal do Engenheiro deste mês, há melhorias a serem assinaladas. Entre elas, outro levantamento do Insper, a pesquisa “Tecnologia e desigualdades raciais no Brasil”, dá conta de crescimento de 14%, entre 2010 e 2022, na presença de negros nos cursos de ensino superior nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). Além disso, dados do Censo da Educação Superior indicam que o número de estudantes pretos e pardos na engenharia aumentou mais de quatro vezes entre 2010 e 2021, o que se atribui à bem-sucedida política de cotas nas universidades públicas.
É preciso, contudo, amplificar e acelerar esse processo para que a participação de pretos e pardos na profissão, nas escolas e também no mercado de trabalho, inclusive nas posições de liderança, alcance o patamar da proporção populacional.
A tarefa cabe a governantes e parlamentares, instituições de ensino, empresas, organizações da sociedade civil e a cada cidadão. Vamos juntos lutar pelo fim do racismo, da discriminação e da desigualdade atroz.