O mês da consciência negra é ótima oportunidade para refletir sobre essa mazela histórica brasileira, mas atuar para dar fim a ela é tarefa que precisa ser cotidiana e incansável. Passo importante é alcançar maior igualdade na engenharia, ampliando presença de profissionais pretos e pardos.
Na próxima segunda-feira (20/11) comemora-se o Dia da Consciência Negra, data estabelecida em homenagem a Zumbi dos Palmares. Passados 328 anos da morte do líder da luta contra a escravidão no Brasil e 135 da sua abolição oficial, o País ainda convive com o racismo e a desigualdade, que discrimina não uma minoria, mas a parcela majoritária da nossa população, que tem 55,9% de pretos e pardos, conforme o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O racismo, muitas vezes explícito e chocante, refletido inclusive em atos atrozes de violência, está presente de forma estrutural, criando obstáculos à construção de uma sociedade igualitária. Alguns dados reunidos pelo movimento Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades e publicados em agosto último ilustram o cenário. Conforme o documento, em média, os negros ganham 69,2% do valor recebido por brancos e amarelos. A situação piora quando combinados gênero e raça, já que as mulheres pretas e pardas têm renda média de 42,3% daquela aferida por homens não negros. Esse grupo também é o mais atingido pelo desemprego, com taxa de 14%, contra a então média do País de 9,6%, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de 2022.
Ainda segundo o estudo, a disparidade se reflete na participação no Poder Legislativo. Tomando por base os resultados das votações de 2020 e 2022 para vereadores e deputados estaduais e federais, fica patente a sub-representação, com percentual de parlamentares sempre inferior à proporção populacional negra, de 119,7 milhões de pessoas.
Lamentavelmente, embora não haja estatísticas, a realidade de exclusão existe também na engenharia, seara ainda majoritariamente branca. Conforme análise do Censo da Educação Superior 2022 (que contempla dados até 2021), feita pela agência Mira Pesquisa, dos 121.142 concluintes dos cursos de engenharia, 58,6% eram brancos, 38%, pretos e pardos e 3,2%, amarelos; para uma pequena parcela de 0,2% não constava informação sobre raça.
Não obstante estejam ainda distantes do ideal, os números sobre os estudantes mostram avanços em relação ao cenário observado hoje nos locais de trabalho. Mas é preciso agir para que esse movimento de mais jovens negros e negras ingressando na engenharia e terminando os cursos se fortaleça. Fundamental ainda que o mercado esteja aberto a receber esses profissionais, garantindo maior diversidade na engenharia.
É uma questão de justiça social assegurar oportunidades iguais a todos, mas também é uma demanda estratégica do País poder contar com a parcela majoritária da sua população contribuindo com o desenvolvimento, função essencial da profissão.
A comemoração do 20 de novembro e as atividades que acontecem ao longo do mês de novembro são excelentes oportunidades para refletir sobre a questão e ampliar o debate, mas a missão crucial de combater o racismo e a desigualdade precisa ser tarefa cotidiana e incansável de todos.
Eng. Murilo Pinheiro – Presidente