Ocorrência que afetou 29 milhões de brasileiros revela urgência em se reestatizar Eletrobras, cujo papel deve ser central em meio à necessária descarbonização da economia e transição energética.
O apagão do dia 15 de agosto último reacendeu o debate sobre as consequências da privatização da Eletrobras – cujos riscos, inclusive de que o Brasil enfrentasse problemas como o da semana passada, foram exaustivamente apontados pela FNE.
Enquanto se aguardam as conclusões sobre o que fez com que 29 milhões de brasileiros, em quase todos os estados do País, fossem afetados pela queda de energia, uma certeza: caminho para evitar novas ocorrências passa necessariamente pela reestruturação do setor em face dos desafios para a descarbonização da economia e transição energética, ao que recuperar o controle estatal da Eletrobras é premente.
É o que destaca a especialista Clarice Ferraz, em nota técnica para a nova edição do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” – iniciativa da FNE. O documento indica que reestatizar a empresa estratégica é o primeiro passo para que a gestão do setor seja voltada ao interesse público, revertendo o desmonte com as privatizações no segmento.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou um relatório preliminar que demonstra que o problema teve início na linha de transmissão Quixadá-Fortaleza II, de propriedade da Eletrobras Chesf. “Uma atuação incorreta no sistema de proteção da linha, que operava dentro dos limites, ocasionou o seu desligamento”, pontua.
Como avalia o ONS, “um evento dessa natureza, de forma isolada, não seria suficiente para ocasionar a interrupção de energia elétrica observada na ocorrência em questão”. A interrupção alcançou “cerca de 19 mil MW, do total de 73 mil MW que estavam sendo atendidos no momento, representando aproximadamente 27% da carga total daquela hora. O evento provocou a separação elétrica das regiões Norte e Nordeste das regiões Sul, Sudeste/Centro-Oeste, com abertura das interligações entre essas regiões, afetando 25 estados e o Distrito Federal”.
Especialistas têm apontado em entrevistas que o apagão está relacionado à falta de planejamento integrado e de investimentos em infraestrutura, bem como de manutenção – pontos que integram as propostas do “Cresce Brasil” para o setor. A privatização da Eletrobras contribuiu para esse quadro caótico. Logo na sequência, houve demissão em massa, inclusive de técnicos.
Está mais do que na hora de reverter esse processo, valorizando o Sistema Interligado Nacional (SIN), um feito da engenharia nacional alinhado à construção de um país soberano e desenvolvido, o qual não pode mais ser deixado à mercê de interesses que não os de melhoria da vida do povo brasileiro.
Murilo Pinheiro- Presidente