Entre as inúmeras faces da abissal desigualdade que assola o País, tornada mais evidente com as dificuldades trazidas pela pandemia da Covid-19, estão as lamentavelmente ainda existentes discriminação e opressão da mulher. Neste março de 2021, em que se comemora a luta pela emancipação, contabiliza-se tristemente o aumento da violência e do desemprego em maior proporção que dos homens, assim como das responsabilidades e tarefas domésticas em tempos de home office e aulas online.
Inacreditavelmente, em abril em 2020, quando a quarentena para tentar reduzir o contágio do coronavírus tinha um mês, as denúncias de violência por meio do telefone 180 cresceram 40% em relação ao mesmo período de 2019. Apesar disso, aparentemente não se ampliou o número de boletins de ocorrência registrados para que os crimes fossem investigados, porque, em isolamento com o próprio agressor, a mulher não tem como buscar ajuda mais efetiva.
O quadro também não é dos melhores quando o tema é emprego. Conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a participação feminina no mercado de trabalho atingiu o menor patamar em 30 anos, ficando em 45,8% no terceiro trimestre de 2020. A desocupação atingiu mais fortemente aquelas que têm filhos pequenos de até dez anos.
Por fim, e não muito surpreendente, foram as mulheres que acumularam mais tarefas domésticas durante a pandemia, apontou pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). As que conseguiram manter o trabalho tiveram que dar conta também dos afazeres da casa, inclusive acompanhamento dos filhos nas aulas a distância, em proporção muito maior que seus companheiros.
Frente a esse cenário desalentador, é preciso agir para mudar. A tarefa cabe ao Estado, às organizações da sociedade civil e a todos os indivíduos. É preciso dar um basta no modelo injusto e ultrapassado que, além de penalizar mais da metade da população do País, nos mantém num atraso constrangedor.
Um setor em que temos avanços a comemorar, mas ainda há muito o que fazer, é na engenharia. Se no passado eram raridade na profissão, as mulheres hoje são 37% dos estudantes concluintes dos diversos cursos. A participação ainda minoritária, mas crescente, é dado positivo. No entanto, quando se verificam as profissionais ativas, esse percentual cai para 18%.
A igualdade que almejamos ainda há de chegar. Mas precisamos trabalhar por ela. Lembremos disso neste 8 de março e reforcemos a luta.
Murilo Pinheiro – Presidente