A conjuntura nacional, de crise econômica e aumento da pobreza, com 14 milhões de desempregados e outros 14 milhões de subempregados, determinou a unificação de sete centrais sindicais em torno da “Agenda Prioritária da Classe Trabalhadora”, lançada em 6 de junho último, na capital paulista. O objetivo é entregar o rol de 22 propostas aos candidatos nas eleições de outubro próximo.
“Precisamos qualificar o nosso voto”, sentencia Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que coordenou a elaboração da plataforma.
A preocupação é endossada pelo presidente da FNE, Murilo Pinheiro. Ele lembra que a entidade vem, há mais de uma década, por meio do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, “propondo soluções ao País que garantam crescimento econômico e condições dignas de vida à nossa população”. A nova edição do projeto – lançada em 7 de junho e cujo tema é “Retomada da engenharia nacional” –, conforme a liderança, “se soma a esse esforço, colocando o foco na necessidade de reverter o desmonte que vem sendo observado no País”. Ele pontua que, assim como a agenda prioritária, o projeto da federação também “será entregue aos candidatos nas eleições gerais de 2018, afirmando os anseios da engenharia e dos trabalhadores”. Murilo reforça que “ambas as iniciativas têm exatamente o sentido de qualificar o debate eleitoral, voltando-o a um projeto de interesse da maioria dos brasileiros”.
A agenda subscrita pelas centrais e elaborada pelo Dieese propõe a geração de postos de trabalho com a retomada de obras públicas paradas e a implantação de novos empreendimentos. A prioridade, diz Ganz Lúcio, é também a recuperação da capacidade da engenharia nacional de criar, produzir e elaborar projetos. “Estamos indicando que o País precisa da sustentação do investimento fortemente capitaneado e mobilizado pelo setor público e pelos recursos privados em infraestrutura econômica e social.” Nesse campo, indica Murilo, a FNE defende o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como financiador do desenvolvimento brasileiro. “O banco de fomento tem papel estratégico para garantir avanço nos setores que são de interesse do País e não pode ser tratado sob uma visão meramente financista”, diz o dirigente.
Ganhadores x perdedores
Ganz Lúcio adverte que o País passa por um processo de desnacionalização sem precedentes de toda a sua estrutura produtiva e dos seus recursos naturais. “Isso significa dar ao capital multinacional uma riqueza para explorar uma base produtiva e natural sem que isso resulte na elevação do nosso padrão de desenvolvimento.” Ele lamenta: “Tornaremos outros países mais ricos e continuaremos sendo uma nação desigual e pobre, apesar de sermos uma grande economia.”
A política do governo Temer, observa o diretor do Dieese, tem a “lógica de subserviência ao capital estrangeiro e ao rentismo”. Como resultado, critica, “os mais pobres e os trabalhadores perdem muito”. Enquanto isso, “os 10% mais ricos ganham muito, os 1% mais ricos ganham muito mais e os 0,01% ganham ainda mais”.
Ele lembra que faz parte do pacote de regressão “a destruição da base do sistema produtivo das médias, pequenas e microempresas, grande empregadores no País”.
Ganz Lúcio salienta que “temos pressa e precisamos ver as mudanças dessas políticas já a partir de 1º de janeiro de 2019, porque precisamos enfrentar o problema do desemprego e do retrocesso”. Murilo complementa: “O Brasil precisa voltar a crescer, gerar empregos de qualidade e bem-estar à população. Isso exige incremento da infraestrutura de produção, desenvolvimento de logística eficiente, reindustrialização, investimento em ciência, tecnologia e inovação, gestão do setor energético com foco nos interesses de longo prazo do País. Tudo isso envolve a engenharia e nós estamos a postos, prontos a dar nossa contribuição.”
Para o consultor sindical João Guilherme Vargas Netto, a agenda precisa estar “de cor e salteada” na boca e nas mãos de todos os brasileiros. “Estamos entrando numa disputa eleitoral fundamental. À resistência, tem que se somar alternativas”, ensina.
Além do escopo econômico voltado ao crescimento, a agenda articula-se à defesa de políticas públicas de dimensão social, como nas áreas de educação, saúde e seguridade e previdência social; o fortalecimento dos sindicatos e das negociações coletivas; ampliação e efetivação de políticas, programas e ações para promover a igualdade para mulheres, negros, jovens, migrantes e população LGBTQI – lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, transgêneros, queers e intersexuais.
Leia a Agenda Prioritária