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Cresce Brasil

O aquecimento do mercado de energia solar tem proporcionado o surgimento de alguns projetos inovadores que estão impactando a vida de milhares de pessoas. O pulo do gato tem sido o desenvolvimento de placas fotovoltaicas com custo reduzido e novas aplicações de materiais já conhecidos.

“A tecnologia só tem sentido se for para atender a uma demanda da sociedade. E muitas vezes a solução está no simples”, pondera o físico José Marques Póvoa, diretor de Graduação do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec).

Foi assim que pensou o filipino Illac Diaz, criador da My Shelter Foundation, que promove projetos sustentáveis de baixo custo. Ele viu na solução encontrada pelo mecânico brasileiro da região do triângulo mineiro, Alfredo Moser, a oportunidade de ajudar famílias carentes em seu país. Para colocar o projeto em pé, criou a ONG Litro de Luz (Liter of Light), em 2012. Dez anos antes, quando o Brasil vivia o temor dos apagões, Moser percebeu o efeito que os raios solares tinham sobre um pequeno recipiente de plástico. Foi então que teve a ideia de encher uma garrafa pet de dois litros com água, duas tampinhas de medida de água sanitária, tampá-la tomando o cuidado de proteger a tampinha do sol forte com uma ponteira. Por fim, colocou-a num buraco na telha da casa, deixando metade da garrafa para fora e a outra metade para dentro.

A lâmpada de Moser, como foi batizada, tem uma luminosidade equivalente às lâmpadas de 40 e 60 watts e ganhou fama internacional, chegando às Filipinas. Lá, Diaz incluiu no invento uma placa fotovoltaica, que capta a energia solar; uma bateria, que a armazena; um circuito controlador, que faz a interface entre a placa; e uma lâmpada LED, que é acesa à noite utilizando a energia armazenada durante o dia.

A versão aprimorada foi trazida em 2014 para o Brasil e adaptada às necessidades dos locais onde está sendo utilizada. Há a iluminação pública feita pelos postes que são acionados automaticamente à noite, conforme o que foi desenvolvido nas Filipinas, e, para uso portátil e dentro das residências, foram criados os lampiões ligados manualmente com um interruptor. Esses também são carregados durante o dia. À noite, para que possam ser facilmente transportados, desacopla-se a placa fotovoltaica.

 


“Na Amazônia, onde instalamos 100 postes e 100 lampiões, as pessoas são muito carentes de luz, não só no entorno das casas como dentro delas. Há localidades com um gerador com capacidade para três horas, mas que só funciona quando a Prefeitura manda o diesel. Além disso, faltam velas, bastante utilizadas por lá. Então, o lampião está sendo muito útil”, contou o engenheiro eletricista Rodrigo Silveira, voluntário da Litro de Luz em São Paulo. A organização tem outros 100 em Brasília, Florianópolis, Campina Grande e Manaus.

A ação na Amazônia foi realizada em sete comunidades ribeirinhas do município de Caapiranga, entre setembro de 2016 e março deste ano, com material mais resistente por conta do clima úmido. Um dos pontos chaves para que o projeto dê certo é a capacitação da comunidade para a manutenção do equipamento. No mundo, a iniciativa está em 20 países, atingindo mais de 1 milhão de pessoas. “Com o apoio de empresas que doam equipamentos ou vendem a preço de custo, o poste custa R$ 300 e o lampião, R$ 100”, informa Silveira.

Batendo bola
Em 2014, um campo de futebol no Morro da Mineira, no Rio e Janeiro, ganhou 200 placas de cerâmica que captam o movimento dos jogadores e o transformam em energia elétrica. Segundo as empresas que realizaram a iniciativa, a Pavegen e a Shell, as placas são capazes de gerar 5 watts por pisada. As várias partidas de futebol realizadas ao longo do dia geram energia que é armazenada em baterias. À noite, essas acendem os refletores e iluminam o local.

“É um piso elétrico semelhante ao dispositivo que acende o fogão, quando você exerce uma força mecânica sobre ele, essa é convertida em eletricidade. Isso é um tipo de energia cinética”, explica o professor Póvoa. Ele conta que o piso elétrico surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, na década de 1940. Sua aplicação foi aperfeiçoada pelo advento da cerâmica em pó, que pode ser colocada em tapetes, passadeiras e pisos como esse do campo de futebol.
O professor da pós-graduação Euren, Gestão de Energia Sustentável do Isitec, engenheiro eletricista Ricardo Gedra, constata: “Quase toda energia elétrica é gerada por movimento, como a eólica ou até a hidrelétrica. Esse tipo de geração [do campo de futebol] é muito baixa. Mas é possível sim que, após muitas pxessoas baterem bola, se reúna bastante movimento.”

Comprovando a tese da baixa eficiên­cia da geração cinética, o projeto do Morro da Mineira também possui placas fotovoltaicas para completar a energia armazenada. Isso não resolve, contudo, um outro complicador, que é a curta duração da bateria, que geralmente descarrega em até dez horas. “Esse é um grande gargalo do mundo: como guardar a energia elétrica. É um desafio da tecnologia”, pondera Póvoa.

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