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O curso “Como fazer quase qualquer coisa” do professor Neil Gershenfeld, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, atravessou fronteiras e foi além da produção pessoal. O conceito maker do curso, que gerou mais de 600 laboratórios de fabricação pelo mundo segundo a ONG internacional Fab Foundation, inspira também projetos públicos. É o caso do Fab Lab Livre SP, desenvolvido pela Secretaria de Serviços da Prefeitura Municipal de São Paulo com o Instituto de Tecnologia Social (ITS Brasil). São dez laboratórios inaugurados desde dezembro de 2015, distribuídos pela cidade em sua maioria em bairros periféricos. “Estamos adaptando o modelo existente a um fab lab popular e queremos nos integrar à rede mundial”, conta Juliana Pessoa, coordenadora do projeto.

 

Os laboratórios são abertos ao público todos os dias, e as oficinas são gratuitas. Segundo Pessoa, os cursos, que podem durar até seis meses, vão de como usar o maquinário à fabricação digital. Quem tiver um projeto pode levar ao lab e desenvolvê-lo. Caio Cardoso Lucena, dono de uma startup que produz vídeos em 360 graus, usou a impressora 3D do Fab Lab Livre SP, na Galeria Olido, para fazer um protótipo de um suporte de câmeras para drone. “Fiquei sabendo pelas redes sociais e eu tinha o projeto, vim pedir ajuda e acabei aprendendo a fazê-lo”, conta Lucena. Além disso, o lab tem programações especiais, como a oficina realizada no Dia Internacional da Mulher, que convidou coletivos de mulheres da área digital para darem aulas ao público feminino.

Líder do Fab Lab Cidade Tiradentes, o design de produtos Isaac Pereira Loureiro, do ITS Brasil, acredita que a missão do programa é apresentar a fabricação digital e suas possibilidades à população. Segundo Loureiro, as pessoas que mais frequentam os labs são de comunidades e isso valoriza o projeto. “Apesar de o pessoal não saber o que é (o Fab Lab), quando descobre, surge a possibilidade de fazer algo. É um empoderamento muito legal, você abre uma porta de oportunidades na vida deles”, salienta o design.

Loureiro conta que professores procuraram o fab lab para fazer mapas para aulas de geografia. Juntamente com seus alunos, eles foram convidados a fazer parte do desenvolvimento do projeto. O resultado foi um laboratório repleto de crianças do terceiro ano do ensino fundamental envolvidas na execução da tarefa. “Mostramos no mapa onde elas moravam, estudavam, e elas acharam muito legal. Colocar essa gotinha de ‘faça com as próprias mãos’ nas crianças é muito positivo, você acaba criando pessoas que enxergam diferentes perspectivas”, diz Loureiro. O Fab Lab Livre SP Cidade Tiradentes recebe, em média, 20 pessoas por dia, de todas as idades. Todos os projetos realizados ficam disponíveis para download.

Fab Social

Um Fab Lab dirigido a crianças e adolescentes, com foco educacional por meio da tecnologia. Essa é a ideia do projeto Fab Social, iniciado no mestrado em Arquitetura de Alex Garcia e abraçado pela Prefeitura Municipal de Guarulhos, na Grande São Paulo. Diferentemente dos outros modelos, o Fab Social não tem um local fixo, mas passa pelos Centros de Educação Unificados (CEUs) da cidade. “Eu levava uma impressora 3D, uma cortadora de papel e uma router, e as oficinas aconteceram em sete CEUs, duas semanas em cada”, conta Garcia, sobre o início do projeto em 2013, que teve mais de 150 participantes.

Em 2015, o fab lab desenvolveu um kit pedagógico para ensinar conceitos de robótica e matemática a crianças. Segundo Garcia, todo o material utilizado foi de baixo custo. “Com uma pequena cortadora de vinil, fizemos peças em papel que se encaixavam para construir mecanismos como alavancas e polias. E as crianças tinham uma rápida compreensão, pois participaram de todas as etapas do projeto”, explica. O Fab Social é ligado à rede latino-americana de fab labs, a FabLat Kids, que desenvolve projetos abertos voltados ao desenvolvimento e aprendizado infantil. Para Garcia, inserir a ideia de transformação na criança é o que muda o mundo. “Com essa tecnologia você pode criar duas coisas: um novo consumidor ou um maker, um estudante. Esse é o nosso foco.”

Rede mundial

O Brasil tem hoje 16 laboratórios conectados à rede mundial de fab labs, geridas pela Fab Foundation, como o Fab Lab Belém, o Fab Lab Recife, o Poalab, em Porto Alegre (RS), entre outros. “O grande potencial desses espaços é transformar a realidade das pessoas”, afirma o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), Paulo Eduardo Fonseca de Campos, que é do Departamento de Projetos no Fab Lab SP, o primeiro laboratório brasileiro a se integrar à rede mundial. O lab SP, que surgiu como uma disciplina de pós-graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo, recebeu a primeira cortadora a laser em 2011 e foi oficialmente inaugurado. “Nós passamos a ter contato com centenas de laboratórios espalhados pelo mundo e, a partir daí, houve a troca e o aprendizado acelerado”, relata Campos.

Um dia por semana o espaço é aberto à comunidade, assim como os demais laboratórios do mundo. É um padrão entre os fab labs, além de ter uma agenda de associados, pessoas que pagam regularmente pela utilização das máquinas. Impressoras 3D e cortadoras a laser fazem parte do hardware que o lab pode ter, mas, para Campos, o importante é o software, como ele classifica o conhecimento. “O laboratório não é o ator principal nesse processo, e sim os movimentos sociais e tudo aquilo que as comunidades podem criar em conjunto. As máquinas ficam obsoletas, o conhecimento não”, diz.

Confira aqui o Fab Lab mais próximo de você: https://goo.gl/VTNjTN.

 

Jéssica Silva

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