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Cresce Brasil

Quando a engenharia conversa com outras áreas, como a da saúde ou biologia, por exemplo, o resultado é transformador. Quem aposta nesse conceito é o estudante de Engenharia Elétrica da Universidade de Pernambuco (UPE) Caio Guimarães. Aos 25 anos, ele é o inventor de um protótipo portátil que utiliza luz em uma determinada frequência capaz de matar bactérias e micro-organismos presentes em infecções e ferimentos.

Azuluz é o nome da startup de biotecnologia liderada por Guimarães, cujo produto inicial em desenvolvimento é uma alternativa ao tratamento de feridas de pessoas com diabetes similar ao de fototerapia, uma técnica muito utilizada em doenças de pele. O método consiste em expor o ferimento infeccionado a uma luz que emite ondas num determinado comprimento com diversas propriedades, entre elas a antibacteriana. Ou seja, a luz trabalhada pela empresa é capaz de matar bactérias das quais os antibióticos convencionais não dão conta ou demoram muito para ter efeito, como ocorre nos casos de pessoas com diabetes, que são hoje mais de 14 milhões no País, segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

Guimarães conta que a enfermidade foi escolhida como foco porque muitos pacientes sofrem com a má cicatrização que a doença acarreta e acabam contraindo graves infecções e até perdendo membros a partir de um pequeno corte. Devido ao uso prolongado de antibióticos em tais situações, que pode variar de meses a anos, o paciente tem grandes chances de apresentar efeitos adversos hepáticos, renais e gastrointestinais. Segundo o estudante, em testes realizados, já se obteve uma cicatrização em 15 dias de tratamento fototerápico. “A luz azul, associada com a sua variação, que é a luz vermelha, possibilita não somente a desinfecção, como também a regeneração do tecido”, explica. O método, conforme ele, propicia a emissão da luz com propriedades que ativam a circulação, produzindo um efeito anti-inflamatório.

Ciências sem fronteiras

A tecnologia de luz medicinal, da qual poderão se beneficiar os pacientes de diabetes no Brasil, começou a ser desenvolvida nos Estados Unidos quando Guimarães estudava no laboratório Wellman Center, uma fusão da escola de Medicina de Harvard com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), pelo programa Ciências Sem Fronteiras. Lá, o aluno de engenharia cursou disciplinas voltadas à área médica. Os cientistas do MIT já haviam descoberto a parte biológica da ação da luz em bactérias multirresistentes. “Eles não estavam preocupados em transformar aquilo em algo viável, era apenas uma pesquisa em progresso a pedido do exército americano”, conta Guimarães. Procurando dar sentido prático ao conhecimento, ele começou a fazer paralelamente um equipamento que possibilitasse utilizar a luz como um tratamento.

Adotando uma visão da engenharia ao que era um projeto de microbiologia, o jovem fez um protótipo, semelhante a uma lanterna, em que a luz medicinal seria alocada, sendo assim portátil e de fácil acesso. “Funcionava com uma bateria de relógio, em uma lanterninha de 2x3 centímetros, enquanto o laser (do laboratório) era um trambolho, em uma mesa de 2x2 metros, que precisava de uma tomada”, compara.

A “lanterna” acabou fazendo sucesso no laboratório americano. Guimarães foi premiado pelo instituto como melhor projeto apresentado para comunidade científica de Boston, Massachusetts, em 2014. Teve ainda o apoio para uma nova invenção: microagulhas, como fibras óticas, de um material biodegradável e biocompatível, que pudessem levar a luz antibactericida a tecidos mais profundos do corpo, aumentando a capacidade do tratamento fototerápico. “Um dos principais empecilhos que tínhamos encontrado na aplicação era a profundidade do alcance da luz”, relata.

Empreendimento

De volta ao Brasil, o universitário trouxe a pesquisa e a ideia de transformá-la em realidade. A startup em desenvolvimento, com parcerias de empresas privadas e também o apoio da UPE, já planeja começar a etapa de testes clínicos da luz em humanos, trabalhando com o médico Francisco Bandeira, um dos autores do livro “Endocrinologia e diabetes”, de 2015. “A nossa meta, em longo prazo, é substituir os remédios antibióticos. Por enquanto não encontramos nenhuma dificuldade”, comemora Guimarães. Segundo ele, não houve efeitos colaterais nos testes realizados em laboratório. Segundo Bandeira, os estudos com animais apresentaram eficácia terapêutica. “Há um rigor científico para a conclusão dos testes, mas o sistema é bastante promissor”, declara.

Para Guimarães, sua invenção está em um cenário da engenharia que caminha lentamente, pois ele acredita que falta um olhar inovador e empreendedor na integração do curso com outras áreas. “Estamos na universidade e, muitas vezes, o estudante não participa de projetos conciliados com medicina, química, fica apenas na sua grade. Eu vejo o engenheiro como o inventor, que coloca a mão na massa e muitas áreas carecem disso.” Ele também critica a falta de incentivo aos pesquisadores brasileiros. “O nível acadêmico do engenheiro brasileiro e do americano é igual. Aliás, temos um potencial absurdo, mas muitas vezes não temos a oportunidade de colocar em prática.”

Jéssica Silva

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