“Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon”, este era o nome de Dom Pedro I (1798-1834) o qual, em 7 de setembro de 1822, há mais de dois séculos, proclamou a Independência do Brasil, ocorrida às margens do rio Ipiranga em São Paulo (SP), quando bradou “Independência ou Morte!”.
Muito se fala sobre este fato, alguns questionam a veracidade, outros não querem mesmo reconhecer, mas o fato é que Dom Pedro I, cognominado "o Libertador", "Pai da Pátria" e "o Rei Soldado", foi o primeiro Imperador do Brasil e, também, Rei de Portugal como Pedro IV; sendo considerado (tanto por seus contemporâneos - defensores ou opositores - quanto pela história posteriormente) como um dos governantes mais importantes na disseminação e propagação dos ideais liberais que possibilitaram ao Brasil e Portugal abandonarem os regimes absolutistas que cerceavam, em muito, o mais adequado desenvolvimento dos povos envolvidos.
“Se nós [brasileiros] existimos como um corpo em uma Nação livre, se nossa terra não foi rasgada em pequenas repúblicas inimigas, onde apenas anarquia e espírito militar prevalecem, nós devemos muito à resolução que ele [Pedro I do Brasil] tomou em ficar entre nós, em realizar o primeiro grito por nossa independência. [...] Portugal, se fez-se livre da mais escura e degradante tirania [...] se goza dos benefícios trazidos por um governo representativo aos povos educados, ela deve a D. Pedro de Alcântara, cujas fatigas, sofrimentos e sacrifícios pela causa portuguesa lhe deram em alto grau o tributo da gratitude nacional".
Claro que as contribuições de Dom Pedro I para o Brasil são um tema complexo e multifacetado, marcado por um período de profundas transformações políticas e sociais. Mas, é inegável, também, que desde a chegada de Pedro de Alcantara de Bragança e Bourbon com sua família ao Brasil em 1808 até sua abdicação em 1831 mostra uma trajetória intrinsecamente ligada à construção da identidade nacional e à consolidação do país como Nação independente e soberana.
A começar pela vinda de seu pai Dom João VI (1767-1826), cujo nome completo era João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael, cognominado "O Clemente", rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves de 1816 a 1822, o período de permanência de Dom Pedro I no Brasil foi marcado por um grandes mudanças e incertezas.
Vivendo por cerca de 14 (quatorze) anos no Brasil, desde a invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte (1769-1821), Dom João VI, mudou para sempre a história tanto do Brasil quanto de Portugal ao implementar várias medidas que modernizaram a colônia e lançaram as bases para sua futura independência, como a abertura dos portos às Nações amigas, a criação do Banco do Brasil, a instalação da Imprensa Régia e a fundação de Instituições de Ensino. “Dom João VI foi um monarca que soube navegar por tempos turbulentos, priorizando a segurança da coroa portuguesa e tomando decisões que tiveram um impacto imenso e duradouro tanto em Portugal quanto no Brasil”.
Mas, dentre as contribuições impactantes para o Brasil da vinda de Dom João VI e sua família está, sem dúvida alguma, refletida na declaração da Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, já há mais de dois séculos.
Conquanto a Independência do Brasil foi um processo gradual, impulsionado por uma série de fatores internos e externos, Dom Pedro I foi crucial para a sua concretização. Diante das pressões das Cortes de Lisboa, que buscavam recolonizar o Brasil, Dom Pedro I optou por romper com a metrópole. O Grito do Ipiranga (embora mitificado) simbolizou a decisão política de se desvincular de Portugal e estabelecer o Brasil como um império soberano. A manutenção da unidade territorial, ao contrário do que ocorreu com as colônias espanholas que se fragmentaram em diversas repúblicas, é amplamente creditada com méritos à liderança e à estrutura monárquica que Dom Pedro I ajudou a consolidar.
Dom Pedro I é, sem dúvida, uma figura central na Independência do Brasil. Em 9 de janeiro de 1822, "Dia do Fico", Pedro de Alcantara decide permanecer no Brasil contra as ordens de Portugal para que retornasse. Esse ato é considerado por muitos historiadores como o primeiro passo crucial rumo à Independência. Meses depois, em 7 de setembro de 1822, enquanto viajava de Santos para São Paulo, Dom Pedro recebeu novas exigências de Portugal para que voltasse e anulasse as decisões tomadas no Brasil. Revoltado com o que considerou um "ultraje", ele proclamou a separação definitiva, marcando o fim do domínio português e a independência brasileira.
É de se ressaltar, quanto às contribuições de Dom Pedro à Independência do Brasil, que o Hino da Independência do Brasil tem música de sua autoria; sendo um reflexo das tensões políticas e do fervor patriótico do período. O Hino da Independência do Brasil é gerado em meio à iminente separação de Portugal.
Dom Pedro I era músico e, por sinal, dos bons. Dom Pedro I compunha e tocava diversos instrumentos, como piano, flauta, violino e violoncelo. Sua paixão pela música não lhe permitiu que outro compusesse a melodia do Hino da Independência do Brasil. Dom Pedro I estudou música com alguns dos nomes mais importantes de sua época, tanto em Portugal quanto no Brasil; tendo uma educação musical completa, aprendendo teoria musical, harmonia e composição.
Pouco após a proclamação da Independência do Brasil, Dom Pedro I compôs a melodia do Hino da Independência. “Como músico talentoso, ele queria uma canção que capturasse o espírito do momento. A música foi apresentada em um sarau na casa de um Conselheiro influente político da época. Inicialmente, a melodia não tinha uma letra definitiva. Para escrever os versos, Dom Pedro pediu ajuda a Evaristo Ferreira da Veiga e Barros (1799-1837), celebre jornalista, político e um dos principais nomes do movimento liberal e constitucionalista no Brasil. Evaristo da Veiga, por sua vez, escreveu a letra usando as ideias do "Manifesto aos Brasileiros", um texto que defendia a separação de Portugal. A letra de Evaristo da Veiga, com versos como "Brava gente brasileira! / Longe vá, temor servil", foi considerada um manifesto de liberdade e um chamado à Nação.
Lembrando o significado do Hino da Independência do Brasil, celebre-se sempre com reflexão a Independência da República Federativa do Brasil lendo sua letra.
Já podeis da Pátria filhos
Ver contente a Mãe gentil;
Já raiou a Liberdade
No Horizonte do Brasil
Já raiou a Liberdade
Já raiou a Liberdade
No Horizonte do Brasil
Brava Gente Brasileira
Longe vá temor servil;
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Os grilhões que nos forjava
Da perfídia astuto ardil,
Houve Mão mais poderosa,
Zombou deles o Brasil.
Houve Mão mais poderosa
Houve Mão mais poderosa
Zombou deles o Brasil.
Brava Gente Brasileira
Longe vá temor servil;
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil:
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil.
Vossos peitos, vossos braços
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil.
Brava Gente Brasileira
Longe vá temor servil;
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Parabéns ó brasileiros,
Já com garbo juvenil
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil.
Do universo entre as nações
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil.
Brava Gente Brasileira
Longe vá temor servil;
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
O Hino da Independência do Brasil, com letra de Evaristo da Veiga e música de Dom Pedro I, é uma das composições cívicas mais importantes do país. A letra celebra o grito do Ipiranga e a libertação de Portugal.
Chamado de "Hino Constitucional", o Hino da Independência do Brasil rapidamente se tornou popular entre os defensores da Independência. Sua melodia vibrante e letra inspiradora ressoavam com o sentimento de autonomia que crescia no país. Sua letra vibrante e patriótica celebra o rompimento com Portugal e exalta o espírito positivista e de liberdade.
No refrão, que se repete ao longo do hino, reforça o ideal de bravura e sacrifício pela liberdade nacional. O hino da Independência do Brasil exalta o povo brasileiro como corajoso e digno, rejeitando qualquer submissão. É um chamado à liberdade com orgulho. Um juramento solene: a liberdade é tão essencial que vale mais que a própria vida, reforçando o espírito de luta. No Hino da Independência a liberdade é descrita “como um novo amanhecer, uma esperança que surge no horizonte nacional”.
Mas, e o Hino Nacional do Brasil?
Celebra-se em 13 de abril a data na qual foi tocada pela primeira vez, no Teatro São Pedro de Alcântara, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a música (a parte instrumental) do Hino Nacional do Brasil.
O Hino Nacional Brasileiro é uma das mais importantes expressões da identidade e da história do país. Ele é um dos quatro Símbolos Nacionais da República do Brasil, juntamente com a Bandeira, as Armas e o Selo Nacionais, e tem uma história complexa e fascinante, marcada por diferentes contextos políticos e culturais.
A melodia do Hino Nacional do Brasil, composta pelo maestro Francisco Manuel da Silva (1795-1865), tem sua origem no período posterior à abdicação de Dom Pedro I, em 7 de abril de 1831. A música, inicialmente, era conhecida por nomes como "Hino 7 de Abril" ou "Marcha Triunfal", refletindo o sentimento de mudança política da época. Apesar de ter sido pensada para celebrar a abdicação, a composição de Francisco Manuel da Silva permaneceu popular e foi conservada como o Hino Nacional pelo Decreto de 20 de janeiro de 1890, logo após a Proclamação da República.
A letra, no entanto, só seria oficializada quase um século depois. Durante um longo período, de 1831 a 1922, o hino foi executado sem ter uma letra oficial. Embora existissem tentativas de se criar versos para a melodia, muitas propostas eram rejeitadas por carregarem um tom excessivamente político, seja com críticas à monarquia, seja com elogios exagerados ao novo regime republicano. A música, contudo, nunca perdeu sua popularidade junto ao povo.
A controvérsia sobre a letra foi resolvida somente em 1922. A letra que hoje se conhece é de autoria do professor e poeta Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927), que a escreveu em 1909. É interessante notar que ele e Francisco Manuel da Silva não se conheceram; o compositor da melodia já havia falecido antes do nascimento do poeta. A letra de Osório Duque Estrada rapidamente ganhou o gosto popular e, por fim, foi oficializada por meio do Decreto nº 15.671, de 6 de setembro de 1922, em comemoração ao centenário da Independência do Brasil.
O processo de escolha dos símbolos nacionais na República foi marcado por debates. Em 1890, um concurso foi realizado para selecionar um novo Hino Nacional, e a composição de Leopoldo Américo Miguez com letra de José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque foi a vencedora. Embora esse hino tenha se tornado um importante símbolo da Proclamação da República, ele não foi aceito pelo povo, que preferiu a melodia de Francisco Manuel da Silva, consagrando-a como o Hino Nacional que representa a história e a identidade da nação até os dias de hoje.
Então, em todo dia 7 de setembro, celebrando a Independência do Brasil, é momento especial de se relembrar, também, a letra do Hino Nacional do Brasil.
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da pátria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.
Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!
Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
Do que a terra, mais garrida,
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores."
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
"Paz no futuro e glória no passado."
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Veja que o Hino Nacional do Brasil é uma ode (um poema) ao Brasil que faz referência a sua história, seu povo e suas riquezas, misturando lirismo com um forte apelo cívico. O Hino Nacional do Brasil é um lembrete constante dos valores e ideais que formam a identidade brasileira.
A essência do Hino Nacional Brasileiro está baseada na celebração da independência, a beleza natural e o patriotismo; evocando um sentimento de identidade e orgulho nacional por intermédio de metáforas e referências históricas e geográficas.
A primeira estrofe se refere diretamente ao “Grito de Independência” proclamado por Dom Pedro I, às margens do rio Ipiranga. As palavras "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heroico o brado retumbante", não apenas descrevem um evento histórico, mas, também, estabelecem um tom de heroísmo e a bravura nacional.
O Hino Nacional descreve o Brasil como um "berço esplêndido" e destaca a riqueza de sua flora ("mais flores") e fauna ("bosques têm mais vida"); exaltando, sobremaneira. a natureza exuberante do país, posicionando-o como um paraíso natural.
A letra reforça a ideia de que o povo brasileiro está disposto a defender sua Nação; transmitindo em frases como "Desafia o nosso peito a própria morte!" e "um filho teu não foge à luta, / Nem teme, quem te adora, a própria morte" o forte senso de dever e lealdade à pátria.
Por fim há de se salientar, também, que o Hino Nacional do Brasil expressa aspirações de liberdade e paz, representadas pelo "sol da liberdade" e pela bandeira que ostenta "Paz no futuro e glória no passado". A menção à "clava forte da justiça” indica que a Nação (entendida como Soberana) sempre se levantará para defender seus ideais.
O Hino Nacional do Brasil coroa, então, os esforços para se atingir a liberdade e a soberania do país. A letra reflete a jornada de uma colônia para se tornar uma Nação independente, e o faz por meio de uma série de metáforas poderosas; sendo, em essência, um resumo lírico do processo de emancipação e dos valores de liberdade fundamentais para a identidade nacional.
Todavia, não se deve esquecer que após a Independência do Brasil, o maior dos desafios era construir um Estado (que se mantivesse soberano); e mais uma vez o papel de Dom Pedro I foi fundamental, pois a ele coube a organização do Brasil Império.
Dom Pedro I convocou a primeira Assembleia Constituinte em 1823, mas a divergência com os deputados, que desejavam limitar seus poderes, levou à dissolução da assembleia. Em seguida, ele outorgou a Constituição de 1824, a primeira do Brasil. Essa carta magna, embora centralizadora e autoritária, foi um documento fundamental para a organização política do país.
A Constituição de 1824, longe de ser um ideal, estabeleceu, porém, a monarquia “constitucional”, o poder moderador (exercido pelo imperador), os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e definiu os direitos civis e políticos dos cidadãos. Não se pode em momento algum deixar de exaltar a Constituição de 1824, a qual com suas falhas e virtudes, serviu de arcabouço para o funcionamento do Estado brasileiro por 65 anos.
Dom Pedro I pode ser facilmente classificado como um líder autoritário dada a sua visão de poder centralizadora outorgando aquela Constituição que lhe dava amplos poderes mostrando desde sempre sua inclinação para o autoritarismo.
O legado de Dom Pedro I, no entanto, não se limita aos marcos políticos, uma vez que várias ações suas merecem o necessário destaque; não sendo, também, isento de críticas.
Dom Pedro I, tanto como imperador quanto como homem, foi uma figura complexa e cheia de contradições. Ele é frequentemente descrito como alguém de temperamento forte e impulsivo, com qualidades e defeitos que moldaram sua trajetória política e pessoal.
Conhecido por sua personalidade explosiva. Suas decisões, muitas vezes, eram tomadas por impulso, como o próprio Grito do Ipiranga, que foi uma reação imediata às ordens portuguesas. Essa impulsividade, embora útil em momentos cruciais como a Independência, causava, também, atritos e instabilidade em seu governo e vida pessoal.
Apesar de seu temperamento, Dom Pedro I era carismático e popular entre as tropas e parte da população. Sua presença física e sua paixão pela pátria (principalmente a partir do "Dia do Fico") conquistavam a lealdade de muitos.
Dom Pedro I era culto, compunha e tocava música, tinha grande e especial interesse nas Ciências e em assuntos de Estado; sendo, atípico, um “soldado culto”. Sua educação, embora não formal no sentido moderno, o preparou para as complexas questões políticas que enfrentou (muitas das quais resolveu com grande maestria).
A vida pessoal de Dom Pedro I foi palco de relacionamentos complexos e intensos. Embora fosse casado com a imperatriz Maria Leopoldina da Áustria (nascida Leopoldina Carolina Josefa de Habsburgo-Lorena, 1797-1826) a relação do casal era notoriamente difícil, em grande parte devido às constantes infidelidades do monarca. A mais notável de suas paixões, e a que mais causou escândalo, foi o relacionamento público com a Marquesa de Santos, Domitila de Castro (1797-1867). Essa ligação extraconjugal não só afetou a popularidade do imperador, como foi geradora de crises diplomáticas e constrangimentos na corte.
Dom Pedro I foi o "Defensor Perpétuo do Brasil". Seu papel na separação de fato de Portugal é incontestável. Ele se impôs contra a recolonização e agiu com ousadia para garantir a autonomia do país.
Dom Pedro I foi um homem de contrastes extremos: um monarca impulsivo e passional, mas, também, um líder carismático e de grande erudição. Suas ações, controversas ou virtuosas, moldaram o Brasil de maneira profunda e definitiva.
Contam os historiadores que a batalha incansável travada por Dom Pedro I para que a Independência do Brasil fosse reconhecida por outras nações tornou-se passo vital para a soberania do novo país independente. Mas, só em 1825 Portugal cedeu, e apenas após o Brasil pagar um preço exorbitante. Dom Pedro I foi, também, um visionário cultural. Ao apoiar a Missão Artística Francesa e criar instituições como a Academia Imperial de Belas Artes, ele lançou as sementes de uma cultura nacional.
Dom Pedro I é a figura central na gênese do Brasil como Nação Soberana. Suas contribuições, especialmente a independência e a outorga da primeira Constituição do Brasil, foram a força que impulsionou o país. Sua trajetória, cheia de ambições e contradições, reflete os desafios da própria formação do Brasil, unindo o grito por liberdade com a manutenção de estruturas sociais e políticas conservadoras. Sua liderança, portanto, não é apenas a fundação da nossa história, mas também o ponto de partida para a longa e complexa jornada do Brasil rumo à democracia e à república.
Após abdicar do trono brasileiro em 7 de abril de 1831, em favor de seu filho, Dom Pedro II (nascido Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, 1825 1891), Dom Pedro I retornou para a Europa. Sua motivação principal era lutar para recuperar o trono de Portugal, que havia sido usurpado por seu irmão mais novo.
Dom Pedro I, que era, também, o legítimo rei de Portugal (como Dom Pedro IV), embarcou em um navio e seguiu para a Europa. Ele se estabeleceu em Paris (França), onde reuniu apoio político e financeiro para sua causa. Em 1832, partiu determinado para Portugal, liderando uma expedição militar para enfrentar as forças absolutistas.
Conhecida como a “Guerra Liberal” ou “Guerra Miguelista”, a correspondente Guerra Civil de Portugal durou cerca de dois anos. Dom Pedro I lutou em nome de sua filha mais velha, a princesa Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga (1819-1853), a legítima herdeira do trono português. A vitória das tropas liberais, sempre lideradas por Dom Pedro I, aconteceu em 1834.
Depois da vitória, Dom Pedro I conseguiu restaurar o governo constitucional em Portugal e garantir o trono para sua filha, que se tornou a rainha Maria II de Portugal. Com a saúde muito debilitada, Dom Pedro I faleceu em 24 de setembro de 1834, aos 35 anos, no Palácio de Queluz, em Portugal, o mesmo local onde havia nascido.
O Rei-Soldado, como ficou conhecido Dom Pedro I o Imperador do Brasil e Pedro IV o Rei de Portugal, lutou, fortemente, lado a lado com seus comandados na Guerra Civil de Portugal cumprindo notavelmente seu objetivo de reconquistar o trono português para sua filha.
Líder militar de “mão cheia”, Dom Pedro I não se limitou a ser um líder político. Ele se colocou no comando das tropas liberais, liderando a expedição que partiu de Ponta Delgada, nos Açores, para o continente português em 1832. Desembarcou em Mindelo e, pessoalmente, liderou o famoso ataque à cidade do Porto. Ele e suas tropas ficaram sitiados na cidade por mais de um ano, enfrentando intensos combates contra as forças absolutistas; estando na linha de frente, dividindo os mesmos riscos e privações que seus Soldados que o seguiam sem pestanejar.
A participação ativa e a coragem de Dom Pedro I foram cruciais para a moral de suas tropas. Sua liderança, combatendo no campo de batalha, foi determinante para a vitória dos liberais e para a restauração da monarquia constitucional em Portugal em 1834.
Semelhante atitude de Dom Pedro I, Rei-Soldado, o diferenciou, grandemente, de muitos outros monarcas de sua época, que geralmente se mantinham afastados dos combates. Dom Pedro I se comportou como um soldado, o que lhe rendeu grande respeito entre seus comandados e reforçou sua imagem de defensor da causa liberal em Portugal e no mundo.
Mas, voltando à Independência do Brasil, há de se observar que o correspondente processo político e diplomático foi bem mais longo, complexo e difícil do que o sintetizado (ou mitificado) na pintura “Independência ou Morte” do artista brasileiro Pedro Américo de Figueiredo e Melo (1843-1905) a qual é considerada a representação do gesto oficial da “Fundação do Brasil”. O nome da obra vem da exclamação de Dom Pedro I ao proclamar a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822: “É tempo! Independência ou Morte! Estamos separados de Portugal!"
De nada valeria a Declaração de Independência do Brasil sem o reconhecimento internacionalmente para que o país livre Brasil pudesse passar a negociar, assinar tratados e ser respeitado como Nação Soberana. Sem esse reconhecimento, o Brasil corria o risco de ser visto como uma colônia rebelde, ou apenas um insurgente qualquer.
Apesar dos esforços de Dom Pedro I e de várias outras contribuições de personagens da História do Brasil para o reconhecimento da Independência do Brasil, Portugal só reconheceu oficialmente a Independência do Brasil em 29 de agosto de 1825, quase três anos após a proclamação.
Mas, enfim, o reconhecimento da Independência do Brasil por Portugal foi consumado no Tratado de Paz e Aliança, mediado pela Inglaterra, a qual, notadamente, tinha interesse comercial na estabilidade da região e possuía grande poder.
Como parte do acordo, o Brasil pagou uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas a Portugal, valor financiado por empréstimo britânico, o qual, atualmente, estaria na faixa de R$ 1 bilhão a R$ 1,3 bilhão (segundo algumas estimativas mais otimistas).
O grande problema na época é que o Brasil não possuía reservas e precisou contrair um empréstimo com a Inglaterra para efetuar o pagamento, o que se somou a outras dívidas da Guerra de Independência, fazendo com que o Brasil nascesse muito, mas, muito endividado.
Além daquele valor (sempre absurdo sob qualquer ótica) o acordo exigia que Dom João VI recebesse o título simbólico de “Imperador Honorário do Brasil”, uma forma, diga-se, “diplomática” de suavizar o rompimento entre as Nações.
Cabe observar, entretanto, que os Estados Unidos da América (USA) foram os primeiros a reconhecer o Brasil como Nação Independente, já em maio de 1824, influenciados pela Doutrina “Monroe” (“A América para os americanos”). Na América Latina, países como Argentina (então Província Unida do Rio da Prata) e México reconheceram a independência do Brasil logo em seguida. Mas, a Inglaterra, que foi a responsável por intermediar o tratado com Portugal, somente reconheceu (oficialmente) a independência do Brasil após acordo de 1825.
É de salientar que mesmo sendo a Independência do Brasil um processo complexo, com inúmeros desafios e conflitos, O Brasil se tornou independente. O 7 de setembro de 1822 é a data oficial que marca o “Grito do Ipiranga”, o momento em que Dom Pedro I declarou a separação de Portugal.
Apesar da independência política, o Brasil manteve a escravidão e a estrutura social e econômica da época, o que gerou muitos debates e desafios para o futuro do país. Ainda assim, foi um marco fundamental na história brasileira. Sem falar que a consolidação da Independência foi um processo ainda mais difícil o qual se estendeu por alguns anos, com conflitos armados em várias províncias, como Bahia, Piauí e Maranhão, onde tropas portuguesas ainda resistiam acreditando que estavam defendo patrimônio de Portugal.
A frase supostamente exclamada por Dom Pedro I (seja uma lenda histórica ou um fato confirmado) “Independência ou Morte!" reflete a atitude ímpar do “Rei-Soldado que optou pelo rompimento radical com Portugal naquele momento. Antes, porém, de 1822, Dom Pedro já havia declarado o "Cumpra-se", que determinava que qualquer lei vinda de Portugal só teria validade no Brasil com a sua autorização. Isso já era um bem sinal claro de sua intenção de manter o Brasil independente da tutela de Portugal.
“Dom Pedro I defendia a ideia de que o Brasil tinha o direito de se autogovernar, rejeitando a recolonização que Portugal tentava impor. Sua visão era de que o Brasil deveria ser uma “Monarquia Independente”, com ele como Imperador”. Frontalmente contra as ordens diretas de Portugal que queriam sua volta imediata a Portugal com a anulação das ações como Regente, Dom Pedro I se insurge estabelecendo a Independência do Brasil que o estabelece como Imperador e, portanto, garantindo que ele não seria apenas um simples Príncipe Regente que se obrigaria a ficar sob as ordens da Coroa Portuguesa.
Além do mais, Dom Pedro I entendia que a “fragmentação do Brasil” era inevitável caso o Brasil não se unisse sob uma única liderança. Sabia que as províncias poderiam se separar. Indícios eram claros. Assim, Dom Pedro I buscava centralizar o poder para manter a integridade territorial e, em especial ao longo de 1822, mostrou, claramente, sua postura de liderança firme, com um objetivo claro de transformar o Brasil em uma Nação Soberana
O Primeiro Reinado de Dom Pedro I (1822-1831) foi um período de grandes desafios políticos e sociais, com foco na consolidação da Independência e na organização do novo país que se estabelecia diante da Independência. Assim, não foi o momento de se desenvolver, por exemplo, grandes projetos de Engenharia, como a construção de ferrovias ou de usinas hidrelétricas, que pudessem ser diretamente atribuídos ao correspondente período. A riqueza do país era destinada, prioritariamente, para a estabilização do Império. Os grandes avanços em Engenharia e infraestrutura foram realizados, majoritariamente, no Segundo Reinado.
Entretanto, é sempre importante salientar que, como um todo, a base para o desenvolvimento e expansão da Engenharia no Brasil foi lançada no período Monárquico. As primeiras formações em Engenharia no país surgiram em 1810 com a criação da Academia Real Militar (futura Escola Politécnica), fortemente ligada ao Positivismo; que, embora tenha sido fundada antes do Primeiro Reinado, formou os primeiros Engenheiros Militares e Civis que mais tarde contribuíram para o desenvolvimento do Brasil.
A Academia Real Militar, fundada em 4 de dezembro de 1810, foi estabelecida com o objetivo de formar a elite técnico-científica e militar do reino; sendo reconhecida como a origem do Ensino Superior Civil e do Ensino Militar Acadêmico nas Américas.
Uma Nação soberana e livre reconhece sua história festejando seus exemplos e seus heróis.
Salve, Salve, Salve, 7 de setembro, Dia da Independência, ordem por base e o progresso por fim.