Em meu último texto falei sobre eleições de uma maneira convencional, com descrições de procedimentos correntes sem atentar para o verdadeiro rio subterrâneo que, nos últimos anos e ainda mais agora, tem alterado o curso costumeiro das campanhas e os resultados eleitorais.
Refiro-me às redes de internet ou redes sociais, cujo papel crescente não tem sido ainda corretamente avaliado em seus efeitos, que são visíveis.
E nesta semana que precede o primeiro turno, com o eleitorado em grande parte ainda indeciso sobre os candidatos (em particular sobre os candidatos a vereadores), resultados surpreendentes podem ocorrer no dia 6 de outubro nas capitais, em grandes cidades e em todo país.
Tudo poderia parecer fácil com o esquema simplificado que explicasse essas redes: ser humano –- máquina –- ser humano, o que nos aproximaria de uma explicação convencional com o protagonismo do ser humano individualizado, agregado por um coletivo político, apesar do “voto envergonhado”.
Mas, a realidade das redes de internet é mais complexa: ser humano –- máquina –- máquinas – seres humanos, o que explica melhor o alcance “subversivo” do processo, que é multiplicador e submetido à manipulação.
Um estudo de 2022 feito pela Similarweb constatou que 5% dos usuários do Twitter (atual X) eram bolts (robôs digitais com IA), mas geravam entre 20% e 30% do conteúdo postado na plataforma. Isso deve ser válido para todas as redes e tem aumentado.
Some-se, portanto, nas eleições brasileiras de 2024, a existência de uma forte corrente de oposição conservadora e recalcitrante (em contradição com os aspectos positivos da base econômica e social) e os efeitos das redes, para intuir a possibilidade de resultados eleitorais desfavoráveis à normalização democrática.
Essas redes também poderão passar a influir na própria dinâmica sindical, alterando as exigências e os comportamentos das bases e das direções.
João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical da FNE