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Cresce Brasil

 

Um artigo que merece atenção foi publicado na revista Nature do dia 12 de janeiro pelo pesquisador Alexandre Antonelli, natural do Brasil, mas trabalhando na Universidade de Gotenburgo na Suécia e no Jardim Botânico Real em Londres, onde ocupa a posição de diretor científico. O artigo "Indigenous knowledge is key to sustainable food systems”, além de uma ampla visão na área de sustentabilidade e importância da biodiversidade, suscita uma abrangente discussão sobre a importância que deve ser dada ao conhecimento dos povos indígenas no manejo de plantações e dos solos.

GrãosO Brasil apresenta a situação paradoxal de ser um grande exportador de alimentos e, ao mesmo tempo, ter uma enorme população em situação de insegurança alimentar. Tão grave quanto esta situação, biomas estão ameaçados de destruição, como o cerrado ou a floresta amazônica, para dar lugar a plantações para a alimentação ou criação animal, destinadas precipuamente à exportação. Além da destruição da biodiversidade, por sinal pouco explorada no Brasil, os solos são ameaçados de empobrecimento e o processo de remediação de solos pode levar ao seu esgotamento ao longo dos anos ou ao envenenamento dos rios e reservatórios de água.

Obviamente, existe a necessidade de produção de alimentos. Entretanto, poderiam ser buscadas alternativas e novos conhecimentos para a exploração agropecuária, sem a destruição de nossos biomas e de nossa biodiversidade, explorando os recursos de forma a garantir a sustentabilidade. Um elemento chave neste processo pode residir no reconhecimento da sabedoria milenar de nossas nações indígenas, que ao longo de séculos exploram fontes de alimentação na natureza, sem destruir os respectivos biomas.

Atividades que permitam a interação de cientistas com os povos indígenas e seus conhecimentos milenares, podem levar à identificação de novos princípios ativos para medicamentos, de novas fontes de alimentação e de estratégias alternativas para o manejo de pragas, tal como relatado em vários exemplos apresentados por Alexandre Antonelli em seu artigo.

Além de nossa riqueza em termos de biodiversidade, talvez tenhamos uma riqueza ainda maior que é a fonte de sabedoria de nossos povos indígenas, os verdadeiros guardiões da natureza. As políticas afirmativas do atual governo, de reconhecimento da ciência, e a estratégia de políticas transversais entre as atividades ministeriais, jogam a nosso favor para que ganhemos novos conhecimentos e ao mesmo tempo valorizemos a sabedoria e a cultura de nossos povos indígenas.

 Samuel Goldenberg é pesquisador emérito da Fiocruz e conselheiro da SBPC

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