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Em meio a avanços sociais e impasses estruturais, conferência expôs tensões políticas, fragilidades financeiras e a urgência ignorada da transição energética. Leia em reportagem da nova edição da Ciência & Cultura

WhatsApp Image 2025-12-18 at 08.57.15As mudanças climáticas deixaram de ser uma projeção futura para se tornarem uma experiência cotidiana marcada por eventos extremos que já reconfiguram economias, territórios e modos de vida. Secas prolongadas, enchentes devastadoras, ondas de calor recordes, disseminação de doenças e perdas aceleradas de biodiversidade evidenciam que a crise climática é, ao mesmo tempo, ambiental, social, econômica e política. Ao fim da COP30, realizada em Belém, em novembro, prevaleceu entre cientistas e organizações internacionais a percepção de urgência: os impactos avançam rapidamente, enquanto a resposta política global segue em ritmo aquém da dimensão da emergência climática. Isso é o que discute reportagem da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “COP30: ciência, política e ação”.

O financiamento climático foi um dos pontos de maior tensão nas negociações. Apesar de alguns avanços, persistem promessas vagas por parte dos países desenvolvidos, metas pouco claras e ausência de mecanismos efetivos de responsabilização dos maiores emissores históricos. A distância entre o volume de recursos necessários e o que está efetivamente sobre a mesa permanece expressiva. “Chegamos a números que deixavam todos atordoados: a necessidade é de 3 trilhões de dólares anuais. Por outro lado, a disposição máxima que se conseguiu chegar foi de 300 bilhões. Então fica uma lacuna gigantesca. Isso aponta para uma insuficiência das ações”, afirmou Francisco Assis da Costa, professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Para ele, a resistência dos países que historicamente mais emitiram gases de efeito estufa aprofunda desigualdades e limita a capacidade global de adaptação.

Essa assimetria está no cerne do debate sobre justiça climática. Populações que menos contribuíram para o aquecimento global são justamente as mais expostas aos seus impactos, enfrentando secas, enchentes e calor extremo com menor acesso a infraestrutura, serviços públicos e proteção social. Mulheres, crianças e grupos marginalizados tendem a ser desproporcionalmente afetados, enquanto países ricos continuam se beneficiando economicamente dos combustíveis fósseis. “Países desenvolvidos não estão dispostos a ajudar os países em desenvolvimento. Isso agrava desigualdades econômicas já vergonhosas e traz mais instabilidade social e política”, sintetizou Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física e coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável da Universidade de São Paulo (USP), além de membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Apesar das limitações, a COP30 apresentou avanços importantes do ponto de vista científico e simbólico, especialmente por ter sido realizada pela primeira vez na Amazônia, colocando a região no centro das negociações globais. Iniciativas como o Pavilhão da Ciência Planetária ampliaram o diálogo entre ciência e política, ainda que recomendações centrais — como o cumprimento da meta de 1,5°C — não tenham sido incorporadas ao texto final. Para Francisco Assis da Costa, no entanto, o papel contínuo da ciência cria um novo mecanismo de responsabilização: “A ciência continua avaliando os resultados das negociações e entrega no próximo ano seu legado. Isso é muito novo e muito importante para todos”. Ao final, a aprovação unânime de 29 documentos, que compõem o chamado “Pacote de Belém”, evidenciou tanto a capacidade de consenso quanto os limites do processo multilateral, reforçando a percepção de que o tempo da política ainda não acompanha o ritmo acelerado da crise climática.

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Ciência & Cultura