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Documento que será lançado hoje, 5 de novembro, mostra como zerar as emissões líquidas de Gases de Efeito Estufa (GEE) até 2040 conta com a participação de acadêmicos

pzzb8210 1023x576Neste 5 de novembro de 2025, das 15 às 17 h, será realizado o lançamento do estudo “Brasil Net Zero By 2040”, na Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Centro do Rio de Janeiro (RJ).

O estudo conta com a participação dos Acadêmicos Carlos Nobre, Mercedes Bustamante e Roberto Schaeffer.

Brasil pode zerar emissões em 2040 — uma década antes da meta oficial, diz estudo

Estudo “Brazil ​​​​Net-Zero 2040“, liderado pelo Instituto Amazônia 4.0, propõe que o país antecipe em dez anos a meta oficial de neutralidade climática

Pesquisa compara meta atual (Net Zero 2050) com cenários de mitigação baseados em mudanças de uso da terra e na transição energética

O primeiro caminho envolve restauração florestal, desmatamento zero até 2030, e o segundo passa por eletrificação e redução do uso de petróleo

O Brasil pode zerar suas emissões líquidas de gases de efeito estufa (GEE) até 2040, uma década antes da meta oficial. Essa é a principal conclusão do estudo Brazil Net-Zero by 2040, trabalho coordenado pelo Instituto Amazônia 4.0 e que reúne pesquisadores de diferentes instituições, como as universidades de São Paulo (USP), de Brasília (UnB) e Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A pesquisa, que será lançada no dia 5 de novembro, na Academia Brasileira de Ciências, propõe caminhos realistas para acelerar a neutralidade climática do país, em linha com o apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no G20 de 2024 para antecipação de compromissos climáticos.

Liderado pelos pesquisadores Carlos Nobre, Roberto Schaeffer, Mercedes Bustamante, Eduardo Assad e Nathalia Nascimento, o trabalho utilizou o Brazilian Land Use and Energy System Model (BLUES) para simular cenários de mitigação entre 2020 e 2040. A atual meta brasileira, de emissões zero até 2050, foi comparada a dois cenários que permitem alcançar a neutralidade em 2040: AFOLU-2040 (baseado em agricultura, florestas e uso da terra) e Energy-2040 (centrado na transição energética).

No AFOLU-2040, a prioridade é reduzir fortemente o desmatamento — zerando a supressão de áreas nativas até 2030 — e ampliar reflorestamento e restauração, estimulando a agricultura regenerativa e manejo integrado do solo. “Nesse cenário, a maior parte das remoções vem de soluções baseadas na natureza, como reflorestamento, restauração de ecossistemas e implantação de sistemas agroflorestais, respondendo por mais de 87% do total de remoções de carbono até 2040”, explicam os pesquisadores.

Já o Energy-2040 baseia-se em uma transformação profunda da matriz energética, com forte redução do uso de petróleo, eletrificação e descarbonização do transporte e da indústria. O cenário inclui expansão de biocombustíveis e tecnologias de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS) em larga escala – especialmente nos setores de cimento, aço e produtos químicos. “Essa abordagem reduz a dependência de políticas territoriais e os riscos de retrocesso ambiental, mas traz novas incertezas tecnológicas e financeiras, já que envolve altos custos e tecnologias ainda em fase de consolidação”, ponderam os cientistas.

Apesar das trajetórias distintas, ambos os caminhos dependem de governança ambiental robusta e de investimentos consistentes. No AFOLU-2040, o investimento adicional seria de cerca de 1% em relação à meta atual.  A transição energética ocorreria de forma mais gradual, com os combustíveis fósseis ainda representando 46% da energia primária em 2040 — ante a 22% no cenário focado na transição energética. Já o Energy-2040 demandaria aproximadamente 20% a mais em investimentos, devido à instalação de novas tecnologias e infraestrutura.

Em ambos os casos, o sucesso exige coordenação intersetorial e parcerias público-privadas, com a condição de distribuição justa dos custos e benefícios, garantindo inclusão social e justiça climática. “Se bem-sucedido, o Brasil poderá se tornar um exemplo para o Sul Global, mostrando que crescimento econômico e ação climática ambiciosa podem caminhar juntos”, conclui a equipe.

Autores:

Roberto Schaeffer (Coppe-UFRJ)

Mercedes Bustamante (UnB)

Eduardo Assad (FGV-Agro / ex-Embrapa)

Nathália Nascimento (Esalq-USP)

Gerd Angelkorte (Coppe-UFRJ)

Luiz Bernardo Baptista (Coppe-UFRJ)

Carlos Nobre (IEA-USP)

Foto:  Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil

ABC