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Altamente emissoras e vulneráveis, as áreas urbanas estão no centro do combate às mudanças climáticas. 

arranha ceus iluminados brilham na noite urbana gerada por ia 188544 27794As cidades estão no centro das discussões sobre as mudanças climáticas — tanto como parte do problema quanto da solução. Com menos de 2% da superfície terrestre, os centros urbanos concentram mais de 70% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), resultado direto de atividades como a geração de energia, o transporte motorizado e a construção civil. A queima de combustíveis fósseis nessas áreas emite não apenas dióxido de carbono (CO₂), mas também outros poluentes nocivos, como monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e compostos orgânicos voláteis (COVs), que contribuem para o aquecimento global e impactam gravemente a saúde da população. Com cerca de 80% do PIB mundial concentrado nas cidades, a pressão sobre os ecossistemas urbanos e periurbanos é intensa — e crescente. Isso é o que discute episódio especial do Ciência & Cultura Cast, que faz parte da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “Cidades e Meio Ambiente”.

Ao mesmo tempo, os centros urbanos são altamente vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas. Enchentes, deslizamentos, ondas de calor e escassez hídrica já fazem parte do cotidiano de muitas cidades, especialmente nas regiões costeiras ou com planejamento urbano precário. A situação é ainda mais grave nos assentamentos informais, que concentram aproximadamente 1 bilhão de pessoas globalmente e onde as populações enfrentam condições de vida mais frágeis. As ondas de calor, por exemplo, afetam de forma desproporcional crianças, idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade, enquanto a escassez de água tende a acirrar desigualdades e gerar disputas por recursos essenciais. “Áreas de infraestrutura verde podem fazer esse papel de mitigar os efeitos das mudanças climáticas, amenizando o calor, absorvendo mais água, porque esse é o papel que a infraestrutura verde ou a natureza faz”, explica Ivan Maglio, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) no Centro de Síntese Cidades Globais e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, na área de infraestrutura verde.

Diante desse cenário, as cidades têm um papel estratégico na mitigação e adaptação à crise climática. Investimentos em transporte público de baixa emissão, energias renováveis, edificações eficientes e gestão sustentável de resíduos podem reduzir significativamente as emissões urbanas. Medidas de adaptação, como sistemas de alerta precoce, infraestrutura resiliente e planejamento urbano inclusivo, são fundamentais para proteger populações e garantir o funcionamento das cidades em cenários extremos.

Além disso, o engajamento da comunidade é essencial: promover a participação ativa da população nas decisões climáticas ajuda a construir soluções mais justas, eficazes e duradouras. O futuro das cidades — e do planeta — dependerá da capacidade de transformar desafios ambientais em oportunidades de inovação e equidade. “As coisas que têm dado certo são soluções baseadas na natureza que as pessoas constroem ou recuperam na área juntos, participando e vendo a coisa acontecer, vendo que aquilo será um benefício para elas mesmas. Então, é uma educação exercitando a criação das soluções, é um processo participativo em que a comunidade participa das soluções”, pontua Ivan Maglio.

Ouça o episódio completo em Ciência & Cultura