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Para aprender a trabalhar com o software, os jovens fazem um rápido treinamento e, logo depois, já começam a analisar imagens capturadas pelo satélite Pan-STARRS, que fica no monte Halekala, no Havaí.

DesignerPoucas coisas na vida podem ser mais emocionantes para alguém apaixonado por astronomia do que descobrir corpos celestes nunca antes identificados. E essa emoção tomou conta da jovem Lorrane Olivlet, há pouco mais de duas semanas.

Depois de se inscrever no projeto de caça a asteroides da National Aeronautics and Space Administration (NASA), a agência espacial norte-americana, ela passou um longo período analisando as imagens captadas pelo telescópio Pan-STARRS, por meio do software Astrometrica, até a grande noite em que encontrou não apenas um, mas quatro asteroides em sequência.

Formada em Engenharia Biomédica

“Toda a caçada aos asteroides foi muito empolgante e divertida”, afirma Lorrane, em entrevista. “Foi uma emoção muito grande encontrar quatro asteroides ainda não catalogados”.

Natural de Belo Horizonte (MG), a jovem, que é formada em Engenharia Biomédica, diz que seu fascínio pela astronomia começou cedo, por volta dos três ou quatro anos.  

“Meu amor pelo tema começou quando ganhei um livro sobre o sistema solar, que, até hoje, é o meu assunto favorito.”
Lorrane Olivlet

Sempre incentivada pelos pais, Lorrane conta que, embora não tenha tido muitas oportunidades na infância ligadas à astronomia e assuntos correlatos, nunca deixou seu sonho de lado: “Sempre guardei no meu coração que se tivesse, algum dia, a chance de trabalhar com isso, eu não iria desperdiçar. E assim, hoje, são oito anos participando de eventos relacionados ao tema”.

Programa Caça Asteroides

Segundo Lorrane, o International Astronomical Search Collaboration (IASC) é um projeto da NASA, que, no Brasil, acontece em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).

De acordo com o MCTI, o programa, de amplitude nacional e internacional, tem o propósito de popularizar a ciência entre estudantes voluntários. “Os novos cientistas cidadãos podem colocar a astronomia em prática fazendo descobertas originais”, diz o site do Ministério.

Lorrane já tinha interesse em participar do IASC há alguns anos. “Eu soube dessa caçada aos asteroides há quatro anos, mas apenas neste ano pude participar”. Ela conta que fez sua inscrição, junto com seu grupo, diretamente com a NASA, e, posteriormente, também pela parceria com o MCTI.

Esse programa de ciência cidadã conta com a colaboração de cientistas amadores do todo o mundo para fazer descobertas astronômicas e, dessa forma, contribuir com o trabalho da agência espacial.

Software Astrometrica

Os inscritos do Brasil são de estados e universidades diferentes, e têm como missão encontrar asteroides de forma remota, utilizando o software Astrometrica, ferramenta que simula o Sistema Solar e que é destinada a medições de astros menores, como cometas, planetas anões e, claro, asteroides.

Para aprender a trabalhar com o software, os jovens fazem um rápido treinamento e, logo depois, já começam a analisar imagens capturadas pelo satélite Pan-STARRS, que fica no monte Halekala, no Havaí.

Novos asteroides estão na órbita de Júpiter e Marte

Dos quatro asteroides identificados pela pesquisadora, três já foram para as etapas preliminares da NASA. Segundo Lorrane é quando a agência, após constatar que realmente se trata de um asteroide, passa a observar sua órbita e calcular riscos de futuras colisões com a Terra. O outro objeto ainda está em análise. Segundo Lorrane, todo esse processo pode levar de três a 10 anos para ser concluído.

Ela explica o que são exatamente os corpos identificados: “Asteroides são pequenos objetos rochosos que orbitam o Sol, que são remanescentes da formação de nosso Sistema Solar. A maioria deles vive no cinturão de asteroides principal – uma região entre as órbitas de Marte e Júpiter. E é nessa área que estão os quatro que descobri”.

Direito de batizar os asteroides

Por ter sido a responsável pela descoberta, a pesquisadora terá o direito de dar nome aos seus “filhos”. “Quando você encontra um asteroide que ainda não foi catalogado, você pode colocar um nome nele”, explica.

Lorrane pretende batizar seus asteroides de Mariza (sua mãe), Euler (seu pai) e Guilherme Augusto, nome do namorado, que sempre a incentivou nesse caminho. “O quarto nome pode ser que eu escolha por meio de uma enquete popular”, anuncia.

Grupo de divulgação científica no Instagram

A cientista é fundadora do InSpace, um grupo composto por 55 membros das áreas de STEAM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia, arte e matemática), com foco em assuntos relacionados ao espaço. O grupo tem uma página no Instagram.

Lorrane conta que a ideia surgiu das inúmeras mensagens que sempre recebeu questionando sobre astronomia, principalmente de estudantes interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto.

“Eu faço divulgação cientifica na área espacial há cerca de oito anos e sempre recebi mensagens como ‘eu sempre quis conhecer mais sobre o assunto, mas na minha cidade não tem nenhum grupo de astronomia’, por exemplo. Então, tive a ideia de criar um grupo que pudesse abranger mais locais em divulgação cientifica.”
Lorrane Olivlet

Ela se surpreendeu com a quantidade de pessoas com vontade de participar. “No começo, eu pensei que ninguém iria se interessar, por ser um grupo inicialmente voluntário, porém, no primeiro momento, tive mais pessoas interessadas do que o número de vagas”.

Hoje, o grupo é formado por pessoas de todos os estados do Brasil e de Moçambique, que participam de competições, olimpíadas, ministram palestras em escolas e universidades, fazem observações do céu com telescópio, entre outras atividades.

Grupo sem patrocínio e canal no YouTube

Segundo a fundadora, o grupo não conta com nenhum patrocínio. “Mesmo assim, tem se destacado pelo trabalho de todos os envolvidos”, relata Lorrane.

A pesquisadora tem um canal no YouTube, por meio do qual relata suas aventuras na área espacial, além de dar dicas de eventos e outros assuntos relacionados ao tema.

“Meu primeiro contato com o Céu”

Além de cientista, Lorrane também é escritora. Em 2019, ela lançou o livro “Meu primeiro contato com o Céu”, com base nos conteúdos coletados ao longo dos anos como palestrante.

“Em 2017, eu resolvi começar a juntar tudo para ter um material físico para utilizar nas palestras. O livro tem como foco fazer esse primeiro contato das pessoas com os nossos vizinhos cósmicos, do Sistema Solar. Meu objetivo foi de fazer um material que pudesse abranger todas as idades e incentivar as pessoas a conhecerem sobre os vizinhos da Terra. Com as vendas, estou juntando verba para fazer um curso na NASA, o Space Camp ou o Space University.”
Lorrane Olivlet

Foto: Ramon Bitencourt. 

 do Socialismo Criativo, com informações do Olhar Digital