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Embora a depressão e o suicídio sejam “gritos de alerta”, o silêncio (ensurdecedor) no ambiente de trabalho persiste e, em muitas das vezes, se amplifica sem que seja dada a devida atenção. 

unnamed 22Por mais absurdo que possa ser, “depressão e suicídio” são ainda tratados como “tabus” ou algo sem a devida importância ou necessária atenção a despeito dos elevados índices de aumento a cada dia, a cada nova avaliação.  

Embora discussões sobre “Saúde Mental” tenham evoluído de um tema secundário para uma questão de urgência, ética e estratégia, a realidade é ainda brutal e a depressão e o suicídio (no trabalho principalmente) são frequentemente ignorados ou subestimados (geralmente). Mas, distante, muito distante, de ser apenas uma fragilidade individual, uma disfunção particular, o adoecimento mental relacionado ao trabalho é um sintoma alarmante de um sistema que, por vezes, prioriza apenas a produtividade e o lucro em detrimento do bem-estar humano do trabalhador.

O estigma da saúde mental no trabalho dissimula a realidade que é marcada “por uma cultura de alta performance, jornadas de trabalho exaustivas e a constante pressão por resultados imediatos”. Ambiente pesado e tóxico que associado “à falta de reconhecimento e à competitividade exacerbada, cria o terreno fértil para o esgotamento mental, conhecido como “Burnout” (ou Síndrome de Esgotamento Profissional), que pode ser a porta de entrada para a depressão”. 

A Síndrome de Esgotamento Profissional é um sério distúrbio emocional e físico causado por estresse crônico no trabalho, caracterizado por exaustão, cinismo (despersonalização), ineficácia e/ou sensação de baixa realização pessoal. Muitas vezes, a Síndrome de “Burnout” é causada por “longas jornadas, pressão contínua e constante, falta de autonomia, imposição de metas inatingíveis e desvalorização”; sendo os principais sintomas o cansaço extremo, a desmotivação e o afastamento social, bem como, em alguns casos, o uso de álcool ou drogas. 

A Síndrome de “Burnout” embora seja, efetivamente, intensificada pela falta de ajuda médica profissional devido à carência de um diagnóstico prévio e tratamento adequado é, em muitas das vezes, agravada por não se investir na prática do autocuidado como não manter atividades de lazer, relaxamento e convívio social; não se organizando, também, as tarefas e não estabelecendo prioridades e/ou por não delegar responsabilidades. Mas, são a falta de um estilo de vida saudável e não eliminação dos elementos estressores que acabam com a vida do trabalhador. A regra diz que se não há como eliminar aquilo que no trabalho gera estres, então deve-se considerar buscar outra oportunidade de emprego.

Se o trabalhador se sente seguidamente desvalorizado e, gradualmente, tem sua energia e paixão esgotadas enquanto trabalha, perdendo a identidade profissional e tendo a sensação de ser apenas uma peça substituível sem perceber um futuro melhor, então poderá “minar a vontade de viver, levando a uma fusão perigosa entre a vida profissional e a pessoal, culminando em desespero e, tragicamente, no suicídio”.

A situação vai se agravando na medida que não ocorre o diálogo entre o trabalhador e a empresa sobre a saúde mental no trabalho fragilizada pelo ciclo de danos que se perpetua. “O medo de ser visto como fraco, de sofrer preconceito ou de perder o emprego leva muitos a esconderem seu sofrimento. Esse silêncio, cúmplice da tragédia, impede que o trabalhador procure ajuda e intensifica a solidão em um momento de extremo desespero. O suicídio, nesse contexto, não é apenas uma tragédia individual, mas um grito silenciado, um indicativo final de que as estruturas e culturas organizacionais falharam em proteger seus colaboradores”.

A constante transformação do mundo exige que profissionais e empresas se adaptem a um ritmo cada vez mais acelerado. Nesse cenário, o “learning agility” (ou agilidade de aprendizado), por exemplo, surge como uma habilidade fundamental. Trata-se da capacidade de aprender de forma flexível e rápida a partir de novas experiências, ajustando comportamentos e avaliando resultados para se manter relevante no mercado de trabalho.

A digitalização e a ascensão da Inteligência Artificial (IA) tornaram o “learning agility” ainda mais crucial de forma a se pensar que características como alta agilidade de aprendizado, flexibilidade, experimentação, colaboração e a busca por “feedback” não são inatas e sim podem e devem ser desenvolvidas por todos os colaboradores.

Mas, nem todos reagem simpaticamente às mudanças inesperadas ou estão suficientemente confiantes para enfrentar situações desafiadoras continuamente. A começar pela falta do necessário “feedback” sobre desempenho, o processo que envolve diferentes tipos de mentes trabalhando juntas é, por si só, desafiador e fonte de danos irreparáveis à saúde mental se o ambiente corporativo não for inclusivo.

Inegavelmente a diversidade de pensamento pode ser uma força motriz mostrando que as diferenças na forma de pensar e aprender não são obstáculos, mas sim valiosas contribuições para o mundo profissional. Mas, é a combinação do “learning agility” com a valorização da neurodiversidade que institui a chave para a evolução de carreiras e do mercado de trabalho. 

Ao desenvolver a habilidade de aprender continuamente e ao mesmo tempo reconhecer e integrar as diferentes formas de pensar, cria-se um ambiente mais resiliente, inovador e inclusivo. E especialistas dizem que o futuro do trabalho dependerá da capacidade de se abraçar a agilidade individual de aprendizado e a riqueza da diversidade mental coletiva.

Todavia, estranhamente, ignoram-se ou são colocados em planos muito distantes os cuidados necessários com a saúde mental do trabalhador; o que, na mais simples das observações, constitui tanto uma falha ética como, também, uma falha estratégica e econômica.

Parece que não se dá conta que o impacto da depressão e do suicídio no trabalho é imenso, manifestando-se em absenteísmo, presenteísmo (estar no trabalho, mas sem produtividade), alta rotatividade de funcionários e perda de inovação.

Todavia, a morte de um trabalhador por suicídio envolve responsabilidade social e ética das empresas; exigindo uma mudança de paradigma centrada na prevenção. O ser humano é dotado de inúmeras vulnerabilidades e necessidades que devem ser consideradas ao se arregimentar colaborados nas organizações.

Investir em políticas de bem-estar dos colaboradores; treinar líderes para identificar sinais de sofrimento mental em suas equipes e saber como abordar o assunto com empatia e confidencialidade; desmistificar os tabus sobre saúde mental encorajando o diálogo aberto e não-julgador; são algumas das medidas urgentes que devem ser consideradas como padrão.

Muitas são as consequências de fatores psicossociais negligenciados que afetam tanto o trabalhador quanto as empresas. “A autonomia restrita, a insegurança no emprego, o assédio moral e a pressão por metas inatingíveis, somados a um vínculo afetivo patológico com a empresa, podem levar a um sofrimento psíquico brutal o qual podem mostrar para o trabalhador que sua dedicação irrestrita não o protegeu do descarte iminente.

A depressão no ambiente de trabalho é uma realidade multifacetada, um fenômeno que transcende a esfera individual e se enraíza nas estruturas e dinâmicas das organizações modernas. Como sabido, a depressão não é uma doença de fácil diagnóstico e cura, estando longe de ser um problema isolado, mas sim um fenômeno sistêmico que reflete as pressões e a complexidade das organizações contemporâneas. A depressão quando se manifesta no contexto profissional, torna-se ainda mais difícil de ser gerenciada.

O diagnóstico da depressão no trabalho é um desafio, pois os sintomas (como desmotivação, queda na produtividade, isolamento e irritabilidade) podem ser interpretados (erroneamente) como falta de comprometimento ou desempenho. Isso pode levar a um ciclo vicioso onde o profissional se sente cada vez mais pressionado e incompreendido, agravando o quadro depressivo. A dificuldade em falar sobre saúde mental no trabalho, por medo de estigma ou represálias, também impede que o problema seja abordado de forma adequada.

É necessário que as empresas reconheçam a depressão como uma questão de saúde organizacional, e não apenas individual. Assim, a adoção de políticas de bem-estar, a promoção de um ambiente de trabalho mais humano e a capacitação de líderes para identificar sinais de sofrimento psicológico são passos cruciais; mas, não definitivos, há de se salientar. 

A depressão é um transtorno de humor que embora comum, é bem sério e se caracteriza “por uma tristeza profunda e persistente, perda de interesse ou prazer, e alterações no sono, apetite e energia, afetando significativamente a vida diária”. Todavia, é uma doença e como tal deve ser tratada a tempo para evitar prejuízos danosos aos acometidos.

Repita-se, a depressão é uma GRAVE DOENÇA que se não tratada pode levar a sérios danos à vida dos doentes e, até mesmo chegar ao SUICÍDIO nos casos mais graves. 

A doença da depressão tem sintomas dos mais variados e se manifesta por intermédio de um conjunto de anomalias que podem variar, em gravidade, de indivíduo para indivíduo. No entanto, geralmente, está associada à tristeza profunda, irritabilidade, desânimo, sensação de vazio, desesperança e incapacidade de sentir alegria ou prazer; podendo gerar dificuldades de concentração, sentimentos negativos como de autodepreciação ou autoavaliação negativa tais como de culpa (com foco na crença de ter cometido erros, falhas ou de ser responsável por algo ruim) e de inutilidade (mirando na percepção de não ter valor, importância ou capacidade de contribuir, resultando em desesperança). Também são comuns a perda de interesse em atividades antes prazerosas, desinteresse, apatia e cansaço fácil, necessitando de mais esforço para realizar as mesmas tarefas diárias, alterações no sono e no apetite. 

A depressão é uma doença muito séria que não deve ser confundida com “tristeza passageira” e seu tratamento eficaz não pode ser negligenciado para a plena recuperação.

O tratamento da depressão pode envolver: psicoterapia, que ajuda a compreender e gerir os pensamentos e comportamentos associados à depressão; medicação, como o uso de Antidepressivos que podem ser prescritos por um médico para corrigir desequilíbrios químicos no cérebro; mudanças no estilo de vida como a prática de exercícios físicos que libera neurotransmissores de bem-estar, ajudando a reduzir os sintomas. 

Mas, como se sabe, a depressão intensificada e não tratada adequadamente pode sim levar ao SUICÍDIO o qual constitui um gravíssimo e complexo problema de saúde pública. Mas, embora o suicídio seja influenciado por múltiplos fatores, pode ser prevenido. 

Como já foi dito “Suicídio no trabalho ou em qualquer lugar é uma questão de saúde pública”. Mais ainda, “depressão e suicídio são questões de saúde pública”.

O suicídio é uma realidade dolorosa e um grave problema que exige atenção e discussão contínuas. Embora campanhas como a do Setembro Amarelo cumpra um papel fundamental ao intensificar os esforços de prevenção e conscientização anualmente, a necessidade de falar sobre o tema não tem momento único. Na verdade, todo mês, todo dia, toda hora é sempre momento oportuno (certo) para se falar a respeito do suicídio, pois o conhecimento sobre as questões envolvidas é, comprovadamente, uma forma eficaz de prevenção.

É necessário e urgente falar mais e abertamente sobre o suicídio. Apesar dos índices alarmantes, o tema ainda é frequentemente tratado de forma silenciosa, envolto em um grave estigma social que impede a busca e a oferta de ajuda. E o correspondente silêncio tem custado o roubo de inúmeras vidas. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que quase 1 milhão de pessoas se matam por ano no mundo, o que representa um suicídio a cada 40 segundos. Estimativas dão conta que no Brasil, cerca de 32 pessoas por dia tiram a própria vida, e as taxas nacionais têm aumentado gradativamente. Existem estudos que mostram um salto de mais de setenta por centro no aumento do número de suicídios entre somente entre os anos de 2000 e 2016); o que mostra uma realidade contrária à maioria dos países que desenvolvem trabalhos intensificados no combate e prevenção do suicídio.

É alarmante quando notícias evidenciam que o suicídio é segunda causa de morte no planeta entre jovens de 15 a 29 anos e a quarta nessa faixa etária no Brasil. Diante desses números, a inação ou o silêncio são inaceitáveis. A própria OMS é taxativa ao defender que 90% dos suicídios poderiam ser evitados; sendo que o primeiro e o mais importante passo para se prevenir o suicídio é justamente "falar sobre o suicídio" (mas, de forma acolhedora e sem julgamentos).

O desafio da prevenção reside, em parte, na dificuldade de identificar as pessoas em risco, sendo que cerca a maioria dos indivíduos que se suicidam jamais tiveram contato com um psicólogo ou psiquiatra. 

No entanto, é possível perceber e reconhecer alguns sinais de sofrimento psíquico que podem indicar a ideação suicida. Estar atento a essas manifestações é crucial. Alguns sintomas são:

(a) falta de esperança acentuada ou crença de que as dificuldades só serão solucionadas com o fim da vida; (b) expressões verbais de que a vida perdeu o sentido ou de ser um "incômodo" para os outros; mudança de comportamento, como a perda de interesse por atividades antes apreciadas; (c) rejeição ao auxílio profissional, apesar do nítido sofrimento psíquico; (d) melhora súbita de humor após um período de depressão, o que, paradoxalmente, pode indicar uma decisão tomada; (e) uso abusivo de drogas, álcool ou medicamentos.

Percebendo a possibilidade iminente de suicídio, é imprescindível a busca imediata por ajuda médica especializada, com auxílio da Psiquiatria ou Psicologia.

A dimensão do suicídio como questão de saúde pública exige que o debate se amplie para todos os setores da sociedade, incluindo o meio corporativo. A discussão sobre a Saúde Mental no ambiente de trabalho tem ganhado relevância, sendo tema de eventos importantes que estão ocorrendo.

A questão do suicídio obriga o setor produtivo a se alinhar ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 3 da Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidades) que visa "Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades" ao objetivar a “Saúde e Bem-Estar”. 

As Lideranças Corporativas têm um papel fundamental na criação de ambientes que promovam a saúde mental, desestigmatizem a busca por ajuda e atuem na prevenção. A saúde mental no trabalho é uma via de mão dupla: beneficia o indivíduo e a produtividade da empresa.

A despeito da complexidade do tema, a mensagem central contra o suicídio deve ser de esperança e apoio. Seja em setembro, mês da Campanha, ou em qualquer outro momento, o caminho é falar sobre o SUICÍDIO. “Se precisar, não hesite, não tenha medo, não tenha vergonha, procure ajuda”. A melhor saída, sempre a boa solução, será a vida.

O “Setembro Amarelo” começou, em 1994, nos EUA, quando um jovem de apenas 17 anos cometeu suicídio. Antes de tirar sua própria vida o suicida em questão havia restaurado um automóvel Mustang 19668 que pintou de amarelo. Diz-se que no dia do velório havia uma cesta contendo diversos decorados com fitas amarelas que continham a mensagem "Se você precisar, peça ajuda”. A partir daquele acontecimento, a luta contra o suicídio ficou simbolizada pelo laço amarelo. Então, se pensar em tirar a própria vida, busque de imediato ajuda; sendo, também, de suma importância falar claramente sobre o suicídio sempre.

Embora a história do Mustang 1968 amarelo instigue a reflexão sobre a problemática do suicídio, principalmente entre jovens, serve para lembrar que o alerta não está restrito a uma única época ou símbolo, mas deve ser contínuo. A conversa sobre o suicídio deve se manter viva em todo tempo e lugar.

Chamar a todos a atenção para a questão do suicídio vai muito além da campanha SETEMBRO AMARELO. Deve ser um alerta constante e não se deve ter vergonha ou reserva alguma de se falar em suicídio em todo e qualquer local a todo e qualquer momento. A urgência de se tratar abertamente o suicídio para eliminação de estigmas associados e para a redução do número de vítimas é uma forma eficaz de combater o suicídio porque o conhecimento é uma chave que abre as correspondentes portas tanto da prevenção quanto da ajuda quando exigida. 

O maior obstáculo para a prevenção é o estigma que envolve o suicídio e a saúde mental. Esse estigma impõe o silêncio, fazendo com que pessoas em sofrimento hesitem em buscar ajuda por medo do julgamento, e impede que familiares e amigos saibam como agir. O conhecimento é uma chave poderosa que realmente abre portas.

Quando se fala abertamente sobre o suicídio, se está, de um lado, eliminando o estigma e, de outro, se mostra que o respectivo sofrimento que pode levar ao suicídio seja visto como uma questão de saúde e não como uma de “falha moral”.

A urgência de tratar o suicídio de forma aberta e contínua é um ato de RESPONSABILIDADE SOCIAL e o caminho mais eficaz para que a vida seja sempre a solução escolhida.

 

 

* Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro consultivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do então Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep (atual Conselho de Responsabilidade Social do Sistema Fiep), líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) do CNPq, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC) do CNPq, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep).