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Artigo de Claudio Ângelo na Folha de S. Paulo informa que seis pesos-pesados da ciência brasileira colocaram na Internet na semana passada uma singela proposta: salvar a Amazônia da sanha das motosserras implantando na região um pólo científico e tecnológico.

Em dez anos, três institutos de pesquisa de ponta e duas universidades começariam a gerar riqueza para a região, inventando formas de agregar valor a produtos derivados da imensa biodiversidade local e inseri-los em mercados globais.

A pesquisa e desenvolvimento realizaria, assim, o sonho dos ambientalistas de desenvolver o Norte sem derrubar a floresta. Quem acha que essa "revolução científica e tecnológica", como seus proponentes a chamam, é uma utopia produzida por acadêmicos desconectados da realidade deveria olhar o exemplo de uma cidadezinha chamada São José dos Campos, que em 1950 era uma vila provinciana e atrasada de pouco mais de 20 mil habitantes.

Naquele ano, o visionário marechal Casimiro Montenegro Filho criou o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, destinado a formar engenheiros para alavancar a indústria aeroespacial nacional -algo estratégico para o governo na época- e instalado em São José dos Campos.

Menos de duas décadas depois, uma empresa criada com a mão-de-obra egressa do ITA, a Embraer, produziria o primeiro avião brasileiro. Hoje, São José dos Campos abriga a quarta maior indústria aeronáutica do planeta.

Segundo os seis pesquisadores, o exemplo do ITA pode se repetir na Amazônia. A proposta inclui turbinar a pós-graduação local, formando 700 novos doutores por ano a partir de 2009. Em três anos, o número de PhDs da Amazônia subiria de 2.800 para 4.700.

O custo de "tirar o atraso" da ciência amazônica foi calculado em R$ 3 bilhões por ano em um prazo de dez anos no documento, postado no site da Academia Brasileira de Ciências (http://www.abc.org.br). Dito de outra forma, o Brasil precisará desembolsar R$ 30 bilhões, ou uma vez e meia o custo das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, para inventar um modelo de desenvolvimento novo e preservar seu maior patrimônio.

Para os pesquisadores, a troca é mais do que justa, ainda mais considerando tudo o que o governo tem dado de subsídio há quatro décadas para alimentar o modelo de produção agropecuária amazônico, que gera devastação, concentração de renda e violência fundiária. R$ 30 bilhões é o preço de colocar a Amazônia no século 21.

"A Amazônia vive um crescimento econômico do século 19, destruindo floresta pra fazer carvão e destruindo fauna e flora pra botar pastagem. Poucas pessoas conseguiram internalizar a realidade atual do século 21", disse à Folha a geógrafa Bertha Becker, professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Uma das maiores pensadoras vivas da questão amazônica, Becker se uniu ao climatologista Carlos Nobre, do Inpe, ao matemático Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências, ao químico Hernan Chaimovich, da USP, ao biólogo Adalberto Val, diretor do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e ao geólogo Roberto D'Allagnol, da Universidade Federal do Pará, para produzir o documento.

O texto teve boa acolhida em pelo menos uma instância do governo. O ministro Roberto Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), encarregado pelo presidente Lula de desenvolver a Amazônia, gostou da proposta dos cientistas e ficou de apresentá-la ao Planalto.

"Há demanda por produção maior, sim, mas não é preciso destruir tudo para crescer. O que marca hoje nosso sistema econômico é a expansão econômica baseada numa revolução científico-tecnológica. A Amazônia tem toda essa parte devastada, mas tem uma grande extensão de floresta ainda de pé.

E essa floresta é um potencial fantástico para esse novo modo de produzir baseado na ciência e na tecnologia. Não podemos ficar só com uma política de áreas protegidas, por duas razões: porque elas não estão protegendo e porque não geram riqueza e trabalho.

Áreas protegidas não podem competir com pecuária e soja e madeira", diz Becker. Carlos Nobre completa: "Não queremos vencer o jogo com a pecuária. Queremos começar outro jogo".

Para o pesquisador do Inpe, se o governo federal bancar a idéia, o Brasil poderá se tornar "o primeiro país tropical desenvolvido". De sua sala em São José dos Campos, Nobre explicou a proposta em entrevista à Folha.

Autor: Jeison T. Alflen, Fapesp

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