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A elaboração do Plano Diretor para Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo, coordenada pela Fapesp por determinação do Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia (Concite), está em fase de finalização e deverá ter uma primeira versão até o início de 2018. Participaram da elaboração 35 pesquisadores de universidades, institutos de pesquisa e empresas.

A convite da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Informação (CCTI) da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, apresentou aos membros do colegiado, em oito de novembro, os principais desafios que o Plano Diretor aponta para aumentar os impactos social, econômico e científico do Sistema Paulista de Ciência e Tecnologia.

Estiveram presentes à reunião os deputados Orlando Bolçone (presidente da CCTI), Davi Zaia (vice-presidente), Welson Gasparini, Carlos Neder, Jorge Wilson Xerife do Consumidor e Roberto Engler.

Brito Cruz informou aos parlamentares que a elaboração do Plano Diretor contou com a participação das instituições com atividades científicas em São Paulo. Grupos temáticos realizaram levantamentos e apresentaram os pontos aos quais o estado deve dedicar especial atenção. À Fapesp coube, além das suas próprias contribuições, a compilação e a sistematização das informações.

“Um dos pontos de partida para a construção do documento foi o dimensionamento do Sistema Paulista de Ciência e Tecnologia, que se mostrou com certo grau de complexidade, e os investimentos realizados. Foram identificadas 62 instituições com missão orientada para a pesquisa, divididas entre universidades públicas estaduais e federais e institutos de pesquisa, além de quase 15 mil empresas inovadoras. Há também universidades particulares com relevantes atividades de pesquisa”, disse Brito Cruz.

O levantamento indicou a existência de 18 institutos de pesquisa particulares, nove destes em hospitais. O número de pesquisadores no estado chega a 74 mil, sendo que 27 mil deles estão nas empresas.

O trabalho dos comitês do Plano Diretor apontou para desequilíbrios nos níveis de investimento estadual e federal e na formação de recursos humanos em São Paulo.

“Desde 1995, a participação do fomento federal, que era majoritário, vem caindo e sendo substituído paulatinamente pelo estadual, invertendo a relação, sobrecarregando o contribuinte paulista. Cenário semelhante ocorre no oferecimento de vagas em ensino superior. Somente 0,7% dos estudantes paulistas oriundos do ensino médio têm acesso a vagas em instituições federais no estado, ao passo que no Acre 70% dos jovens na mesma condição (ensino médio completo) têm acesso a vagas nessas universidades”, disse Brito Cruz.

Para os formuladores do Plano Diretor, é necessário que o governo estadual estabeleça uma articulação mais efetiva com a esfera federal para que esse tratamento seja mais equilibrado.

A participação da iniciativa privada em atividades de pesquisa é intensa no Estado de São Paulo, segundo os dados apurados. As empresas são responsáveis pelos maiores volumes de investimento em pesquisas (60%), a maior parte executada em seus próprios centros ou departamentos de P&D. O investimento público estadual corresponde a 23% do total e o federal, a 15% – no conjunto dos demais estados, o dispêndio federal responde por 57% do total, o estadual por 17% e o empresarial por 26%.

O Plano Diretor aponta para a oportunidade da busca pelo investimento privado em P&D no estado, inclusive por empresas estrangeiras, contrariando a avaliação de que as multinacionais não investem em pesquisa fora de seus países-sede.

Segundo Brito Cruz, São Paulo precisa usar as oportunidades que estão sendo oferecidas por essas organizações. “Mais do que isso, a qualidade do investimento privado merece atenção, buscando maior competitividade internacional”, disse.

Como exemplo, contou que os dados levantados mostram que nas empresas no Brasil se obtêm 29 registros de patentes a cada 10 mil pesquisadores empregados por empresas. No Japão, essa relação é de 934 para 10 mil.

“Esse cenário não indica que a capacidade dos brasileiros é inferior à dos estrangeiros, mas aponta para uma estratégia menos competitiva da pesquisa empresarial brasileira, que cria menos e adapta mais”, disse Brito Cruz.

Roteiro de ações

Os participantes da reunião na Alesp também destacaram a necessidade de dar mais efetividade aos institutos públicos de pesquisa como instrumentos fundamentais do Sistema Paulista de Ciência e Tecnologia. Essas instituições enfrentam importantes gargalos, como a sustentabilidade financeira e a manutenção do quadro de pesquisadores (redução, idade avançada e salários pouco competitivos).

Segundo Brito Cruz, o Plano Diretor será uma espécie de roteiro de ações que o Estado de São Paulo poderá implementar para fortalecer o impacto social, econômico e científico das atividades de suas entidades de pesquisa e assim conquistar maior competitividade internacional. Mesmo antes da concretização do documento, as instituições começaram a trabalhar nos desafios que foram apontados.

“A Fapesp, por exemplo, já vem criando oportunidades para pesquisas colaborativas entre pesquisadores paulistas e do exterior e se consolida como uma das principais agências no mundo nesse tipo de ação. Também vem promovendo a formação de Centros de Pesquisa em Engenharia, em parceria com empresas. Os bons resultados desse programa possibilitam a criação de novos centros, que têm financiamento de 10 anos compartilhado com empresas e universidades”, disse Brito Cruz.

Os levantamentos realizados para a elaboração do Plano Diretor mostram ainda a produtividade dos pesquisadores brasileiros. Pesquisadores no Estado de São Paulo são autores em quase 50% dos artigos científicos brasileiros publicados por autores do Brasil em revistas científicas internacionais.

Os pesquisadores paulistas publicam mais artigos que os pesquisadores de todos os países da América Latina (excluindo o Brasil). Também aumenta a cada ano o número de artigos em coautoria entre pesquisadores de universidades e de empresas. Mas, da mesma forma com o que se observa na pesquisa empresarial, é preciso estimular maior ousadia e ambição internacional, na busca de mais impacto científico para os resultados.

Ao concluir sua apresentação, o diretor científico da Fapesp elencou os setores destacados no Plano: energia, ambiente, tecnologia de informação e comunicações, equipamentos de telecomunicação, indústria aeroespacial, manufatura avançada, agronegócio, nanotecnologia, saúde, setor automotivo, tecnologia industrial básica, metrópoles e violência e educação.

Brito Cruz destacou ainda que o Plano Diretor aponta a importância de haver uma instância articuladora dos vários entes – estaduais, federais e privados – do Sistema Paulista de Ciência e Tecnologia. Esse papel poderia ser facilitado pelo Concite que, inclusive, seria a autoridade legal responsável pelo Plano Diretor.

Para os formuladores do documento, o Plano Diretor não é de São Paulo, mas para todas as instituições que atuam em São Paulo e, por isso, a articulação de ações entre o governo do Estado, a União e a iniciativa privada é crucial para o desenvolvimento da ciência e tecnologia produzida no estado.

Confap