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Cinco anos atrás, o País enfrentava surpreendente déficit de engenheiros, com empresas recrutando os melhores estudantes de engenharia ainda na sala de aula das faculdades. À época, profissionais mais experientes eram disputados com altos salários, e a busca por mão de obra especializada entrava em espiral crescente. Mas, no decorrer desse quinquênio, dois fatores contribuíram para significativa mudança de cenário: o agravamento da crise econômica em nível nacional e o avanço da Operação Lava Jato em direção, principalmente, às grandes construtoras. Empreendimentos de médio e grande porte na área da construção civil cerraram as portas ou foram obrigados a reduzir custos para garantir alguma sobrevida.
Essa retração afetou mais gravemente a carreira dos novos engenheiros, que haviam apostado todas as fichas numa atividade em visível crescimento e que, devido às marchas e contramarchas da economia, acabaram atingidos em plena ascensão. Ficou a sensação de incerteza de quem se dedicara arduamente aos estudos para obter uma formação acadêmica bem-sucedida e, de repente, viu seus esforços convertidos em frustração.

Nos últimos meses, acompanhei, apreen­sivo, o encolhimento do mercado de trabalho para esses jovens engenheiros. Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho (Caged/MTE) sobre os profissionais recém-formados fora do mercado de trabalho agravaram mais os meus temores. Essa dura realidade provocou – e ainda provoca – graves impactos no desempenho desses jovens, além de comprometer, sobremodo, o desenvolvimento social e econômico do País quando interrompe, mesmo que momentaneamente, trajetórias antes promissoras e indispensáveis a áreas nevrálgicas da construção civil.

Infelizmente profissionais experientes, donos de currículos excepcionais, igualmente foram atingidos pela retração. Conforme levantamento da FNE baseado em dados do MTE, a partir de 2014 a crise alcançou níveis alarmantes, resultando na inclusão de cerca de 50 mil engenheiros nas filas do desemprego Brasil afora. Essa estatística manteve-se em patamar sombrio até meados de 2017, quando passamos a registrar leve recuperação econômica.
Desde então, temos observado iniciativas pessoais rumo ao empreendedorismo como forma de superar esse quadro negativo. Essas certamente se inspiram em trajetórias exitosas, dentre elas a do engenheiro Vicente Falconi, responsável por uma das maiores consultorias de gestão do País, cuja carteira inclui respeitável lista de clientes renomados. Engenheiros com mestrado e doutorado em áreas específicas como implementação de torres eólicas, economia de água em edifícios, piscina em cobertura de edifícios, sistema de esgotamento popular, entre tantas outras, começaram a percorrer o caminho da iniciativa privada, atuando com negócios próprios em áreas antes reservadas somente aos potentados da construção civil brasileira. Que tais esforços sejam bem-sucedidos!

Elias Corrêa dos Santos é presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Amapá (Senge-AP)