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O veículo autônomo vem sendo objeto de pesquisa em países como China, Japão, Alemanha e Estados Unidos, onde gigantes da tecnologia, como Google e Tesla, já estão com seus produtos literalmente na estrada, em teste ou já em fase de comercialização. Especialistas afirmam que em até 20 anos a novidade estará disponível para os consumidores brasileiros e terá tomado as ruas do País em até 30 anos. Parte do esforço para que isso se confirme está sendo empreendida pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) que, desde 2009, desenvolve em seu Laboratório de Computação de Alto Desempenho (Lcad) o Intelligent Autonomous Robotic Automobile, ou simplesmente Iara.

Trata-se de um carro híbrido (com bateria para energia elétrica e motor a combustão) que demonstrou, em maio último, ser capaz de percorrer 74 quilômetros de distância, entre as cidades capixabas de Vitória e Guarapari, passando, com precisão, por pontes, curvas de diferentes ângulos e praças de pedágio, a uma velocidade média de 42 quilômetros por hora, apresentando apenas um erro ao longo de todo o percurso. “Ele só não entendeu o significado do semáforo amarelo piscando, o que é fácil de ser implementado”, comemora Alberto Ferreira Souza, engenheiro eletrônico com especialização em Ciências da Computação e Robôs Humanoides Autônomos, que coordena o Lcad.

Desde quando começaram as pesquisas, o Iara recebeu cerca de R$ 1 milhão, muito menos que os recursos que vêm sendo investidos nos protótipos das grandes empresas, inclusive de montadoras tradicionais como Toyota, que pretende destinar mais US$ 100 milhões a pesquisas nesse campo nos próximos anos. O que barateia o projeto da Ufes é o fato de ser basicamente formado por itens facilmente encontrados em carros comuns ou semiautônomos, como radares, sensores, câmeras, GPS de alta precisão, além de um computador potente que traduz as informações recebidas pelos hardwares. Esses veículos semiautônomos já são capazes, por exemplo, de emitir alertas para a troca de marcha e funcionar no modo piloto automático, utilizando detectores de faixas. Outras aplicações em caráter experimental são a detecção de comportamento do motorista sob estado sonolento e até sistemas de reprodução da trajetória do carro à frente. “A tecnologia do Iara é baseada em localização precisa que consiste em trafegar numa área e mapeá-la previamente para depois passar por esse local utilizando esse mapa construído”, explica o coordenador do Lcad.

O Iara possui múltiplos radares que medem diversas distâncias. O principal deles é o Lidar, que fica no capô do carro e lê o que está no entorno a partir de ondas eletromagnéticas de luz. Além de medir distâncias, o instrumento consegue identificar objetos e pessoas a partir de 32 lasers que são disparados de uma vez só. “Ele gira 20 vezes por segundo e captura mais de 700 mil pontos de distância por segundo”, detalha Souza. Depois de escaneada a área, é gerado um mapa 3D em alta resolução que, posteriormente, é transformado em bidimensional e é projetado no chão, como se fosse uma planta baixa onde o veículo trafega.

Projetos e parceria
Souza relata que cerca de 40 pesquisadores já passaram pelo laboratório, que tem como foco principal entender como o cérebro humano funciona. Atualmente, existem duas linhas de pesquisa principais no Lcad. A primeira, que deve ficar pronta em três anos, é feita em parceria com a Vale do Rio Doce, consistindo no desenvolvimento de um caminhão-pipa autônomo para atuar no controle ambiental durante a extração de minério.

A outra é o desenvolvimento de um ônibus autônomo. “O BRT tem sido nosso objeto de pesquisa, já que ele trafega em um ambiente controlado e, portanto, mais propício para desenvolver essa tecnologia, que acumulamos com o Iara”, comentou. Para manter os investimentos nessa frente, o Lcad está se aproximando da iniciativa privada, como a Geocontrol, que detém parte da Motora, uma startup criada com estudantes da Ufes para alavancar negócios no mercado de aplicações para veículos semiautônomos. Há dois anos, um terço das ações da Geocontrol foi adquirido pela Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer).

“Nossa pretensão é ter em 24 meses um ônibus operando de forma autônoma em São Paulo e em Vitória, caso as parcerias com operadoras de transporte coletivo se consolidem”, declarou Rogério Tristão, sócio-fundador e diretor comercial da Geocontrol. Ele lembra que atualmente todos os carros autônomos em funcionamento ainda precisam de motorista, que continua encarregado de realizar operações como parar em semáforos, fazer curvas mais fechadas, uma vez que são feitos para trafegar em condições ideais, como rodovias. Mas a tendência são veículos que dispensem a presença de uma pessoa ao volante: “O objetivo é contribuir para aumentar a eficiência, reduzindo o número de acidentes, melhorar o fluxo nas cidades, com mais conforto na viagem”, conclui.