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O interesse em garantir produtos orgânicos a baixo custo ou em simplesmente desenvolver uma atividade sustentável tem feito proliferar o cultivo, especialmente de ervas e hortaliças, em espaços domésticos restritos. Para os que aderem à tendência, é preciso, contudo, observar requisitos básicos para que haja produção. Esses são iluminação, rega e tratamento do solo, além de dedicação e paciência.

A engenheira agrônoma Flávia Maria Vieira Teixeira Clemente, supervisora da Área de Transferência de Tecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), enfatiza a importância da incidência solar – pela manhã ou à tarde – para garantir o crescimento da planta, que se dá fundamentalmente pelo processo de fotossíntese, através do qual ocorre a obtenção de glicose, fonte de energia essencial. É a luz que promove a absorção de água, minerais e dióxido de carbono.

“É preciso um lugar em que bata sol de quatro a cinco horas por dia. Recomenda-se regar antes de sair de casa e ao chegar. Isso até que fiquem mais fortes e maiores. Vai depender do lugar e condições. Aos poucos você adquire sensibilidade para perceber se murchou ou se molhou demais, que é o que mais ocorre, levando ao apodrecimento das raízes”, explica. Para quem quer comodidade ou vai se ausentar por períodos mais longos, os vasos autoirrigáveis são uma opção.

Os vasos utilizados precisam permitir a drenagem para que a água escorra. O ideal é garantir um fundo mais poroso e com maior circulação de ar, forrando o utensílio com pedras, por exemplo, antes de colocar a terra. Conforme Clemente, pode ser mais fácil obter sucesso com o plantio a partir de mudas em vez de sementes. É também possível combinar ambas no mesmo canteiro. Deve haver pelo menos 20 centímetros de distância entre a raiz e as paredes e fundo do vaso.

Apesar das limitações, a agrônoma, que é autora do guia “Horta em pequenos espaços”, disponível no site da Embrapa, afirma ser bastante razoável cultivar alimentos em casa. “É uma opção viável e com bastante variedade. Para as folhosas, por exemplo, é uma excelente alternativa. O tomate é tido como vilão devido ao maior acúmulo de agrotóxico. No entanto, você consegue higienizá-lo com mais facilidade, com bucha e sabão neutro. Já uma alface apresenta mais dificuldade para lavar”, pondera.

Plantando na praça e no telhado
Além das hortas domésticas, há as comunitárias, que surgiram a partir de 2011 em cidades como São Paulo. A iniciativa nessa capital começou com os Hortelões Urbanos, grupo de discussão no Facebook para trocar informações sobre horticultura. Hoje são 15 pontos e foi criada a União de Hortas Comunitárias de São Paulo, que divulga na internet os espaços disponíveis e a rede de voluntários.
“São iniciativas coletivas, comunitárias de cidadãos que decidiram ressignificar os espaços urbanos, sem intenção de comercialização. Qualquer um pode participar, desde que respeite o trabalho já desenvolvido pelos voluntários fixos”, conta Gustavo Nagib, geógrafo e doutorando em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP).

Ele é membro fundador do Grupo de Estudos em Agricultura Urbana, do Instituto de Estudos Avançados da mesma universidade e foi voluntário na horta da Praça das Corujas, no bairro da Vila Madalena, experiência pioneira na cidade. Dessa surgiu o trabalho acadêmico sobre o tema e o desenvolvimento do conceito da “agricultura urbana como ferramenta de transformação política” nas grandes cidades. “Junto com as hortas comunitárias há outras práticas sendo realizadas, como compostagem e cisternas para captação de água de chuva. É um modelo de ativismo com práticas cotidianas que levam a uma educação socioambiental, não tem finalidade de abastecimento”, conta.

Outra prática que começa a ganhar espaço são as hortas nas lajes. Segundo o engenheiro Amir Hernandez Musleh, um dos sócios da Ecra Sustentabilidade, mais do que uma opção para produção de alimentos, trata-se de uma visão de sustentabilidade urbana, que envolve ainda conforto térmico e geração de energia solar. “Desenvolvemos um conceito de horta em 1m2, tanto individual quanto comunitária. Se a laje for grande você acaba produzindo mais do que consegue consumir”, detalha.

Saiba mais
Guia “Horta em pequenos espaços”
União de Hortas de São Paulo
Ecra Sustentabilidade