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Um ensino para além da formação técnica sólida, associado ao desenvolvimento mais humanístico e empreendedor, tendo em vista o lugar central da engenharia na geração de conhecimento, tecnologias e inovações no mundo atual. A questão esteve em pauta no dia 19 de março último, em seminário realizado na sede do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), na capital paulista, e organizado pela Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge). O tema central do encontro foi “Educação empreendedora e novas diretrizes curriculares em engenharia”. À abertura, o presidente da FNE, Murilo Pinheiro, falou sobre a honra em sediar um evento que está em consonância aos próprios fundamentos da criação do Isitec, em 2015, pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp), com apoio da federação. “O nosso propósito é oferecer um curso de excelência. Mostramos à sociedade que uma entidade sindical tem compromisso com o País em todos os sentidos, com justiça social, desenvolvimento, educação, história e cultura.”

Na sequência, Elzo Alves Aranha, professor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) e do Grupo de Trabalho (GT) de Educação Empreendedora em Engenharia da Abenge, explicou que a atenção à “interface entre educação empreendedora e engenharia” começou em 2006 e envolve, desde então, professores e empresas pesquisando e trocando experiências extremamente positivas sobre a questão. Encampa essa iniciativa a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O grupo produziu documentos que abarcam a revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) dos cursos de graduação em engenharia. Tal esforço gerou uma proposta que foi encaminhada ao Conselho Nacional de Educação – órgão ligado ao Ministério da Educação –, no início de março.

Aranha relacionou algumas características do engenheiro com o perfil empreendedor: humanista, crítico, reflexivo, criativo, cooperativo, ético, apto a pesquisar, desenvolver, adaptar e utilizar as tecnologias. “Ele precisa ter uma visão bem sedimentada, liderança, energia e muito relacionamento e comunicação.” Conforme esclareceu o professor Vagner Cavenaghi, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Bauru, que também integra a diretoria da Abenge, o profissional empreendedor não é, necessariamente, quem cria o próprio negócio.

No seminário, o diretor da Abenge e professor do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Octavio Mattasoglio Neto, afirmou que nas DCNs atuais o empreendedorismo não recebe a atenção devida, podendo ser visto apenas, e de forma pouco profunda, em alguns artigos. Com isso, o Brasil ocupa, em ranking envolvendo 65 países, o 56º lugar em educação empreendedora. Ao mesmo tempo, disse, o País tem uma colocação razoável quando se trata de empreendedorismo após a formação. “Isso demonstra que o brasileiro tem uma vocação para empreender, mas as escolas não dão atenção ao tema.”

A revisão das DCNs, que devem ir a consulta pública, garantem os professores, é peça-chave desse processo para que as diversas modalidades da engenharia contribuam para aumentar a produtividade e ampliar as possibilidades de crescimento econômico. Nesse sentido, demonstraram em suas exposições, as salas de aula tradicionais devem ser transformadas em ambientes de aprendizagem ativa, abrindo espaço à adoção de tecnologias digitais, que permitem o uso da sala de aula invertida – quando o aluno estuda previamente o tema da aula a partir de ferramentas online. Os professores, portanto, assumem função de tutor, deixando de ter um papel principal e central na geração e disseminação de conteúdos.

Experiências no Isitec

Phelipe Pedrosa da Silva Mendes, do 7º semestre e da primeira turma do Isitec, na parte da tarde do evento, foi um dos oito expositores de trabalhos técnicos selecionados pela Abenge. Mendes apontou as principais motivações à criação do curso de Engenharia de Inovação: lacunas no desenvolvimento da indústria brasileira e contribuição para o crescimento nacional. Na apresentação, ele destacou o apoio da FNE à ideia encampada e executada pelo Seesp em criar uma graduação diferente. O estudante explicou que o curso do Isitec tem como objetivo “formar profissionais multidisciplinares, capazes de inovar em diversas áreas da engenharia, com uma visão técnica, social e empreendedora, o que atenderá às mudanças necessárias para acelerar o desenvolvimento do País”.

Em convergência com a proposta de revisão das DCNs da Abenge e MEI-CNI, Mendes, em seu trabalho, salientou que “a concepção inicial da Engenharia de Inovação era formar indivíduos com um sólido conhecimento nas áreas mais comuns da engenharia (mecânica, química, civil, elétrica, de produção etc.), numa concepção holística das áreas técnicas”. Para tanto, explanou, o discente do Isitec desenvolve competências em liderança e comunicação em disciplinas como Laboratório de Linguagens e Equipes de Inovação e Design, que são novidades à maioria dos cursos nacionais de engenharia.

O seminário da Abenge abriu espaço para relatos de casos de empreendedorismo, com as experiências de Rafael Augusto Gonçalves, da Fundação de Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE); de Alexandre Augusto Mosquim, da Votorantim Cimentos; e de Diogo Dutra, professor de Inovação e Empreendedorismo do Isitec, que falou sobre o projeto desenvolvido por alunos da instituição com a empresa Citrosuco, por meio do programa “Apadrinhamento empresarial”. Ao final, o professor Flavio Feferman, da Universidade da Califórnia (EUA), fez uma palestra online sobre a experiência da UC no ensino do empreendedorismo. O objetivo da instituição, destacou, é “aprender fazendo”. Para tanto, oferece um laboratório que simula uma startup, com professores e mentores que dão feedback contínuo às equipes durante oito semanas.