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O Brasil atingiu, no início de 2018, 1 gigawatt de potência instalada em usinas fotovoltaicas conectadas à matriz elétrica nacional; no mundo o número de instalações no setor chegou a 98 gigawatts (GW) em 2017. Os dados demonstram a forte tendência de crescimento desse tipo de geração de energia. Para que decole definitivamente, no entanto, falta política de Estado estruturante, apontam especialistas.

“A tendência do mercado é crescer cada vez mais, principalmente on grid, que é conectada diretamente à rede elétrica da distribuidora, as chamadas micro e minigeração distribuída. Mas a esperada redução de preço pode demorar um pouco porque dependemos do câmbio, do consumo mundial de equipamentos, do valor da conta de luz e da situação política e econômica do País e do mundo”, elenca o empresário e consultor na área Elieser Souza, integrante do Conselho Tecnológico do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp), filiado à FNE.

A geração distribuída pode ser realizada na própria residência ou estabelecimento comercial; próximo ao local, nos chamados condomínios; ou compartilhada, quando diversos consumidores formam um consórcio.
Na sua avaliação, embora tenha havido redução de Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias (ICMS) em quase todos os estados – com exceção de Amazonas, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina –, exista demanda maior e novas tecnologias estejam surgindo, ainda faltam medidas de grande impacto que deem segurança ao mercado. Entre as principais variáveis, está o custo de componentes e equipamentos, hoje majoritariamente importados da China, que precisa baixar para que a energia solar se torne mais competitiva. “A imprensa propaga muito essa redução de preço, mas, devido à alta do dólar, observo o contrário. Fiz um projeto neste mês muito parecido com outro que ficou pronto em agosto de 2017, e o rol dos equipamentos já está 10% a mais”, testemunha Souza.

Tendência positiva
Atualmente, a micro e a minigeração ultrapassam 26 mil instalações que geram 226 megawatts de potência instalada. Favoráveis à expansão do uso da energia solar são os fatores ambiental e social. O Brasil, bem como demais países – com exceção de Estados Unidos, Nicarágua e Síria –, é signatário do Acordo de Paris, que prevê até 2030 a redução da emissão de poluentes para estabilizar as temperaturas do planeta. Cumprir tal meta exige utilização de fontes consideradas limpas e que não causem impactos à população como, por exemplo, as usinas hidrelétricas. Souza cita Belo Monte, no Pará, como exemplo dessa situação. “Foi um gasto altíssimo para uma usina de baixo rendimento, sujeita ao clima, que causou estrago ambiental assustador, além do social para a região. Também não há terreno para construir uma nova Itaipu”, analisa. Para ele, é preciso aproveitar o momento e discutir um novo modelo para o setor fotovoltaico.

A geração distribuída de energia solar pode ser uma forma de evitar que os consumidores sejam penalizados por alta das tarifas que pode acontecer com a perspectiva de nova onda de privatizações no setor. Leilão promovido pelo governo federal em 4 de abril último pode ser a confirmação dessa tese. Destinado à contratação de novos investimentos em projetos de geração de 1GW em novas usinas, a partir de 2022, o certame rendeu mais de R$ 5 bilhões. As usinas solares corresponderam a quase 80% da energia negociada, com 806,6MW (megawatts) em capacidade, com preços entre R$ 117,00 e R$ 118,00 por MWh (megawatt-hora), que representaram deságio de cerca de 60% em relação ao teto estabelecido.

Novidades
Enquanto as usinas e a micro e minigeração utilizam os módulos tradicionais de placas fotovoltaicas, já há novas possibilidades. O Centro Suíço de Eletrônica e Microtecnologia (CSEM) Brasil criou a Sunew, startup mineira que desenvolveu o filme fotovoltaico orgânico (OPV na sigla em inglês), que contém circuitos eletrônicos de plástico flexível, transparente, com baixo consumo de energia, fabricados por impressão, capazes de converter a energia do sol em elétrica. O processo é semelhante ao da placa convencional, o que muda são o desenvolvimento e a fabricação, “que consiste na impressão no filme com tinta que contém material com semicondutores”, explica o engenheiro mecânico Guilherme Oliveira, supervisor de processos internos da Sunew.

A alternativa, contudo, ainda não concorre no mercado com as placas tradicionais, já que tem preço cerca de 20 vezes maior e menor eficiência. “Nosso custo hoje é muito alto devido à matéria-prima que é importada, e o volume fabricado ainda é muito baixo. É uma tecnologia muito nova, temos um longo caminho a percorrer, mas acreditamos num avanço rápido. Até lá, apostamos em clientes que querem vantagens competitivas como sustentabilidade”, afirma o engenheiro. Segundo a Sunew, até agora, foram 14 instalações no Brasil e duas no exterior.