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Em tempos de crise econômica, política e institucional sem precedentes, os desafios diários impostos a nós, sindicalistas, no trabalho pela valorização profissional dos representados adquirem novas cores e novos formatos. Concentrados originalmente na defesa e na exigibilidade do piso salarial do engenheiro e no regramento do exercício profissional, os fundamentos da ação sindical são agora complementados pela imprescindível inserção da categoria nos temas do desenvolvimento nacional e, de forma especial, no atendimento das demandas dos futuros engenheiros, que, a partir dos bancos universitários, emitem sinais claros de inconformidade e desestímulo em relação às suas carreiras.

 

 A ampliação da presença do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio Grande do Sul junto aos acadêmicos de engenharia e professores de dezenas de universidades de todas as regiões do estado tem proporcionado a mim e à entidade uma oportunidade ímpar de identificação desse desafio. Não resta dúvida que muito precisa ser feito em favor do futuro das novas gerações e que esse trabalho está em nossas mãos e não pode ser retardado.

 De maneira geral, tenho colhido desses encontros uma série de evidências que reiteram um conjunto de vulnerabilidades no modelo de ensino das engenharias em nosso país. Apesar de ser verificada também nos períodos de desenvolvimento econômico, a dissociação dos conteúdos acadêmicos com a realidade do mercado de trabalho é, talvez, o fenômeno mais latente, embora não seja o único. Somam-se a isso deficiências significativas na qualificação em disciplinas como gestão e marketing, conhecimentos que hoje em dia são vitais ao trabalho do engenheiro, seja em organizações públicas, seja na iniciativa privada. Por outro lado, o que mais preocupa são as consequências nefastas da recessão econômica projetadas na drástica redução das vagas de emprego em todos os setores e em todos os níveis profissionais, que têm causado verdadeiro estrago no grau de otimismo dos universitários. A oscilação no ritmo do desenvolvimento econômico torna o futuro das carreiras uma visão nebulosa e reproduz na sua dramaticidade situações idênticas vivenciadas pela engenharia brasileira em diversos momentos da nossa história recente. Também são relevantes os dados fornecidos pelo Censo da Educação Superior 2015, realizado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Naquele ano, nada menos do que 2 milhões de jovens brasileiros buscaram acesso via vestibular às quase 900 mil vagas disponibilizadas pelos 3.842 cursos de engenharia, mas apenas 345 mil matrículas foram efetivadas, ao mesmo tempo em que menos de 82 mil estudantes conquistaram seu diploma de engenheiro.

Fica evidente que devemos oferecer todo o apoio das nossas entidades aos estudantes e aos jovens profissionais, incorporando a proteção dessa legião de colegas nas pautas diárias da ação sindical. A defesa da engenharia brasileira, do mercado de trabalho, do desenvolvimento e da soberania nacional, acompanhada de um posicionamento forte contrário à supressão de direitos trabalhistas e previdenciários, integra, da mesma forma, esse pacote de ações.

 

Alexandre Mendes Wollmann é presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio Grande do Sul (Senge-RS)