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Aconteceu em 15 de fevereiro último a aula inaugural da segunda turma de Engenharia de Inovação do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), que tem o Seesp como entidade mantenedora e é apoiado pela FNE. O grupo ingressante é formado por 25 estudantes, que começam a consolidar a característica do corpo discente da instituição. Entre os aprovados no processo seletivo, que atraiu 409 inscritos, nove saíram de escolas públicas, sendo cinco de escolas estaduais, três de Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) e um de escola federal. Eles têm entre 17 e 28 anos, e a maioria é da cidade de São Paulo.

“Esse é um novo perfil do estudante do Isitec que está se desenhando e acredito que o tenhamos obtido com a nossa metodologia, que neste ano fez uma avaliação mais fina e acabou captando esses jovens. Diferentemente do ano passado, na primeira turma, bastante heterogênea, a de agora é formada em sua maioria por jovens e muitos vindos de escolas técnicas de excelente qualidade”, explica José Luís Marques López Landeira, professor de Laboratório de Linguagens do instituto e responsável pela elaboração do vestibular. Selecionados a partir da soma do teste de análise de aptidão lógica online, do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e de prova de análise e interpretação de linguagens com 20 questões de múltipla escolha e uma redação, preparadas e aplicadas pelo Isitec, todos contam com bolsas de estudo custeadas pelo Seesp e ajuda de custo de R$ 500,00.

O físico e diretor de graduação, José Marques Póvoa, lembra que o critério foi o mesmo de 2015, porém ressalta: “Aprendemos muito com a primeira turma e fizemos mudanças. Elas nunca podem acabar, porque senão vira um curso tradicional”, conta, frisando a importância de integrar conteúdos tradicionais aos modernos.

Quem atesta a importância dessa evolução é João Marcos Sales Oliveira, 18, que foi da primeira turma da graduação em 2015. Ele desistiu do curso em outubro último, depois de enfrentar dificuldades de adaptação à capital paulista, já que vem de longe, de Rondônia. “As intempéries de deslocamento para o Isitec, somadas às dificuldades do curso e à saudade da família falaram mais alto”, justifica. Quando voltou à sua cidade, o arrependimento bateu: “Precisei prestar novamente o vestibular e faria outra vez se fosse necessário. Eu já tinha avisado o professor Póvoa que eu não desistiria facilmente”, comemora Oliveira, também aprovado no processo seletivo atual. Na sua avaliação, a prova deste ano foi bem mais exigente.

Aptidões valorizadas

Oliveira reúne características que foram bastante valorizadas no exame deste ano. “Queremos um estudante que consiga compreender o que ouve, o que lê e que relacione as aprendizagens entre si e com o mundo em que vive”, conta Landeira. Também não pode ser somente voltado à aplicação de cálculos, tradicionais à engenharia. “Leonardo da Vinci era engenheiro, assim como Manoel Bandeira. Ou seja, precisa ter sensibilidade para dialogar com todas as questões”, completa o professor.

Quem também tem esse perfil é Thais Martins Rego, 20 anos. Moradora da zona sul de São Paulo, estudou em escola pública e não fez cursinho. “Soube do curso por um amigo da minha mãe no final do ano e consegui fazer a inscrição a tempo. Todos na família ficaram felizes, principalmente meu tio, que fez matemática, mas sempre quis ser engenheiro”, conta Martins, que será a primeira da família na profissão. Thais Dornelas Mariano Rodrigues Meireles, 28, por sua vez, afirma que desde os 17 anos quer ser engenheira. “É a oportunidade da minha vida”, enfatiza ela, que já é formada como tecnóloga em alimentos e em curso técnico de segurança do trabalho.

Casada e com uma filha de cinco anos, Meireles se encantou com a “proposta desafiadora”. Para Lincoln Luiz Victorio Filho, 21 anos, foi a terceira tentativa de ingressar na área, após dois anos de cursinho. Quando soube do Isitec pela mãe, que é metroviária, logo se interessou. “Sempre quis fazer engenharia e havia tentado outras faculdades. Consegui entrar no curso de mecânica, na Fatec (Faculdade de Tecnologia de São Paulo), à noite, há 1,5 ano. Quero tentar manter junto com o Isitec”, conta. O estudante diz estar um pouco assustado com a nova metodologia, cuja dinâmica depende, em suas palavras, “de os alunos correrem atrás dos conteúdos”. Questionado se pensa em desistir, responde imediatamente: “Não, quero ficar. É esse tipo de desafio que eu precisava.”

A nova metodologia não intimidou Sandor Fleury Pereira, 19 anos, que fez escola pública federal e passou também no vestibular da Universidade Federal do ABC (UFABC). No entanto, preferiu a graduação do Isitec. “O curso é genial. No ensino médio sempre estudei sozinho. É muito chato. Aqui (no instituto) a dúvida é sempre de um grupo, que procura resolver conjuntamente. É diferente de tudo o que me falavam sobre uma faculdade”, exclama, lembrando que os professores estão sempre disponíveis para a troca de informação e compreensão do processo. Ele já está completamente envolvido e entrou para a turma dos que não conseguem sair no horário. “Entro às 8h e deveria ficar até umas 16h ou 18h, dependendo do dia. Mas quando vejo, já são oito da noite”, surpreende-se. “Agora sei que é isso que eu quero: ser engenheiro de inovação, poder trabalhar em diferentes áreas ou numa indústria de um produto que não é propriamente material, mas que tenha valor para as pessoas, para a construção de uma sociedade melhor”, conclui.

Saiba como foi o primeiro dia de aula, que contou com a presença do presidente da FNE, Murilo Pinheiro: http://goo.gl/pGbAZF.

Deborah Moreira