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world foodQuando se trata da fome no mundo (invariavelmente) os números parecem brigar, pois os relatos sobre as quantidades de pessoas que morrem anualmente devido à falta de ter o que comer são, em muito, controversos. Muito possivelmente as divergências nos totais de pessoas que passam fome ou que morrem de fome se dão, em grande parte, porque nos locais mais miseráveis do planeta sequer existem meios efetivos para se realizar os necessários levantamentos e contabilizações.

De outro lado, não se deve esquecer, também, que o fenômeno da fome é tornado invisível ou é relegado a segundo plano de importância mesmo nos locais onde se concentram as maiores fortunas, existem os mais elevados progressos e desenvolvimentos tecnológicos e se apresentam os melhores meios de comunicação do mundo.

Independentemente, entretanto, das possibilidades de se identificar e divulgar os totais de mortes pela fome nenhuma justificativa é aceitável para se manter a horrenda situação miserável de existirem seres humanos morrendo de fome em pleno século XXI.

O aumento da fome mundial é decorrente da pobreza no mundo que atualmente não está diminuindo. Na verdade, a miséria, aliás, nunca esteve em baixa efetivamente. Pelo contrário, sempre aumentou (com o aumento das populações). Porém, de tempos em tempos são redefinidas as metodologias de contabilizar a miséria, mas a miséria continua lá se alastrando intensamente (em muitas das vezes, invisivelmente) dia após dia servindo para matar número cada vez maior de pessoas.

Efetivamente, porém, nenhuma das tentativas de se recontar os afetados pela insegurança alimentar vai conseguir dissimular a realidade dos homens (principalmente das crianças) que estão morrendo de fome em pleno mundo 4.0 (na quarta revolução industrial) onde avançadas tecnologias e a inovação promovem constantes avanços, mudanças e seguidas disrupções que, em tese, deveriam promover o bem da humanidade.

A despeito dos conflitos quanto à precisão nos números relacionados com os totais de populações que passam fome e sede no mundo existem médias aproximadas que dão conta que sobe para quase um quarto da população mundial (próximo de dois bilhões de indivíduos) a quantidade de seres humanos que sofrem com a insegurança alimentar, que sofrem com a fome, frequentemente, todos os dias.

Milhões de pessoas não terão o que comer hoje, amanhã e depois de amanhã também. Próximo de 1/3 da humanidade sofre de anemia. Em média, estima-se que 8 milhões de pessoas terão morrido de fome somente até o final deste ano de 2020. Cerca de outros um milhão de pessoas morrem anualmente em decorrência de doenças relacionadas com a água e mais de um bilhão de pessoas no mundo não possuem acesso a água potável.

Um quinto das crianças do mundo não ingerem quantidades suficientes de calorias e proteínas para ter uma vida minimamente saudável; sendo estimado que em torno de 45% das mortes anuais de crianças com menos de 5 anos são determinadas pela fome. Absurdo. Desgraçado. Ultrajante em todos os sentidos.

Mas, as mortes pela fome vão aumentar ainda mais devido às crises geradas pela pandemia de Covid-19. Estudos oficiais já demonstram que ocorrerá um aumento entre 80 a 130 milhões a mais no número de pessoas que estariam sofrendo gravemente de desnutrição no mundo; sendo registrado atualmente o espantoso número de mais 110 milhões de pessoas que sofrem com a fome extrema no mundo. Isto porque estas pessoas vivem em estado de pobreza absoluta e possuem renda tão baixa que são impedidos de ter uma alimentação mínima diária satisfatória.

Em um mundo no qual somente as despesas governamentais com as Forças Armadas giram em torno de 1,8 trilhões de dólares por ano e se gasta anualmente cerca de 110 bilhões de dólares com a compra de videogames é inaceitável que quase a metade da população mundial viva abaixo da linha de pobreza e sofra intensamente diariamente para satisfazer as necessidades básicas para viver.

Todavia, no cenário monstruoso da fome é totalmente incompreensível que no mesmo planeta esteja sendo produzida quantidade de comida mais que o suficiente para alimentar a todas as pessoas. Para dizer o mínimo, é apenas um absurdo que exista tanto desperdício de alimento em todas as regiões do mundo e que, também, a falta de se ter o que comer para alguns se deva à estúpida (sem sentido) cultura da abundância.

Um terço da produção mundial de alimentos é desperdiçada anualmente. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), do plantio à mesa das pessoas, cerca de 1,3 bilhão de toneladas de comida são jogadas no lixo todos os anos e deste total de comida perdida apenas 25% já seria suficiente para alimentar adequadamente as populações que passam fome no mundo.

De um lado a cultura da abundância com safras não dimensionadas adequadamente promovem a geração de quantidades enormes de alimentos que por si só são em muito perdidas por não poderem atender populações suficientemente grandes para consumi-las. De outro lado, o desperdício ocorre, também, em boa parte, nas fases anteriores ao consumo pela falta de tecnologias ou técnicas adequadas ou inexistência de planejamento tanto no plantio e no transporte quanto no armazenamento.

Além do mais, a perda de bilhões de toneladas de alimentos gera inúmeros outros diversos (sérios e danosos) impactos na natureza como o inadequado processo de descarte dos correspondentes resíduos que acarretam diversas contaminações e doenças comprometendo a sustentabilidade do mundo.

Quanto à cultura da abundância, cabe ressaltar, ainda, que em países como o Brasil a mesma se caracteriza pelo “excesso” incontrolado. “É melhor sobrar comida no prato do que faltar comida na mesa”. Assim, em muitas das vezes, muitas famílias compram muito mais comida que realmente precisam e preparam quantidades de comida sem a menor preocupação em avaliar o quanto é necessário realmente para o sustento. Países que não tiveram no passado severas crises restritivas de alimento tais como as decorrentes das guerras ou que possuem grandes extensões de terras para plantar ou que dispõe de muitos recursos são aqueles que mantém a cultura da abundância desperdiçando irresponsavelmente toneladas de alimentos sem a menor preocupação com o futuro.

A despeito das enormes quantidades de comida produzidas no mundo não se pode esquecer que a fome é utilizada, também, como arma de guerra de uma forma monstruosa e desumana. Sim, em diversos conflitos bélicos a fome é utilizada como uma poderosa arma contra o inimigo.


É necessário, então, atenção sobre esta questão para que o mundo civilizado mantenha cooperação multilateral para se combater este uso abominável da fome. Assim, a promoção da paz no mundo e o combate à fome devem caminhar lado a lado. Um mundo em paz no qual prevaleça a cooperação entre os homens poderá contribuir para a extinção da fome. 

“Para acabar com a fome necessitamos evoluir como humanidade. Para evoluirmos como humanidade é exigido acabar com os conflitos bélicos entre os homens e garantir a paz. Se existir a paz entre os homens, nenhum ser humano morrerá de fome”. 

O mais grave (ou incompreensivo) em todo o contexto da morte pela fome decorrente da miséria e da insegurança alimentar de milhões é que não se faz necessário muitos recursos relativamente para se acabar com a fome no mundo.

Estudos já demonstraram que bastariam cerca de apenas 13 bilhões de dólares anuais para se satisfazer as necessidades básicas nutricionais das pessoas em todo o mundo; quantia esta que é igual (aproximadamente), por exemplo, ao que a população de determinado país do primeiro mundo gasta anualmente tão somente com a compra de perfumes.

“Enquanto existirem pessoas morrendo de fome ou passando fome em qualquer lugar do mundo o futuro dos homens (enquanto humanidade, enquanto sociedade) estará seriamente comprometido. Esta atrocidade e subjugação do homem pelo homem ao permitir que semelhantes morram de fome tem que acabar. A fome tem que ser eliminada da face terra. Não se pode continuar com a monstruosidade de se deixar qualquer pessoa morrer por não ter o que comer”.

Inicialmente pensou-se que a partir do assustador 2020 seria possível uma virada de página na história da humanidade quanto à solidariedade entre os homens. Todavia, já há evidencias que poucas mudanças ocorrerão em tal direção. Somente para citar um exemplo, oportunistas de plantão ou sempre bandidos à espreita serviram-se da solidariedade durante a pandemia como tática de manobra para continuar enganando, roubando e se aproveitando de todas as formas dos menos favorecidos, dos miseráveis, dos desgraçados invisíveis, daqueles que estão passando sérias necessidades e morrendo de fome ou de doenças.

A humanidade mais uma vez está perdendo a chance de ser melhor (efetivamente). As nações poderiam aproveitar o momento atual para mitigar as consequências desastrosas da pandemia para instituir políticas públicas universais de estado (efetivas) para acabar de vez com fome, pois há muito é sabido não é necessário muito. É possível sim extirpar a fome da face do planeta. Não é uma questão de recursos e sim de entendimento e de posicionamento político. Basta compreender o significo pleno de solidariedade e colocá-lo em prática.

Mas, seja como for, os seres humanos que sempre possuem o que comer possam pensar (seriamente) como poderão contribuir para gerar soluções que venham acabar com a dor infinita dos milhões de seus semelhantes que sofrem com a fome ou que acabarão morrendo de fome. Que 2021 seja o ano a partir do qual a humanidade passará a comemorar a erradicação da fome no mundo não tendo mais que conviver com o horror de ter os homens morrendo de fome.

Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro efetivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI), líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC), personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep). 

Imagem: Reprodução.

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