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Responsabilidade Social nas EmpresasDiante das diversas crises que o mundo vive, em particular, neste atípico 2020, fica muito evidente a necessidade de se rever posicionamentos e práticas para o ressignificado de condutas sejam no âmbito pessoal ou no empresarial.

Preocupações sociais, posicionamentos corporativos diferenciados e acentuados desenvolvimentos tecnológicos disruptivos se mesclam na tentativa de melhor mitigar as inúmeras consequências geradas visando mais adequadamente atender as pessoas, os cidadãos, a sociedade como um todo. 

No que tange, especificamente, à ideia de responsabilidade social das empresas muito se tem defendido que embora, em tese, o dever das empresas consista (basicamente) em gerar lucros, é possível construir projetos de responsabilidade social empresarial adequados que possam, também, gerar grandes vantagens competitivas para as empresas e ao mesmo tempo, em simbiose, garantir benefícios reais para a sociedade como um todo.

Vários empresários de sucesso defendem que já se foi o tempo em que cabia apenas às pessoas praticar a responsabilidade social, pois as empresas não só podem como devem ser responsáveis por implementar em seus meios necessárias políticas de RSC (Responsabilidade Social Corporativa) para um melhor desenvolvimento da sociedade e para a ampliação do alcance competitivo.

A RSC ou Responsabilidade Social Corporativa Empreendedora, conhecida, também, como Responsabilidade Social Empresarial, corresponde àquela contribuição voluntária e empreendedora responsável das empresas para promover o desenvolvimento sustentável em diversos sentidos e que atualmente extrapolam em muito os requisitos legais sobre a necessidade de cumprimento de regras e normas relacionadas com preocupações sociais e com boas práticas.

Observe-se que as chamadas boas práticas fazem referência ao conjunto de ações consideradas como as melhores (ou mais adequadas) para realizar determinada tarefa sejam elas pessoais ou empresariais.

As boas práticas relacionadas à RSC nas empresas são importantes para disseminar a ideia que as empresas podem (e devem) contribuir, efetivamente, na melhoria permanente do bem-estar das pessoas e para o desenvolvimento sustentável dos negócios.

Planejar ações de boas práticas de RSC não é das tarefas a mais simples dado que devem, de um lado, promover a empresa afim de gerar mais lucros e, de outro, garantir que os correspondentes posicionamentos adotados contribuam, efetivamente, para auxiliar a sociedade e para promover a sustentabilidade em suas distintas dimensões.

Para mais adequadamente construir um planejamento de boas práticas de RSC deve-se, inevitavelmente, pensar em ações de RSC que se comuniquem, genuinamente, francamente, tanto com os colaboradores quanto com os clientes. Se o projeto for somente da “boca para fora”, se não houver sinceridade nas propostas, as possibilidades de fracasso são inevitáveis.

Outra importante preocupação na proposição de um plano de boas práticas de RSC é estabelecer estrito alinhamento dos esforços de RSC com a identidade da empresa. Iniciativas de responsabilidade social das empresas que não guardam relação com a identificação da marca facilmente são esquecidas e se perdem com o tempo.

Toda proposta de boas práticas de RSC necessita estar centrada, entretanto, em uma causa que seja boa para todos os envolvidos no processo. As atividades de RSC estabelecidas devem ser atraentes e vantajosas para todos os envolvidos. Se cada um dos atores se perceberem fazendo parte das ações e vislumbrarem importância nas consequências, as ações de boas práticas poderão trazer benefícios dos mais profícuos.

Clareza nos objetivos das ações de RSC é necessária para uma campanha de sucesso. Então, estabelecer uma meta a ser atingida, previamente quantificada e explicita, sem muita complexidade ou prolixidade, é fundamental. As boas práticas de RSC devem ser de fácil percepção, estar ao alcance sem grandes dificuldades e chamar a vontade para a ampla integração. Assim, as ações devem ser mensuráveis, claras e definidas conforme calendários factíveis.

A RSC, integrando mais intensamente o nível estratégico das organizações, vem constituindo, também, parte integrante das estratégias centrais das empresas para possibilitar a ampliação dos campos de atuação e para avançar na qualidade do tratamento de relações internas ou externas quer sejam com os clientes ou com os próprios colaboradores.

Além de passar a ser um diferencial notável e de grande significância a RSC contemporânea permite garantir compliance e maior resiliência das ações das organizações, o que por si somente já constitui importante posicionamento inovador junto ao mercado e à sociedade.

Acrescente-se que enquanto resiliência é entendida como a capacidade de lidar positivamente com adversidades, superar pressões, obstáculos e problemas sem entrar em conflitos diversos, o termo compliance é tomado como o conjunto de prescrições a serem seguidas para cumprir e se fazer cumprir normas, políticas, leis e diretrizes, bem como para evitar, detectar e tratar desvios ou inconformidades de quaisquer natureza.

Ao aprender com os processos que levam às soluções dos problemas com os quais as empresas continuamente se deparam é sempre possível perspectivar, previamente, novas soluções. Assim, a resiliência permite melhor adaptação e maior flexibilidade garantindo às empresas agir prontamente de forma positiva diante de situações adversas.

Quando a compliance faz parte das empresas com estratégias de desenvolvimento são instituídas desde o início medidas para garantir a missão e os objetivos empresarias onde a sustentabilidade corporativa já prevê como avaliar os riscos da corrupção os quais, quando consumados, geralmente geram danos dispendiosos; muitos dos quais irreparáveis. Todavia, já há consenso que não basta apenas seguir as leis uma vez que são necessárias, também, políticas de compliance para garantir a integridade e o sucesso das organizações.

Para a coordenação e controle das novas e indispensáveis atividades de RSC surgem as Assessorias de RSC. Tais assessorias se prestam, também, para garantir procedimentos que permitam a preservação da imagem das organizações e o melhor relacionamento entre as ações institucionais propriamente ditas e o desempenho da gestão com o objetivo de atingir maior eficiência e aumentar a competitividade.

É entendido que a implantação da RSC nas organizações, sejam públicas ou privadas, é importante não apenas porque possibilitará à sociedade a melhor percepção sobre aquilo que se está a ofertar, mas, também, sobre “que influência a organização exercerá sobre a sociedade futuramente, determinando a forma com que a mesma sociedade tomará suas decisões a partir das relações mantidas com a organização que lhe prestou correspondente serviço”.

Quando a organização cria um código de conduta sólido para todos a ser observado nos distintos níveis organizacionais e tem inserida na missão e nos objetivos a real preocupação com os impactos na sociedade, indo além das exigidas regras legais de RSC, os negócios se ampliam, é atingida competitividade sustentável, ocorre crescimento equilibrado e todos saem beneficiados. 

Deve-se, entretanto, não se deixar enganar com as ações de RSC haja vista que, atualmente, muito daquilo que em um passado próximo se entendia por práticas de RSC não passam, na verdade, de simples procedimentos obrigatórios estabelecidos pelas legislações vigentes.

Assim, como facilmente é possível verificar se as virtudes difundidas por uma organização não são verdadeiras as Assessorias de RSC devem atuar tanto no nível executivo e gerencial quanto de direção afim de se evitar quaisquer equívocos tais como mostrar para o público que a organização desenvolve ações positivas, por exemplo, no campo dos impactos ambientais gerados se fazendo parecer ambientalmente responsável quando se poderia constatar que não possui correspondente distinção. A desconfiança ou o ceticismo em torno das proposições RSC tem favorecido a quebra de muitas empresas.

A RSC da empresa deve evidenciar aquelas atividades que demonstrem claramente com o quê a empresa está preocupada, bem como necessita avaliar quais impactos vai causar seja diretamente no ambiente onde está inserida ou indiretamente por intermédio das ações que desenvolve. Desconhecer os danos que pode gerar para os colaboradores ou para a sociedade é tão ruim para a organização quanto prometer aquilo que não se pode cumprir.

Independentemente de outras tantas questões que poderiam ser apresentadas sobre as ações de RSC contemporâneas não se deve perder de vista jamais que RSC envolve franca relação com os vários atores da sociedade envolvidos sejam eles da própria empresa ou externos. Para além de quaisquer tendências ou conceitos, a RSC, ao integrar as estratégias de negócio das empresas, deve levar em conta, necessariamente, o respeito pelas pessoas e pelo meio ambiente sustentável, pois os demais comprometimentos são tão somente consequências diretas e imediatas.

Carlos Magno Corrêa Dias é professor, conselheiro efetivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI), líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC), personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep). 

Imagem: Geet Stok