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Paris tem a Torre Eiffel; Londres, o Big Ben; o Rio, o Cristo Redentor; New York, a Estátua da Liberdade. As mais importantes cidades têm seus ícones. São Paulo tem o Masp, prédio que em 7 de novembro completou 50 anos. Com propriedade, a mídia nacional repercutiu largamente a data e trouxe a todos o nome da arquiteta Lina Bo Bardi autora do feliz projeto: a grande caixa de concreto e vidro suspensa sobre uma praça – o famoso “vão livre do Masp” – em duas vigas que se apoiam em quatro parrudos pilares, estrutura ressaltada pela pintura em vermelho, mostrando concepção arrojada e exposta sem subterfúgios.

Construção do MASP. Fonte: SP em Foco.No dia a dia de sua profissão os engenheiros e a própria engenharia costumam ser esquecidos, ou o que é pior, nem chegam a ser lembrados. Pergunto ao leitor: se quando com um toque de mão você afasta a escuridão que o incomoda; se quando você usa a água potável que jorra fácil da torneira; se quando você sacia a fome com refeição adequada; se quando você conduz seu automóvel ou faz uma viagem de avião; se quando sua saúde é restaurada por meio de equipamentos sofisticados que o médico utiliza você pensa nos engenheiros que estão por trás de tudo isso? Peço-lhe que faça um exercício de 30 segundos e procure descobrir em que os engenheiros contribuem no seu cotidiano. De tão presentes são suas artes que eles ficam invisíveis, não é? Contudo, há casos singulares em que esquecer o engenheiro pode significar marcada injustiça.

Senti que alguém não apareceu nas lembranças justas e adequadas nos festejos do Masp: o engenheiro que deu resistência e estabilidade àquele prédio, o que não foi um feito simplório. A memória do grande e saudoso engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz não foi convidada para as comemorações. Sabem os arquitetos de obras monumentais, como esta, sabem os projetistas das estruturas, que nessas obras a proposta arquitetônica vai sendo ajustada, pari passu, com a viabilidade estrutural, com o especialista da área. No projeto que se comenta, é de se supor as muitas horas consumidas em discussões técnicas entre Lina Bardi e o engenheiro Figueiredo Ferraz, o que viabilizou a arrojada estrutura em tecnologia avançada na época e que é, até hoje, bastante sofisticada.

Os processos de execução daquele tipo de estrutura – concreto protendido – eram objeto de pagamento de royalties, compra de equipamentos e de peças estrangeiras. O notável engenheiro, que deixou sua competente marca em milhares de estruturas por todo o país, Professor Catedrático da Escola Politécnica da USP, desenvolveu processo próprio nesse tipo de construção, que utilizou também na obra do Masp. O processo criado foi visto com admiração pela coragem do profissional e gerou alguma polêmica no meio profissional.

Já docente da UnB, fui encaminhado para formação em pesquisa na área de estruturas e posterior elaboração e defesa de tese no Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Portugal. Em 1970, para compor a banca examinadora, o LNEC convidou o destacado brasileiro Professor Figueiredo Ferraz, ocasião em que o pude conhecer e que tive que enfrentar o temido examinador de concursos acadêmicos e de teses.

Em 1971, o engenheiro tornou-se, pela sua competência, espírito público e probidade prefeito de São Paulo. Até hoje é lembrado, para além dos êxitos da sua administração, por ter dito que “São Paulo precisa parar de crescer”.

O engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz não foi mencionado na comemoração do jubileu de ouro do MASP. Como engenheiro ele saberia entender! Como engenheiro, eu não poderia deixar de fazer este registro.

Crônicas da Madrugada. Danilo – Nov.2018