Imprimir

Para não repetirmos as perplexidades que nos assolaram sobre as “jornadas de junho” de 2013 devemos analisar a paralisação dos caminhoneiros de uma maneira esclarecida e informada.

O movimento, que surpreendeu a todos, foi um protesto e uma resistência à situação escabrosa da economia e, em particular, à política rentista e internacionalizada de preços da Petrobrás. A luta dos caminhoneiros contra os sucessivos e escorchantes aumentos do preço do diesel insere-se na luta de resistência de todos os trabalhadores contra a vigência da lei trabalhista celerada e contra a perda de salário e de renda; merece apoio.

A própria conjuntura econômica travada e regressiva encontrou no setor de caminhões (tanto a fabricação quanto as vendas com crédito) um dos poucos elementos de retomada; isto levou a que a frota ficasse superdimensionada em uma situação geral de desemprego e de estrangulamento produtivo, pressionando os caminhoneiros com as despesas crescentes de combustíveis, com os rigores da concorrência e as exigências dos bancos e das empresas.

Acresce ainda o acelerado processo de “uberização” do setor; calcula-se que em dez anos a taxa de autônomos individuais tenha chegado a 50%, explorados e superexplorados pelos magnatas do transporte e do comércio.

Esses trabalhadores utilizam usualmente as redes sociais eletrônicas em seu cotidiano, com a experiência anterior de radioamadores. Isso explica, em parte, o caráter intempestivo, forte, disseminado e horizontal do movimento, sem comando prévio, efetivo, centralizado e visível.

O movimento sindical dos trabalhadores apoiou a manifestação com posições individuais de dirigentes e coletivas de entidades com força de representação. Reforçaram o alcance da luta que, além da reivindicação específica, apontava os descalabros da economia e a política de preços da Petrobrás como os alvos prioritários. Ao mesmo tempo em que assinalaram também as dificuldades do povo trabalhador com o aumento do preço dos bujões de gás, as direções indicaram como saída estratégica da crise (coisa impensável para os atuais detentores do poder) a superação do modelo rentista da economia e a retomada do desenvolvimento produtivo.

A experiência sindical em solucionar problemas deve ser agora mobilizada para ajudar na superação da crise juntamente com todos aqueles que não insistem em alternativas que pioram o quadro econômico e cortejam o autoritarismo antidemocrático.


João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical da FNE