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A previsão de um feliz 2017 é muito difícil de ser feita. Se alguém a faz, esconde uma ponta de hipocrisia.

A recessão é forte e apenas um pudor midiático esconde sua verdadeira face depressiva. O desemprego continua crescente, os salários perdem para a inflação renitente e o colchão social se esgarça.

No fim do ano passado o governo anunciou algumas medidas para tentar recauchutá-lo. Refiro-me, por exemplo, ao acesso dos trabalhadores às suas contas inativas do FGTS.

Cada Sindicato deve, independentemente de seu julgamento sobre a intenção do governo e sobre o alcance da medida, ajudar os trabalhadores de sua base (filiados, antigos filiados, não filiados e desempregados) a garantir, com presteza e correção, o benefício.

Leve-se em conta que a alta rotatividade e o período anterior de formalização dos empregos fizeram com que os trabalhadores “rodassem”, dentro e fora de sua categoria original.

Com o quadro recessivo e o previsível esgotamento da capacidade de endividamento dos trabalhadores, a utilização mais provável desses recursos adicionais deve ser, de imediato, o pagamento de dívidas e não a circulação do dinheiro em compras novas.

Registre-se, mais uma vez, que na situação hegemônica da bancolândia e do rentismo, estes setores sempre saem ganhando, mesmo quando o trabalhador é contemplado (algo parecido com o que acontece no crédito consignado).

Mas, um risco adicional assombra os trabalhadores em 2017: o risco da divisão do movimento sindical, que dificultará o êxito de sua resistência nas mobilizações e no Congresso Nacional e poderá oferecer ao barata-voa da política os pretextos para piorar ainda mais as reformas pretendidas – e encaminhadas – pelo governo.

A convicção solitária e a precipitação não serão nunca garantia de nada, muito menos de acerto.

Assim como o povo recomenda para uma mulher recém-parida, recomenda-se para todo dirigente sindical cautela e caldo de galinha, que não fazem mal a ninguém.

 

João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical da FNE